domingo, 28 de setembro de 2014

O querer

Da angústia, já não mais procuro fuga
Procuro por onde os dedos possam tocar
E desenhar entradas ao convite do silêncio
Aguardando cessarem mundos sem fim.

E cessam versões de uma história
E seus seguidores, assim silenciados,
Já não mais disputam o sentido da verdade
E então começam a ouvir estranhos rumores,

Sons desconhecidos e cores inventadas sem memória.
Procuram pela terra a origem dos tremores
Vasculham no céu o caminho dos ventos
Mas nada encontram que lhes forneça uma pista sequer.

Desorientados, dançam,
E dançando inventam caminhos,
Produzem palavras e tecem o novo mito
Um novo ritmo a seguir dissipado na multidão dos valores comuns.

Mas, há os que se negam a seguir,
E há os que, desorientados, se negam a dançar
Insistem e permanecem ali, diante do silêncio
Instalados na abertura, de frente ao nada.

Senhores do tempo, amedrontados e resistentes,
Aguardam surgirem traços de sinais
O pulso invariável do momento seguinte
Onde assim, despidos, finalmente se encontram com seu próprio querer.

domingo, 21 de setembro de 2014

Nudez

De um momento para o outro, um estalo
Parado, me deito, quieto, atento ao som que pulsa
E começo a me despir das cores e vozes do mundo.

As impressões são mais fáceis
Leves tremores da epiderme bastam, trepidam e se vão.

Preconceitos são resistentes, se escondem pelas juntas
E se rebocam pelos fluídos da respiração noturna
Já dão mais trabalho e demandam raspagem cutânea
Feito talhadeira atenta aos detalhes de cada batida.

O pior são as verdades
Imutáveis estruturas ósseas
Sustentam a carne que se move
E me lembram da existência a cada traço de cotidiano.

Demandam outra forma de nudez
Daquela que trança os sentidos
Recriando formas, passagens e os meios
Dissolvidas pela angústia...

… de escutar as próprias palavras nascidas do silêncio.