quinta-feira, 29 de julho de 2010

3 questões fundamentais do nosso tempo: referências, informação e ordem

Sinais interessantes podem ser lidos em várias instâncias de que as coisas estão mudando.
Até aí, que há de novo? Tudo tá sempre mudando, a vida nunca é estática e nos fluxos e refluxos nos reinventamos a cada dia.

Mas, parece que a mudança dos tempos que vivemos apontam vetores interessantes quando começamos a relacionar redes, problemas de conversação, explosão de informação, necessidade de encontrar ordem, angústia, o caos por simplesmente perceber que as formas tradicionais de se organizar o trabalho não funcionam mais e nada que conheçamos parece dar conta de oferecer novas perspectivas.

Que o trabalho e a forma como nos comunicamos vem mudando, também não tem nada de novo e isso tem sido dito de múltiplas maneiras a bons anos. Acredito que 3 questões fundamentais vêm pautando esses processos de mudanças:

  • medo, angústia da perder as referências, as certezas dos métodos e das formas que tradicionalmente sempre funcionaram. Toda a leva de metodologias rápidas e prontas, PMI, CRM, ERP, SAP, enfim... tudo o que criamos e desenvolvemos anos a fio para firmar certezas e ampliar nossa capacidade de previsão e organização da informação num mundo linear;
  • aumento exponencial de produção e acesso a informação, capacidade de estabelecer relações em rede, redefinições de identidade, de perfis que simplesmente não são possíveis de serem tratadas pelas lógicas tradicionais de organização. Hierarquias de tomadas de decisão, maneiras tradicionais de se pensar divisão de recursos, distribuição de poder e responsabilidades. Isso está mudando, queiramos ou não, e as lógicas tradicionais de gestão que tentam organizar isso colapsam em suas tentativas centralizadas, fechadas e lineares.
  • falta de conhecimento de outras possibilidades de se operar em meio ao caos e encontrar ordem. Dificuldade de operar sem um sentido de grupo, de coletivo e enorme dificuldade de saber como isso pode ser construído. Antigas referências de participação não dão conta. As pessoas mudaram, suas necessidades de participação são geracionais, suas visões do que é atuar em rede mudaram, suas necessidades de instâncias de distribuição de poder se agenciam em rede, querendo ou não. Não sabemos criar fluxos de organização disso.
 As organizações, as pessoas, grupos de trabalho, comunidades acabam dispersando e tendo enormes dificuldades para encontrarem sentido coletivo.

Se isso é um problema ou não, enfim, não creio que seja essa a questão. Acho que isso vai depender do olhar de quem observa ou não assim.

A questão que fica é, para onde José? Parece que fica a sensação de que temos a chave da porta, mas a porta já não há.

Alguns sinais interessantes parecem indicar traços de novas portas que podem ser construídas no fazer fazendo:
  • Novas tecnologias de conversação de grupos: Open Space, World Cafe, Investigação Apreciativa, etc...
  • Novas possibilidades de encontrar ordem nos fluxos da informação: Scale Free Networks, Power laws, Sistemas não-lineares, sistemas adaptativos, etc...
  • Novas possibilidades de organização em rede: a rede não como metáfora, mas como tendência de fluxo de informação. Abertura e disponibilização da informação em instâncias coletivas de decisão e conversação. Orçamentos abertos, decisões compartilhadas, alinhamentos coletivos. 
 São questões que parecem ainda de maneira dispersa, isoladas em muitos estudos e análises.
 Um desafio interessante e instigante é trabalhar a partir dessas 3 dimensões que, talvez, possam ser extremamente úteis quando se trata de encontrarmos novos caminhos e novas maneiras de estarmos juntos, não reduzindo e diminuindo a complexidade das tendências que vivemos, mas inventando novas formas de potencializá-las e reintegrá-las na produção de si.

Política em rede e a tal inclusão digital

A rede acaba onde há escassez de informação.
A rede morre onde pára a conversa.

Se o processo de inclusão digital se instaura na perspectiva de fomentar redes, de ampliar a densidade de conexão entre as pessoas e, por consequência, ampliar seu potencial de agenciamento coletivo, não faz sentido que a política do espaço seja pensada de maneira central. Não faz sentido que o monitor seja apenas um atendente. Exercitar a conversa, a tomada de decisões, a participação é exercício de autonomia e de ativação de redes.

É um contra-senso e mesmo um paradoxo. Deixar isso explícito na cara e mostrar onde o nervo dói, é algo que fica mais evidente a partir de uma proposta de política que se diz fomentar colaboração, ação em rede, etc...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

11º FISL - dia 23-07 - Conversando sobre Ecossistemas de conversação, Acervos Digitais e P2P

No meu segundo dia do FISL, o papo ficou mais voltado para em dois grandes eixos:
  • novas maneiras que podemos utilizar protocolos interoperáveis para conversarmos e disponibilizarmos conteúdo em rede;
  • como os projetos comunidades, artistas e projetos experimentais se articula em rede e se desenvolvem como na relação de demandas, verbas e projetos com o governo.
O primeiro papo do dia foi com a equipe técnica do projeto CERVO, pessoal ligado a equipe de Cultura Digital do José Murilo. Eles trouxeram o Juliano Serra, que é um pesquisador que acabou de defender seu doutorado com o tema "ANOTAÇÃO AUTOMÁTICA E RECOMENDAÇÃO PERSONALIZADA DE DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS - SISTEMA DOCUNB". O Juliano propôs uma experimentação interessante na tese dele: ao invés de utilizador um buscador para encontrar conteúdo na web, ele propôs que a partir da análise textual das falas disponíveis em um vídeo e de uma análise de palavras-chave em blogs relacionados a cinema, um robô iria propor um cruzamento de interesses e indicar os vídeos para os assinantes dos blogs. Enfim, achei bem interessante e com bastante sinergia no tipo de trabalho que eu tenho pesquisado e feito na parte das análises semânticas. Gostei do que ouvi e de como o Juliano tá experimentando isso. Eu fiz algumas colocações sobre o trabalho dele, principalmente como ele poderia extender isso para a perspectiva da análise de redes sociais, likando conteúdo com relações na rede e interfaceando com novas possibilidades do robô encontrar pessoas por indicações de pessoas que indicaram pessoas e por aí vai... Foi bacana o papo.

A galera do MinC tá com uma proposta muito interessante de evolução daquilo que rolava em muitas de nossas conversas nos idos de 2002/2003:  a idéia do Xemelê, que aliás voltou ao ar com o antigo wiki online. A arquitetura do que eles estão propondo está mais detalhada aqui!  Mas, a idéia geral deles é utilizar:
  • xmpp como protocolo de mensagens instantâneas e apoio do pubsub. O xmpp fará o papel de notificador dos conteúdos publicados conforme a correlação de assinantes interessados naquele tipo de recurso/conteúdo. Vale lembrar que o Gtalk usa o xmpp, ou seja, tem escala.
  • uso da biblioteca libstorage para a escolha do melhor servidor um documento fará upload. Ou seja, quem envia um arquivo não tem de se preocupar onde vai armazenar, o cliente pode escolher com base nos assinantes da rede qual o melhor servidor naquela situação. Uma vez feito o upload, todos os servidores são notificados, criando um compartilhamento a-lá p2p dos recursos disponíveis na rede.
Sugeri que um bom serviço que poderia rodar em cima disso seria ter acesso a rede de relações entre usuários e conteúdos, por adesão aos serviços e compartilhamento. Isso realmente poderia dar uma outra dinâmica de conversação e cruzamento de dados. Enfim, vale acompanhar e ficar de olho no que estão montando.

Depois dessa boa conversa, sentei com o pessoal do Estúdio Livre que fez um debate sobre seu modelo de comunidade online, como poderiam se organizar, como avançar na conversa em rede, enfim. A idéia era compartilhar um pouco da experiência do MetaReciclagem e de como tínhamos nos feito as mesmas questões e encontrado respostas diferentes. Questões como o uso do nome, quem participa, quem tá fora, coisas importantes de novas maneiras de nos organizarmos em rede e que não tem respostas óbvias em nenhum caso. Um mundo novo sendo construído, com novas soluções a serem experimentadas, compartilhadas e documentadas.

Para fechar o dia, fui participar da mesa do RedeLabs, a convite do ff.  Caos total, dislexia, dissonância, estruturas dissipativas em ação. Foi divertido. Falei de Caos, da necessidade de desordem para emergência de ordem, de como a rede não conecta nas estruturas de demandas dos editais e de como um estamos no período de habitar os próprios paradoxos enquanto ainda aguardamos surgir novas possibilidades de ordem para novas maneiras de nos organizarmos. Ainda não sabemos fazer isso, principalmente na relação da experimentação artística e da tecnologia. Tudo novo de novo. Enfim, paciência e experimentação, não no produto, mas na forma... ;-)

Fim de FISL pra mim. Contente, feliz e satisfeito dos papos, dos fluxos e dos contatos. E vamo em frente.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

11º FISL - dia 22-07 - Conversando sobre Telecentros.BR, Metareciclagem, Dados Livres e Acervos Digitais

Fiz uma boa viagem na noite anterior. Sair tarde de São Paulo e viajar as 22:30 foi uma boa escolha: aeroporto vazio, pouca gente no saguão, vôo mais tranquilo. Bastante chuva em Porto Alegre, aeroporto quase fecha na hora do pouso, mas tudo ok. Cá cheguei. Direto pro hotel, a programação do dia seguinte parecia boa e acabou sendo bem melhor do que eu esperava.

Chego no FISL e montei uma apresentação baseada no manual da Rede de Formação, para falar um pouco sobre as linhas gerais, os principais desafios e como imaginamos que a rede pode criar propostas interessantes para a formação dos monitores do programa Telecentros.BR. Feito isso, fui dar uma rodada no espaço, visitar os estandes, encontrar uma boa moçada da antiga. Boas conversas de corredor e o ritmo aquecendo.

Entre na primeira palestra do dia "Educação e software livre: opções nas nuvens e nas máquinas". Um grupo de professores apresentando alguns recursos que utilizavam em salas de aula e em projetos piloto com professores. Gostei de ver uma apresentação mais detalhada sobre o software GCompris. Usei ele a alguns anos atrás, quando a gente ainda brincava com as possibilidades de softwares que uma distribuição Linux para o MetaReciclagem poderiam compor. O software avançou bastante, inclusive propondo uma espécie de linguagem de programação muito simples, na linha do Logo, que me pareceu interessante para o desenvolvimento de oficinas e projetos em ações de Telecentros. Vale a pena olhar com mais calma.

Depois, na mesma sala, veio a fala do Markun e da Daniela, sobre "Dados abertos e cultura livre". Bacana conhecer melhor o trabalho deles. Contaram o processo de criação do clone do Blog do Planalto, do Transparência hackday e alguns outros exemplos de projetos interessantes: SACSP, tr3e, georeferenciamento EJA, datagovsp.drupalgardens.com, data.gov, Open Data Catalogue (Vancouver), Apps for Democracy, Big Apps (NYC). Apresentaram algumas referências em que se basearam para pensar sobre dados abertos: blog.sunlightfoundation.org/10measurementsfortransparency e resource.org/8principles. Comentaram um pouco sobre a iniciativa do Governo de São Paulo, que depois da fase beta saiu do ar: governoaberto.sp.gov.br. Os próximos passos que estão pensando para o seu trabalho é criar uma plataforma que agregue iniciativas de dados abertos no Brasil, montar um sistema de crowdsourcing para fiscalizar obras para a Copa de 2014 e propor um programa de micro-bolsas de pesquisa na área. Conversam pela lista, que pode ser acessada em: thacker.com.br





Dando uma nova rodada no estandes, encontrei o pessoal dos Maristas, que fazem o trabalho muito legal de Robótica Livre e MetaReciclagem. Peguei um depoimento muito bacana de um oficineiro contando sobre sua influência de MetaArte no trabalho dos metarecicleiros aqui de Sampa. Biscoito fino!




Saindo da conversa, encontrei a Wanny do Ministério do Planejamento e o Global, que hoje tá trabalhando na Cobra Tecnologia. Além deles, tava a Rossana do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e fizemos uma rodada de conversa sobre a mesa que faríamos do Telecentros.BR, logo mais. Conversa boa, gostei muito da fala da Rossana sobre as questões relacionadas as áreas rurais que vão receber os telecentros. Peguei alguns depoimentos importantes dela para compor o vídeo que estamos planejamento fazer para aquecer algumas conversas no Seminário da Rede de Formação em agosto.

As 14:00, fomos para o prédio 09 e rolou a mesa Inclusão Digital e Software Livre. Pouco tempo, 1 hora, para 5 pessoas falarem e espaço para debate. Enfim, tempo muito curto, tivemos menos de 10 minutos para cada fala. Deu para destacar os principais desafios da Rede de Formação dos Telecentros: diversidade de políticas de inclusão digital, de estruturas e modelos de telecentro. Não deu tempo para abrir para debate e poder ouvir um pouco mais de outras visões para além dos representantes do programa. De qualquer forma, Rossa (MDA), eu e a Wanny (MPOG). Saímos dali e fomos almoçar. Boas conversas sobre as principais preocupações do programa. O Global me contou de algumas experiências que têm feito de forma voluntária com o Moodle, propondo uma formação orientada ao desenvolvimento de software livre. Gostei de algumas idéias dele, principalmente sobre suas preocupações com o perfil dos tutores que vão compor o projeto. Realmente, é um ponto delicado e que vale a pena muito carinho no seminário de formação.




Saindo do almoço, peguei alguns depoimentos em vídeo da Rossana, que são ouro para ampliar nossa visão do programa. Vale ver e refletir um pouco, principalmente no impacto que a chegada de bolsas têm em espaços que se regulam por uma outra lógica: podem gerar competição e desagregar movimentos. As saídas que ela propõe são interessantes.

Dali, parti dei mais uma rodada na área de estandes e encontrei o Metal, que tá trabalhando em Minas novamente e tá envolvido no projeto Cervo, do Minc. Conversamos quase uma hora e ele começou a me mostrar algumas especificações técnicas do projeto. Gostei muito do que vi e enxergo muitas possibilidades interessantes de construção de serviços de uso desses dados, principalmente nos estudo de suas relações e nas possibilidades de navegação entre elas. O Cervo tem uma arquitetura flexível para compartilhamento de acervos digitais de maneira descentralizada baseada em metadados. Tem bastante semelhança, em alguns pontos, com a estrutura de harvester das federações de bibliotecas digitais, mas são mais flexíveis e podem escalar de maneira mais livre. Vale a pena acompanhar isso e dar alguns pitacos na comunidade.

No próprio estande, encontrei o Eloir e o Alexandre, os dois dos Maristas e que são do Polo Sul, da Rede de Formação. Sentamos para conversar um pouco sobre como eles estão, as principais idéias que gostariam de ver contempladas no seminário e suas principais questões em relação ao programa. A conversa foi ótima e rendeu algumas boas e importantes ideias para o projeto. Vamos lá:
    1. precisamos nos preocupar sobre como a formação vai tratar questões operacionais e de suporte técnico ao funcionamento do telecentro. Muitos pontos podem ser resolvidos pelo próprio monitor, o que pode agilizar manter o telecentro operacional e mais máquinas a disposição dos usuários;
    2. como tornar o telecentro útil para a comunidade. Como o telecentro vai entrar nos corações e mentes das pessoas? Mapeamento da realidade local;
     3. é importante a formação ter uma parte feijão com arroz, mais conteudista. Muitos monitores vão querer isso;
    4. como vamos lidar com possíveis parceiros na produção de conteúdo para a formação? Por exemplo, se uma empresa quiser disponibilizar um conteúdo, como isso pode ser operacionalizado?
    5. conversamos muito sobre como se dará a contratação dos Tutores. A questão da remuneração dos tutores, seu modelo de contratação e  podemos fazer a formação desse tutor. O Polo Sul vai contratar 44 tutores em regime CLT. Estão pensando em encontrar alguns parceiros que possam oferecer cursos de formação extra para os tutores, como uma forma de ampliar sua motivação no projeto. Conversei com eles de propormos alguns encontros presenciais entre os tutores, quando nossa equipe vier para as formações presenciais. Gostaram bastante da idéia e sugeriram que podíamos fazer isso a cada 3 ou 4 meses, fazendo ciclos de conversas e revezamento para ir consolidando e compartilhando visões. Estão bastante preocupados em como manter o tutor motivado e como evitar o rodízio de tutores. Acham que o valor que será pago aos tutores é pouco, o que é preocupante pelo fato do tutor poder tratar o trabalho como algo secundário em suas ocupações. Acham fundamental problematizar isso no Seminário com os outros Polos. Por contratarem CLT, pensam em chamar pessoas que já passaram por seus cursos de formação, que estão envolvidos com os CRCs (Centros de Recondicionamento de Computadores) e que já têm envolvimento com inclusão digital. Acham preocupante a contratação de estagiários que não possuem nenhuma relação com projetos de telecentros.
    6. conversamos um pouco sobre o repositório de conteúdos de iniciativas de formação em inclusão digital. Na conversa, surgiu uma idéia muito interessante para criarmos um processo de moderação coletiva da sugestão de novos conteúdos. Os passos disso seriam os seguintes:
        - no site do projeto, haveria um espaço para qualquer pessoa na Internet cadastrar um material ou conteúdo qualquer que queira disponibilizar para a formação do programa Telecentros.BR;
        - esse conteúdo entraria numa fila de moderação, que seria acessível apenas por representantes dos Polos Regionais, Nacional e coordenação da Rede de Formação do MPOG;
        - essa fila de moderação funcionaria num modelo de votação, onde os Polos votariam se consideram o conteúdo adequado para ser parte da Rede de Formação. Se o conteúdo recebesse acima de X votos, ele seria disponibilizado como uma oferta "homologada" pelo programa e ficaria disponível para acesso aos monitores. Além disso, conversamos de ranquear as ofertas aprovadas pelo número de downloads dos monitores, claramente construindo um sistema de reputação e qualificação pelo uso dos monitores do programa. Adoram a idéia e acharam que isso deixaria o projeto muito mais interessante e inteligentge. Acredito realmente que construir essa fila de moderação e esse sistema de reputação de conteúdo pode funcionar como um bom fluxo para a construção de um repositório de objetos de formação extremamente interessante e potente.

Terminamos nosso ótimo papo e senti que ali aquecemos uma boa discussão para encaminhar no Seminário. Enfim, sinto que estamos começando certo. Depois, fui para uma boa conversa que estava sendo provocada pela turma da Cultura Digital do MinC - "programa de apoio ao desenvolvimento de software livre". Uma boa galera conhecida por ali e uma interessante discussão de como o MinC poderia fomentar editais que apoiassem a produção de software livre. Ali, fiquei sabendo de uma iniciativa interessante de formação que a Escola Superior de Redes estava construindo para apoiar o Suporte Técnico em salas de informatica do Proinfo. Fui atrás disso e gostei bastante do material. Uma boa referência de apoio aos monitores. Sobre a conversa do modelo de desenvolvimento, acho bem acertada a iniciativa do MinC. Sugeri que pudessem contemplar nesse edital não apenas a descentralização do modelo de desenvolvimento, mas também do modelo de testes e aprovação dos códigos entregues, além de incentivar processos de formação que ajudassem a produtores de mídias livres a transformarem suas demandas em propostas que pudessem ser mais facilmenter convertidas em demandas de desenvolvimento de software livre.

E para finalizar o dia, sentei num papo com o TC, da Casa de Cultura Tainã, que representam 80 telecentros no Telecentros.BR. Fazem parte da rede Mocambos (mocambos.net) e possuem algumas demandas muito específica de conteúdos. Um ponto que me saltou na conversa com o TC foi o fato de que vão haver iniciativas que não serão apenas regionais, ou seja, algumas iniciativas que vão ter de articular com diferentes polos regionais. Seria interessante termos isso mapeado e pensar em como articular com essas iniciativas que têm fortes influências culturais regionais, de gênero, de movimentos tradicionais da cultura popular. Seria importante conhecermos isso e conduzir uma discussão no Seminário de como contemplar essa diversidade na oferta de conteúdos do programa de formação.

Bem, para o primeiro dia rendeu um bocado de ideias e conversas. Fiquei bastante animado e empolgado com os papos por aqui e ampliei a crença de que precisamos articular cada vez mais com essas diferentes visões de inclusão digital, criando instâncias de conversa e representatividade, que amplie e dê significado a uma assinatura coletiva dessa proposta do programa de formação.

E segue o trem...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Me organizando

Vejo 3 grandes momentos ocorrendo simultaneamente nesse período de projetos e pesquisas, que têm interessado cada vez mais.

  1. Temos tido conversas que sintetizam processos e nomeiam questões que sempre me foram extremamente difíceis de nomear. Conseguir falar das nossas diferenças de abordagem, da forma como vemos diferentes redes, diferentes maneiras de descrever nossas experiências e poder encontrar pontos de contato ou não, é algo fundamental. É interessante observar que essas conversas tem se acentuado num bom momento, onde outros encontros de síntese tem possibilitado trabalharmos em nossas referências, de maneira a nos encontrarmos no fazer de nossa produção. Dois momentos que valem a pena pontuar aqui:
    1. O curso de Redes Sociais que faremos no Barco. Conversar sobre o curso, nos assistirmos e nos vermos em ação juntos tem uma importância fundamental no compartilhar referências, no entender de onde cada um tá falando.
    2. A vinda para o FISL para conversar sobre a Rede de Formação do programa Telecentros.BR. A produção de visão de aprendizagem, que possa ser aberta o suficiente para contemplar uma construção em rede, além de se justificar como uma proposta de um curso e garanta conteúdos de referência que orientem possibilidades é um equilíbrio fino, interessante e desafiador de fazer. Está em pleno processo.
  2.  Tenho me debruçado forte sobre os bancos de dados de 2 anos e meio da Rede Humaniza SUS. Sem dúvida, é maior banco de dados estruturado de uma rede social que já tive acesso, o que abre possibilidades muito interessantes de estudo e teste de hipóteses. Um verdadeiro laboratório de flutuações, links, encontros, conversas, emergência de padrões e fluxos de auto-organização. Esse estudo abre e pode consolidar maneiras interessantes de encontrar ordem e propor ações de ativação para uma rede.
  3. Estou me voltando para consolidar meus estudos de rede para a minha qualificação no doutorado. Sintetizar o que tenho lido nos últimos 2 anos e fazer uma revisão de tudo isso é um momento singular. As ferramentas, os algoritmos, as possibilidades de visualização, as possibilidades de estudo de como surge ordem em meio aos links, do movimento das estruturas, da dinâmica das redes começam a fazer mais sentido nesse quadro de conversas e pesquisas. É uma sensação interessante de conseguir descrever coisas que antes não se conectavam. 
Enfim, ainda num é o momento de aparecer todos os resultados e deixar claro todas as visões. Tá em processo. Peças do quebra cabeça começam a se juntar e uma espécie de contorno, de possibilidade começa a despontar. 

Tempos de se organizar.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A sensação de controle e o reposicionamento das redes

Muito se fala hoje em dia sobre formas e possibilidades de se controlar redes, de se prever seu comportamento, de mapear suas relações para que possamos ter maneiras de fazer uma gestão mais atuante na complexidade das redes.
Já faz algum tempo que venho discutindo isso e questionando a impossibilidade que é utilizar ferramentas de mapeamento e gestão para se controlar redes: isso definitivamente não funciona e essas metodologias não servem para isso.

Mas, hoje encontrei uma citação chave para essa visão a respeito do que é essa tal sensação e necessidade de controle que circula na sociedade, nos grupos sociais e nas organizações. O medo de não conseguir pensar de outra maneira e a própria impossibilidade de refletir de outras formas leva e enquadra o raciocínio em níveis de contingência do pensamento que, sem dúvida, estão por detrás da irresponsabilidade muitas "boas iniciativas" de gestão que podemos observar nas empresas, governos, ongs, etc.

Cito aqui J. Doyne Farmer:

"Para prever a trajetória de algo, você precisa compreender todos os detalhes e monitorar cada detalhe. Isso é como resolver o problema do terrorismo pela vigilância e pela segurança. Estabeleça um sistema que detecte e siga cada terrorista e impeça-os de agir. Esta é uma solução tentadora, porque é fácil construir um consenso político para esse fim, e isto envolve tecnologia, que é algo em que nós somos bons. Mas, se há algo que aprendi em meus vinte e cinco anos de tentativas de predizer sistemas caóticos, é que isto é muito difícil, e é basicamente impossível de fazê-lo bem."

Mapeamentos são inúteis como foram de controle, pois sempre vão criar caixas de ressonâncias que detectam o sintoma conforme a causa que conseguem enxergar. A questão não está aí.

O ponto chave dessa conversa é a linguagem e a metalinguagem.
Ampliamos nosso potencial de rede, nosso adensamento e conversação quando conseguimos abrir novos espaços para conversarmos sobre como conversamos. Aí o mapeamento nos ajuda como estratégia de dobra, de ampliação da consciência do grupo a respeito de seus próprios temas, questões e filtros de relevância que surgem das contingências de sua própria linguagem.

Pra que ERP, CRM, SAP? Se mercados são conversações, a gestão se faz na subjetividade, no entre, na capacidade de operar na complexidade e não na capacidade de controlar e conseguir realizar previsões.

Visões do caos linguístico

"Aquilo a partir do qual um sistema se constrói, aquilo que é, assim,
anterior, posterior, exterior ao sistema simbólico, e que talvez o
sustente do começo ao fim, não pode encontrar sentido em um sistema
simbólico, a não ser para designá-lo por palavras que são furos de
linguagem, a não ser para significá-lo por imagens ou rituais que se
limitam a apontar aquilo que aponta e que, se ele se volta, só encontra
vazio."

“os coletivos também cosem, através da linguagem e de todos     os
sistemas simbólicos de que dispõem, uma tela de sentidos destinada a
reuní-los e talvez a protegê-los dos estilhaços dispersos, insensatos,
do     futuro; uma capa de palavras capaz de abrigá-los da contingência
radical que     perfura a camada protetora dos sentidos e mistura-se, à
sua revelia”

"Como a informação é fluxo é como se o coletivo novamente fosse
portador do conhecimento."

"Essa experimentação, essa exploração de tudo o que pode permitir fazer
sentido é fractal."

Pierre Levy

o que estamos mesmo fazendo?

como ampliar isso?

1. junte pessoas a sua volta que compartilham esse dna;
2. atue dentro de alguma ação onde você entenda que uma nova visão
pode cutucar novas possibilidades interferindo nas metodologias, nas
tecnologias, nas práticas;
3. atue também observando as práticas já existentes, aprendendo com
elas e realimentando essa ecologia de que vc. faz parte para que outras
pessoas, em outros estados e países possam aumentar seu próprio nível
de entendimento de novas possibilidades e auxiliar na ampliação dessas
possibilidades;
4. estamos todos aqui construindo um kernel mutante de possibilidades
sociais, o jeito de ser é o nosso linux, fazendo um
comparativo bem simplista...
5. enfim, alargue para onde vc. achar necessário essa árvore do
conhecimento, faça a rede pensar de acordo com seus fluxos, interfira,
escute, aprenda, transmita, ensine, repense...

somos muito além de um projeto, pois acima de tudo não temos metas a
serem alcançadas, temos sonhos compartilhados nesse pó de estrada que
estamos curtindo juntos e tentativas infinitas de encontrar sentido
para um tanto de coisa que só quem sente sabe o que é.

de como começou a montagem do primeiro laboratório de metareciclagem

mais uma da série de histórias...

Quanto ao material básico para começo que você me perguntou, segue
algo aí:
1 - Conjunto de chave de fendas (aquele de camelô mesmo);
2 - Alicate de bico fino;
3 - Um multímetro bem básico em caso de querer testar alguma placa ou
a fonte.
Bom, na minha opinião, isso aí já dá pro gasto. Creio que com uns
R$30,00 dê para comprar tudo, até menos.


e daí, o resto é história pra contar... ;-))))

nas rotas do que vemos por aí: refletindo sobre aprendizado em rede

outra saindo dos arquivos:

| Pois é, desentupir tem vários sentidos e o mais imediato que
|eu vejo é o reaproveitamento dos refugos dessas máquinas
|inchadas e ineficientes. Os trabalhadores alfabetizados por
|Paulo Freire ganharam poder de voz e de argumentação quando se
|deparavam com situações de alfabetização em que eram
|protagonistas. A letra escrita tinha uma função de ecoar a
|sensibilidade imprecisa daquele que antes somente se
|expressava por via oral. Essa inversão da cartilha da web
|voltada para a comunidade é uma retomada possível de uma
|"alfabetização" engajada. É um passo, apenas um passo, mas
|desponta setas na direção contrária do que vemos por aí...

Metareciclagem: da vanguarda de idéias para a vanguarda de ações

mexendo em mensagens antigas e dando uma geral, me deparei com um email que escrevi na lista do Metáfora, em 2003, quando o projeto MetaReciclagem saiu na capa do caderno de informática do Estadão:

"A consequência direta do MetaReciclagem é a montagem do MemeLab, o
laboratório experimental do Projeto Metáfora. Idéias, experimentos,
projetos. Começa a surgir o momento em que a vanguarda de idéias passa
a repercutir em vanguarda de ações. Mas nenhuma ação pode adquirir um
caráter individualista nesse momento e deve ser o consenso de um
coletivo de inteligências disposto a pagar o preço de seus atos.
No fundo, o que quero dizer é: metam o dedo nisso tudo, invertam os
fluxos, mudem as cores, remexam no caos, pois ele foi lançado e o
Metáfora precisa digerí-lo e lançar dedos inquietos que respondam a
altura.
A hora de agir é agora. Vamo que vamo!!!"

É muito bom ver e sentir como essa busca por novas perguntas vai se transformando, transmutando, renovando, reinventando, mas continua mais viva do que nunca...
Momento lindo de ver isso, de refletir sobre isso, sobretudo pelas conversas que tenho tido nos últimos dias, a força de poder refletir nas ações e conceitos, os amadurecimentos nas conversações e na própria capacidade de produzir mundos.

Ha! Há muito mais disso por dentro da onda que balança, puxa e repuxa e ensina que a rede é antes de tudo um modo de pensar, uma maneira de ler e agir no mundo.