quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Tecnomagia: tecnologias de si e se vendo em rede

Utilizamos a linguagem em diferentes níveis, em diferentes configurações, com diferentes objetivos o tempo todo.

Ora para falar de algo, ora para refletir sobre o próprio falar.
Metalinguagem. Entrar nesse nível e se perceber, perceber a si como aquele que fala é forma de se conhecer, de colocar em perspectiva visões, hábitos, processos, rituais.

A tecnologia e a quantidade enorme de informação sobre como falamos, como conversamos, como fazemos redes, como nos articulamos abre um campo enorme de exploração para se ver. É um tema que venho pesquisando cada vez mais e utilizando alguns recursos para isso.

A imagem abaixo é da lista de email do projeto Telecentros.BR, com dados de 3 meses de conversa por lá.
Muito menos do que uma forma de controle, a imagem tem o efeito de levar a quem a vê e participa da lista a refletir sobre o seu fazer em rede naquele contexto. Mostrei para o pessoal aqui do lab, que faz parte da lista.

As impressões de quem se vê refletido ali são sempre interessantes, trazendo a dimensão do que fez, do que viu o outro fazer, de como se remete ao seu fazer para refletir o como fez.

Quero documentar melhor essas impressões, mas os rascunhos vou anotando por aqui:

Conversação entre os polos da Rede de Formação - 3 meses - Telecentros.BR

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Quantidade de informação e consciência

Uma questão vem me pegando nos últimos tempos é a relação com a dinâmica e a estrutura das informações que lidamos no cotidiano e o potencial que temos de refletir sobre como nos relacionamos com isso.

  • Olhar para isso e dar conta de produzir pequenas sínteses de como e do que lidamos seria um caminho interessante de consciência de si?
  • Serviria como uma espécie de analisador de si o potencial que temos de nos percebermos através da maneira/temas que lidamos?
Entender essa possibilidade a partir de um analisador, me parece um caminho interessante de pensamento. Dá para pensar no analisador como algo que produza algum tipo de ruptura em nossa maneira cotidiana de lidar com as coisas. Acontecimentos reveladores, catalisadores.  É algo que produz análise.

Identificar padrões de si e de vínculos que estabelecemos socialmente, que construímos nas estruturas e dinâmicas de conversação, produção e uso da informação pode funcionar como uma possibilidde de ruptura em nossa maneira cotidiana de lidar com as coisas?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

2.5 anos de Rede HumanizaSUS - a rede em movimento

Hoje, apresentei um estudo inicial que fizemos sobre a dinâmica da Rede Humaniza SUS em seus 2.5 anos de existência.

Pude experimentar uma série de recursos de análise, síntese e comparação que fui aprendendo nos últimos meses. O estudo ficou muito interessante e, mais interessante ainda, vou apresentar para o editores da Rede, que se encontram reunidos aqui na Escola do Futuro para seu 3º Encontro. Ao longo do tempo, fomos editando alguns estudos e deixando público na página de estatísticas do projeto. Deixar público esses dados é parte fundamental da estratégia de transparência que a própria rede se propõe a ter. Além de criar algumas bases históricas e de referência que podem ser úteis para interessados no estudo das redes, dados que hoje ainda são muito raros, ainda mais se tratando de movimentos sociais e Brasil.

Coloco aqui a apresentação de hoje, e destaco os principais pontos que foram muito bacanas na conversa com os editores:


  • a dinâmica de crescimento da rede e sua relação com a lista de email;
  • a estrutura da rede nos estados;
  • a forma da rede em geral, mostrando que funciona como um grande monobloco, tendo um alto nível de centralização e não gerando subgrupos de suas conversas. A forte segmentação de interesse dos participantes, sem dúvida, é um elemento que ajuda a entender isso;
  • o fato dos posts mais acessados não terem relação com os mais votados/comentados. Ocupar palavras-chave de relevância no título dos posts é uma maneira de ocupar espaço, de levar uma mensagem que tenha maior relação com a militância da própria rede. Um ambiente para ser construído.
E segue o trem!


terça-feira, 7 de setembro de 2010

feedparser e tratando metadados

Gerar metadados é uma etapa fundamental para permitir que novos serviços de remixagem de dados possam ser desenvolvidos. No entanto, conseguir ler esses metadados e tratá-los de forma a termos possibilidades de agregar campos, processá-los, rodar diferentes algoritmos de filtragem, como filtragem colaborativa, por exemplo, é um passo a mais que precisa ser dado.

Tenho brincado ultimamente com algumas formas de tratar esses dados. Uma das mais formas mais fáceis que tenho encontrado e bem úteis tem sido rodar algumas experiências em Python. Nunca fui um usuário Python, sendo que minha experiência com programação sempre foi mais na linha do software básico, rodando C/C++, Pascal e por aí vai. Tenho gostado do Python, pela simplicidade e facilidade com que algumas provas de conceito podem ser construídas. Agilidade na hora de exploração de uma ideia é a diferença, muitas vezes, entre o que pode te fazer continuar e o que pode te fazer desanimar.

Uma boa biblioteca que comecei a testar hoje para dar conta de coletar e fazer alguns testes com metadados é a Universal Feed Parser. É uma lib simples, ágil e que dá para testar uma série de coisas importantes para o momento em que estou:

  • qual a estrutura de um conjunto de metadados;
  • como separar os campos;
  • que tipologia os diferentes vocabulários geram (Atom, RSS, DublinCore, SIOC, etc...).
A documentação do módulo também é bem bacana, dando alguns exemplos simples e que facilitam testar nos nossos próprios feeds. Instalar a lib é bem simples, só colocar o arquivo .py no diretório do Python e começar a testar no interpretador de comandos. 

Fiz alguns testes com feeds do meu blog, do metareciclagem e com a api para websemântica que o Felipe instalou hoje no Drupal do MetaReciclagem. 

Promissor! ;-)

mapeando conceitos: conversações virando relações



mapeando conversas dos Telecentros que vão virando relações e conceitos para o programa de formação do projeto. Mais do que o que estamos fazendo, o que me interessa é o como. Refletindo processos de assinatura coletiva. Fino!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SIOC (Semantically-Interlinked Online Communities), Drupal e avançando nas metáforas de redes

Já faz algumas meses que tenho entranhado mais a fundo nas pesquisas sobre metadados e o impacto que isso tem em nossa experiência de navegação e construção de comum na web.

A ideia toda gira em torno de como usamos os recursos online para nos conectarmos ao que efetivamente nos interessa, seja lá o que for. Com a explosão informacional que há décadas aumenta nossa entropia e o caos dos arranjos organizacionais dos dados, encontrar o comum e se conectar nas conversações que nos interessam é um desafio. Mais do que isso, relacionar conversações interessantes com "objetos/conteúdos"  interessantes que são produzidos todos os dias na web não é tarefa fácil.

A capacidade de construção de comum é ampliada quando nos identificamos por causas, visões, ideias, abordagens e formas de pensar. Sistemas de informação, em geral, acabando virando silos de informação, dificultando, quando não impossibilitando a remixagem dos dados que são produzidos, gerados e articulados em espaços de conversação.

Remixar os dados é praticamente uma condição fundamental para permitir novas possibilidades de navegação na informação. A construção da relevância, mais do que a relevância dos links, é algo em que ainda engatinhamos na web. As bases de dados atuais e nossos sistemas mais comuns de construção de redes sociais são extremamente limitados nas possibilidades de remixagem de dados que permitem.

Limitar o remixa dos dados é limitar:

  • novas possibilidades de serviços que sequer pensamos ainda;
  • identificação de padrões e percepção de movimentos que emergem na rede, indicando tendências e dinâmicas que não poderiam ser percebidas de outra forma;
  • transparência e liberdade;
  • novas possibilidades de ativismo, que poderia reduzir a desinformação geral, produzindo sínteses, evidenciando movimentos políticos, dinâmicas de articulação e uso de recursos públicos, culturais. 
Sem dúvida, podemos pensar em muitas outras possibilidades que o remix poderia ampliar o que podemos fazer hoje. 

Há vários casos de aplicação de princípios da websemântica que buscam tratar algumas das questões acima. É interessante perceber usos como melhorias em sistemas de busca, caso do Yahoo, e mesmo o uso num sistema de interface com usuário, como é o caso do KDE 4.0

No entanto, o que mais me chamou atenção e que vejo que vem bem ao encontro do que ando pensando nas últimas semanas é o projeto SIOC (Semantically-Interlinked Online Communities). A descrição da página do projeto o apresenta como sendo uma proposta de uma ontologia (um vocabulário) para representar dados de interações sociais na rede em formato RDF. A ontologia completa do SIOC tá disponível aqui! Veja abaixo como ela tá organizada:


Esse infográfico apresenta como os dados poderiam ser descritos. Por exemplo, um post X foi criado pelo usuário Y nos tópicos K e W, mais informações podem ser encontradas em www.url.exemplo.br e o post tem comentários que podem ser acessados em www.url.exemplo.br/comentarios1.  

Há uma lista bem interessante de onde o SIOC tem sido usado. Em aplicações com o Twitter, Wordpress, Drupal e por aí vai. Para Drupal (veja aqui estatísticas de uso do módulo), o projeto permite a seguinte dinâmica:

Site -> host_of -> Forum -> container_of -> Post -> has_creator -> User
Posts have reply Posts, and Forums can be parents of other Forums.
Em tese, o isso significa? O que acontece no sistema de blogs e fóruns poderia ser descrito usando essa vocabulário. Teríamos a possibilidade de exportar metadados descrevendo essas relações, permitindo que diversos serviços de remixagem pudessem ser feitos, incluindo novas maneiras de navegarmos nesses dados e criarmos visualizações de tendências, emergência de comuns. 
Segue aqui uma outra discussão bacana que rolou sobre isso na comunidade Drupal. Segue aqui um exemplo de como isso seria aplicado em RDF no Drupal 6.0:

    Drupal 6.0 released
    2008-02-13T014:42:00Z
   
       
   

    After one year of development we are ready to release Drupal 6.0 to the world. Thanks to the tireless work of the Drupal community, over 1,600 issues have been resolved during the Drupal 6.0 release cycle. These changes are...
   

   
   
   
       
       
       
   
A ontologia SIOC abre as conversações e as relações que são estabelecidas. Potencial enorme para diversas ações que poderíamos imaginar:
  • produção de taxonomias de recursos em sistemas de informação que poderiam ser descentralizados, distribuídos e navegáveis a partir unicamente dos metadados;
  • novos serviços de navegação nos metadados, gerando novas dinâmicas de visualização da informação;
  • consulta estruturada aos metadados, permitindo a produção de filtros, índices e uso de toda a estrutura de bancos de dados para navegar nos metadados descentralizados.
E segue o trem que tá começando a ficar quente a picada na mata! ;-)

produzindo comum ou o bodhissatva no metro!

dica direta da Rede Humaniza SUS:

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

da série vale a pena...

Introdução a web semântica...

CMS, websemântica e redes

As conversas sobre redes distribuídas sempre tiveram como pano de fundo, ao menos para mim, uma certa vontade de não depender tanto de um gerenciador de conteúdo (cms) para criar e ativar um espaço de conversações e colaboração entre pessoas.

Na época, fazia sentido ter um espaço de agregação, que pudesse puxar feeds de um monte de lugar e construir contextos que dessem sentido para esses dados. Cheguei até a montar essa apresentação que levamos para o Fórum de Cultura Digital, 2009, na Cinemateca em São Paulo.

A agregação de RSS/Atom é um recurso fundamental para a experiência da web que temos hoje. Mas, tem fortes limites de estruturação dos dados e da forma como eles podem ser processados por pessoas e máquinas. Em tese, as possibilidades de remixagem desses dados são bastante primárias, pois apenas recebemos o conteúdo bruto. Qualquer processamento a partir dele, tem de ser feito manualmente.

Acontece que o que interessa numa rede não é o sistema onde ela roda, mas o fato do sistema oferecer uma padronização das interfaces de conversa e da forma de exibição das informações de forma que todos consigam ter o mesmo sistema de organização dos dados. Conseguir ler as informações que alguém posta e conseguir interagir com elas é um critério mínimo para que as pessoas conversem sobre o que lhes interessa.

No entanto, muitas possibilidades de remixagem desses dados, produção de novos usos que sequer ainda pensamos quais seriam ficam travadas no acesso aos dados. Nem falo aqui tanto de usos "gerenciais", mas de usos que sirvam para aproximar pessoas, de formas de nos encontrarmos, de encontrarmos ideias que nos fazem sentido e de conseguirmos organizar/encontrar conversas que mais fazem sentido. Na real, reduzir um pouco a entropia, aumentando a caordem dos fluxos.

Tem bastante gente interessante trabalhando com a tal da websemântica. Alguns textos interessantes dão uma  ideia do potencial que isso tem.

A questão-chave que vejo nisso: acontece que numa web com dados mais estruturados, não precisamos mais de sistemas de gerenciamento de conteúdo. A própria web seria isso. Não preciso mais de apis para qualquer tipo de rede social, quando os protocolos que compartilham recursos na web são interoperáveis e conversam com qualquer tipo de servidor. Posso ler os dados, as conversas, encontrar pessoas, descobrir grupos, publicar ideias, articular projetos, enfim, tudo isso, em tese, sem a necessidade de um sistema de informação formal para tal.

Parece utopia, né? Parece uma coisa meio complexa e abstrata demais! Enfim, acho que ainda estamos engatinhando nessas possibilidades e, de fato, estamos falando de uma visão que muda muito a cultura de como temos pensado a web até agora. O que, de fato, mais me estimula como possibilidade do que necessariamente limita. Sem dúvida, como quase todas as mudanças de visão sobre uma tecnologia, há uma curva de aprendizado, amadurecimento de padrões, novos serviços que são criados e comunidades que descobrem novas maneiras de usar a informação e experimentar possibilidades de relacionamentos que ainda não haviam sido pensadas.

Mas, acho que dá para exercitar um pouco mais isso com base nas pesquisas recentes. O que de fato me motivou a tudo isso foi:

  • comecei estudando sistemas de bibliotecas digitais federadas. Em tese, são sistemas de informação que coletam metadados publicados em bibliotecas digitais e formam uma base de metadados centralizada facilitando a pesquisa numa interface única. Sem dúvida, isso tem sérias limitações, pois mantém o servidor atualizado é o gargalo da ideia. No entanto, comecei a estudar o padrão Dublin Core de metadados e o protocolo OAI/PMH que faz a coleta de metadados nas bibliotecas digitais para montar a base integrada. 
  • entender os padrões de interoperabilidade que isso poderia gerar tem sido o trabalho do momento atual. No entanto, isso tem sérias limitações quando pensamos em relacionamentos de pessoas e não apenas a coleta de metadados de publicações de produção científica. 
  • logo, fez todo sentido abrir mais as pesquisas, entrar em outros protocolos e ver as questões de como os dados mais estruturados podiam abrir algumas interfaces interessantes e que poderiam facilitar a aproximação de pessoas.
  • bem, fui estudar FOAF, xmpp, RDF/XML e por aí vai... 
  • até bater na seguinte imagem de como a websemantica tá sendo pensada:

 E daí? Qual a vantagem disso?
 Vamos imaginar o seguinte:
  • eu publico uma URI sobre eu mesmo, contando quem sou eu, o que eu gosto, a quais outros "recursos" estou ligados. Os recursos podem ser projetos, ideias, marcas, universidades, movimentos, outras pessoas, etc, etc, etc..
  • o fato de publicar um recurso sobre isso (o que pode ser feito direto em arquivos no meu servidor ou em interfaces entre sistemas de informação, como o Drupal) eu gero toda uma camada de navegação e acesso aos meus dados que permitem várias formas de me encontrar e me remixar. Ex: todo mundo que publicou uma descrição de si dizendo que faz parte da mesma comunidade, que tem interesse nos mesmos tópicos, que trabalha nos mesmos lugares, que usa os mesmos serviços, etc, etc, etc. Infinitos recursos podem ser criados e podem agregar pessoas. 
  • ao publicar os recursos nos formatos RDF, tudo fica acessível para consulta SPARQL (uma espécie de sql para metadados RDF), permitindo várias possibilidades de cruzamentos de dados. Tudo isso pode ser feito via interface, sem necessidade de digitar uma linha de código. Em tese, novas interfaces de pesquisa e navegação nos dados são possíveis. 
  • subindo nas camadas, aplicações de conversação podem ser acopladas e se mantém agregadas pelo compartilhamento de URIs. Em tese, os sistemas de informação integrados se dissolvem na rede e os metadados interoperáveis permitem construirmos metasistemas em cima de metasistemas em um número infinito de camadas para além daquilo que podemos imaginar como tecnicamente possível hoje.
 vale experimentar? 
 próximos passos: começar a desenhar um piloto disso! ;-)

quando tenho medo

"Atrás da dureza há medo,
E se v. tocar o coração do medo,
encontrará tristeza ( que se torna mais e mais suave).
E se tocar a tristeza, encontrará o vasto céu azul."

Rick Fields