segunda-feira, 31 de maio de 2010

ativação e aprendizagem em rede

A complexidade de nossas interações cresce a cada minuto, os enlaces e emergências surgem como novas condições de possibilidade que podem ser apropriadas de maneiras imprevisíveis.

Muitas novas formas de aprendizado, muitas novas maneiras de se recombinar, muitas novas maneiras de operar na complexidade. Muitos novos espaços de conversação surgem quando levamos em consideração a nossa própria circularidade e criamos maneiras de olhar para isso.

 Algumas questões relativas a como estamos atuando em nossas e como podemos aprender mais sobre isso:
  1. como estamos operando a partir do reconhecimento da estrutura da linguagem em nossas ações de ativação, agregação e colaboração em rede;
  2. como deixamos isso visível e ampliamos os espaços de reflexão sobre os fundamentos do que estamos fazendo.
ao meu ver, tem alguns eixos que estruturam essa pesquisa e que nos apresentam algumas respostas interessante sobre o que estamos fazendo em rede:
  1. a maneira que abrimos nossos dados em rede e criamos processos de apropriação desses dados;
  2. a maneira que criamos espaços de conversação nos projetos que atuamos e como realmente abrimos espaços de colaboração num campo de escuta ativa dos efeitos de multidão.
  3. a maneira que refletimos sobre as nossas ações em rede, considerando a complexidade envolvida na própria diversidade de estar rede. Como evitamos sair dos efeitos tradicionais de nossa capacidade de olhar pra isso?
 é por aí que to olhando...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Dados, links e e o que podemos fazer com isso

Pense somente no que poderíamos fazer ao articular dados de programas de formação, de uso de telecentros e das redes sociais em torno dos projetos públicos que já foram desenvolvidos no Brasil?

Pense em processos de ativação dinâmicos, apoio nas respostas de comunidades locais, identificação de problemas e sugestões de soluções? Pense...

Podemos fazer algo sobre isso? Eu creio que sim... E acho que tem um chão enorme para se pensar aqui.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

algumas origens do toque do tambor


Alguns recortes da II Oficina de Inclusão Digital, quando estávamos começando a conversar sobre projetos, metareciclagem e ações no âmbito do Gov federal. Interessante perceber como há algumas questões que ainda são totalmente atuais.

terça-feira, 25 de maio de 2010

para onde foi o toque do tambor?

Para onde foi o toque do tambor?
A mão seca na pele esticada.
As cores de cordel,
Os 100 olhos estampados na tela,
As hashtagstalkings pontas de bits.
Para onde foi o toque do tambor?

Nature by Numbers

Algumas dicas de contorno do Caderno de Campo - Pensamento Sistêmico

Algumas boas dicas para bordas e contornos do pensamento direto do Caderno de Campo:

"Mudanças profundas, ou seja, mudanças culturais baseadas na aprendizagem precisam de estruturas e ambientes nos quais as pessoas possam projetar experimentos e realizar experiências para, compartilhadamente, observar, refletir, chegar a conclusões firmes e agir de maneira mais efetiva e sustentada... Sem essa visão, estaremos sempre usando medidas de curto prazo, com baixa sustentabilidade, atacando sintomas de problemas e cada vez mais presos na armadilha do apagar incêndios." pág. 23

"Fizemos construção de sistemas de indicadores como forma de aprendizagem e comunicação da estratégia.... Por meio da aprendizagem, assimilamos (criamos) o mundo real em mapas." pág 24

"Um processo de gestão da mudança tem base no processo criativo, no qual a construção coletiva se dá a partir de uma tensão criativa envolvendo a contraposição de um entendimento sistêmico da realidade presente e de uma visão de futuro profundamente desejada."  pág.27

Possíveis fases de um processo de mudança: (pag. 28)
  • compreender a realidade atual: identificar a mentalidade que a origina, diagnosticar os limitadores do desenvolvimento coletivo;
  • visualizar o futuro: desafiar os próprios modelos mentais;
  • construir uma estratégia robusta: projetar sistemas de indicadores que influenciem a ação organizacional;
  • promover a mudança: esforços coordenados, colaboração e atuação em rede;
  • repensar a organização: repensar estruturas e processos. Cabemos nisso?
  • sustentar a mudança e aprender continuamente: ambientes de aprendizagem contínua, habilidades organizacionais essenciais.
"Um mapa da realidade, seja ela qual for, dá bases iniciais e fundamenta um trabalho de visualização do futuro, de planejamento estratégico ou mesmo de mudança adaptativa ou criativa. Não se preocupe em conhecer os detalhes na primeira passagem por cada um desses pontos." pág. 29

"Os modelos mentais, ou os pressupostos mais profundos, são modificados por meio do processo de aprendizagem. Mudança profunda implica aprendizagem. Um ciclo de aprendizado profundo precisa ser fomentado." pág. 34

"Habilidades e capacidades especiais são as que efetivamente transformam a maneira de perceber o mundo e sentir o mundo. São: aspiração, reflexão e conversação, conceituação. Arquitetura organizacional capaz de facilitar o o ciclo de aprendizado: idéias norteadoras, teorias, métodos e ferramentas, inovações em infra-estrutura." pág 35.

"Quanto mais se conhece as estruturas sistêmicas da realidade, mais necessitamos de um propósito comum para obter energia criativa e saber no que transformá-la. Só um grupo com alta capacidade de aprender junto pode ter uma visão ampliada do sistema, explorando-o por suas diversas facetas. Os programas de mudança falham porque entram em choque com as crenças e pressupostos das pessoas. " pág. 37

"Em última instância, não existem coisas, mas estruturas derivadas de padrões de comportamento de fluxos." pág. 38

O que vem a ser sistêmico? pág. 43
  • das partes para o todo;
  • dos objetos para os relacionamentos: faz mais sentido buscar um entendimento da realidade não por meio de coleções de objetos, mas por meio de redes de relacionamentos incorporadas em redes maiores;
  • das hierarquias para as redes;
  • da causalidade linear para a circularidade;
  • da estrutura para o processo;
  • da metáfora mecânica para a metáfora do organismo vivo e outras não-mecânicas;
  • do conhecimento objetivo para o conhecimento contextual e epistêmico;
  • da verdade para as descrições aproximadas;
  • da quantidade para a qualidade: implica uma mudança de ênfase da mensuração quantitativa dos objetos para uma postura de mapeamento e visualização;
  • do controle para cooperação, influenciação e ação não-violenta.
"Modelos devem ser utilizados como instrumentos de apoio para que os próprios administradores aprendam as consequências do seu modo de enxergar a realidade, em vez de serem utilizados para fazer previsões sobre o futuro." pág 57

"Vygotsky acaba por concluir que a linguagem afeta o pensamento tanto em seu conteúdo quanto em processo. Logo, diferentes linguagems produzem maneiras diferenciadas de pensar." pág. 57

"A cibernética nos ensina que os sistemas sustentam sua existência e comportamento por meio das relações circulares. Elas são de dois tipos básicos: relações circulares de reforço e relações circulares de balanceamento." pág. 60

"Soluções tradicionais pertencem ao pensamento linear (mesmas soluções, mais esforço, mais resultado), enquanto as soluções podem vir de um conjunto criativo (novas ações, com menos esforço, mais eficácia), levando em conta o sistema como um todo." pág 67

"O acordo sobre a principal transformação costuma ser o grande passo na solução do problema." pág. 92

"Os níveis de percepção: (pág. 94)
  1. por meio da percepção de eventos, o homem responde reativamente. Isso funciona bem, desde que o mundo não mude rápido demais. Isso também funciona se não há muita complexidade e interconexão. A visão de eventos é inteiramente fragmentada, impondo uma visão parcial da realidade;
  2. eventos são apenas variações nos padrões de comportamentos mais profundos. Para ultrapassar o nível dos eventos, é preciso analisar as tendências de longo prazo e avaliar suas implicações. Uma visão histórica começa a se configurar. Aquilo que considerávamos ser um problema recente, pode ser mais antigo que parecia.
  3. O terceiro nível invoca a compreensão da estrutura sistêmica da realidade. Esse nível indica o que causa os padrões de comportamento, buscando explicar como as variáveis influenciam-se mutuamente em relações de causa e efeito. Mapas sistêmicos são a base para o reprojeto do sistema.
  4. As estruturas da realidade social são construídas tendo por base o que as pessoas carregam em suas mentes. Os modelos mentais são os responsáveis pelas estruturas que os seres humanos constroem, seja nas cidades, nas comunidades, nas famílias, nas organizações. A compreensão de modelos mentais proporciona a capacidade para ações reestruturadoras de uma maneira mais profunda."
Os passos de ação do método sistêmico: (pág. 95) - permitem um mergulho nos níveis de realidade. Também apoiam o processo de aprender e sistematicamente aplicar uma linguagem sistêmica, de modo que ela possa tornar-se uma ferramenta que opera no nível subconsciente. Cada passo provoca aprendizagens mais profundas. Cada passo gera produtos que são usados como entrada nos próximos passos.
  1. definir uma situação complexa de interesse: define-se situação de interesse em uma frase ou título. Define-se também o horizonte de tempo para análise, delimitado por um determinado ano no passado e um determinado ano no futuro. Definem-se questões norteadoras. ;
  2. apresentar a história por meio de eventos; (FUNDAMENTAL APRESENTAR OS ANTECEDENTES)
  3. identificar as variáveis-chave: a partir da lista de eventos, pode-se identificar quais as variáveis estão em jogo na situação de interesse. Se eu tivesse em minhas mãos um gráfico que claramente demonstrasse a ocorrência desse evento, que gráfico seria esse? O resultado desse passo é uma lista de variáveis-chave, não superior em quantidade a 25. Essa lista representa algumas forças importantes em atuação na realidade.
  4. traçar os padrões de comportamento: coletam-se dados para compor séries históricas das variáveis;
  5. desenhar o mapa sistêmico: identificar as relações causais entre os fatores, desvendando as estruturas sistêmicas. Permite localizar os pontos de alavancagem para ação eficaz e sustentada;
  6. identificar modelos mentais: identificam-se os principais atores e, a seguir, identificam-se seus modelos mentais que mais afetam a realidade em questão;
  7. realizar cenários;
  8. modelar em computador;
  9. definir direcionadores estratégicos, planejar ações e reprojetar o sistema.

 "A clareza sobre qual de fato é o problema traz em si o encaminhamento da solução. Assim, antes de qualquer busca por solução, está a busca por um consenso mínimo sobre qual é a situação-problema." pág. 143

"A distância entre o estado atual e o estado futuro desejado torna-se fonte de tensão criativa, movendo os indivíduos em direção à concretização desse futuro." pág. 173

"É preciso compreender, porém, que toda a força da metodologia só será efetiva, no sentido de desafiar modelos mentais instituídos e construir estratégias efetivas, se dois fatores estiverem presentes: a existência de um ambiente e de uma cultura de aprendizagem, e a continuidade do processo." pág. 192

"A dinâmica natural das estruturas dissipativas simples ensina o princípio otimista sobre algo que costuma nos levar ao desespero no mundo humano: quanto maior for a liberdade na auto-organização, maior será a ordem." pág. 225

" A formação da estratégia é claramente um processo emergente, constituído por meio da aprendizagem do coletivo. Nele, a liderança abre mão do gerenciamento do conteúdo da estratégia e passa a gerenciar o processo estratégico." pág. 234

"Por ser um dos maiores alavancadores do desempenho superior da organização, a lidenraça frequentemente se coloca como sua principal barreira. As atitudes do líder-herói bloqueiam o aprendizado dos membros organizacionais ao reforçar sua crença de que a ascenção organizacional se dá por atos de bravura individual." pág. 236

"Tem-se visto que o aprofundamento do campo, bem como sua sustentabilidade, requer uma presença consciente, uma escuta profunda, um estar aberto a um fluxo maior de significado e uma participação consciente no campo maior da mudança. Essa participação consciente implica um entendimento da capacidade criativa e destrutiva que a ação humana tem sobre seu ambiente, levando ao reconhecimento de que frequentemente as barreiras para uma ação criativa mais profunda são exatamente os modelos mentais que criamos, e dos quais sentimo-nos escravos." pág. 238

"Estruturas em sistemas não são necessariamente construídas conscientemente. Elas são construídas a partir das escolhas, realizadas consciente ou inconscientemente, ao longo do tempo." pág. 258

"Simplesmente conceder poder, sem algum método de repor a disciplina e a ordem que advêm de um burocracia de comando e controle, produz caos. Temos que aprender a dispersar poder de modo que a autodisciplina possam, em grande medida, substituir a disciplina imposta. Isso nos situa na área da cultura: substituir a burocracia por aspirações, visões e valores." pág. 259

"O ambiente deve promover a visibilidade de aspectos mais sistêmicos do que simplesmente a tarefa em execução." pág. 260

"Se os indicadores locais premiam o ótimo local, mesmo sob condições de conflito ou de perda para a organização como um todo, as pessoas privilegiarão os indicadores locais. Por mais que se valorize o bem maior, dificilmente alguém prejudicará seus índices ou sua distribuição de resultados. Os sistemas de valorização e cobrança, em geral não-formalizados, frequentemente forçam os gerentes a tomar atitudes que são danosas para o sistema como um todo, pois incentivam a visão fragmentada, ou a chamada visão de feudo." pág. 261

Algumas boas perguntas refletindo sobre um programa de formação

  1. Quais são as questões que uma estratégia de formação busca propor?
  2. Como mapear essas questões de forma sistêmica?
  3. Quais são nossas questões mais críticas e que precisam ser contempladas?
  4. O que me impede de dormir a noite?
  5. O que eu gostaria de garantir que fosse experimentado/vivenciado num processo de aprendizagem?
  6. Por que a estratégia ou as políticas de uma organização não são eficazes?
  7. Como avaliar uma iniciativa estratégica?
  8. Como alinhar a mensuração das atividades operacionais com a estratégia geral?
  9. Por que a cultura de uma organização é vista como um problema?
  10. Como apresentamos o contexto em que esse programa surge?

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sobre os fundamentos das redes livres

Outro dia, tava ouvindo de um desses manos que respeito deveras de várias estradas me contando que, na visão dele, o MetaReciclagem era algo incrível. Uma das poucas listas, grupos ou sei lá o que, que ele viu sobreviver tantos anos com o vigor de atividade ao longo do tempo. Aí, me disse que parou para refletir nisso, pois ele queria perceber qual ou quais elementos convergiam para isso. A sacada que ele teve foi: ninguém nunca conseguiu definir metareciclagem, sempre que tentam, alguém vem, diz outra coisa e aquilo tudo gira de novo numa sensação curiosa de incompreensão, afastando alguns, aproximando outros... Uma dança, um ritmo de vai e vem, mas uma sensação de algo interessante ainda continua habitando esse espaço.

 Parei para pensar no que ele me disse. Pode ser que seja isso, pode ser não. Não faz tanta diferença assim, mas ainda acho bonito ver um conceito que num é conceito e que se dobra por dentro de si mesmo o tempo todo. Talvez seja isso o fundamento das redes livres... ou não.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da reciclagem e a construção de conhecimento

Pensar num processo de reciclagem nos leva, de início, a refletir a respeito do material que será reciclado e o material nos leva a elementaridade, ou seja, a desconstrução física de peças, equipamentos, objetos produzidos em geral. Esse processo iniciado na desconstrução material traz, como caráter pedagógico, o domínio da conexão das partes e sua relação com a junção lógica dos elementos constituintes de um todo tecnologicamente estabelecido. Iniciamos aqui um processo de construção de conhecimento e conseqüente domínio de uma determinada tecnologia que, no limite, desmistifica e abre um novo campo, uma nova interface, uma nova gestualidade e novas possibilidades de criação, enfim, uma nova linguagem e sua simbologia.
Projetando esse processo de reciclagem especificamente para o domínio das tecnologias digitais, dos computadores pessoais e da eletrônica embarcada em equipamentos de uso cotidiano, passamos a falar numa transformação do computador de uma mera ferramenta de trabalho para um instrumento de comunicação e de uma nova linguagem de criação e expressão para refletir as necessidades locais de cada comunidade, de cada coletivo, de cada grupo organizado em torno de um fim próprio e de cada articulador do processo de reciclagem e desenvolvimento local. Abrem-se, portanto, novas possibilidades. Juntando a esse processo de construção de conhecimento a partir da desconstrução material dos equipamentos a customização, o uso interativo, o desenvolvimento e as mais variadas aplicações do software livre temos o círculo de independência tecnológica estabelecido, sendo as comunidades livres para abrirem e adaptarem suas máquinas com base na linguagem técnica adquirida e customizarem e adaptarem às suas próprias necessidades as funções operacionais dos computadores.
No entanto, a relação entre a técnica e a linguagem não estabelece fronteiras e permite uma nova construção estética que se reflete, de início, na reorganização material dessa tecnologia reciclada e reelaborada abrindo o campo para o desdobramento de uma expressão artística que pensa e reflete a tecnologia como humanizada e desprovida de suas características massificantes e organizadoras de um cartesianismo provinciano. Aqui, sim, estabelece-se a relação material, humana, artística e tecnológica que culmina no que pode ser chamado da MetaReciclagem.
É, portanto a formação de um processo dinâmico, descentralizado e aberto, uma MetaReciclagem cultural e técnica que constrói seu impacto social com o enfrentamento da criação de redes livres de comunicação entre comunidades geograficamente distribuídas e a potencialização de ações locais interconectadas.
Logo, a doação de parte das máquinas recicladas para as comunidades organizadas de forma a poder receber esses equipamentos é parte fundamental dos desdobramentos práticos dos processos de MetaReciclagem.
É a concretização da reciclagem tecnológica como um efetivo processo de construção coletiva do conhecimento.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ciências cognitivas ou pensando em como pensar no como fazemos o que fazemos

To lendo Francisco Varela na última semana. O livro "A mente incorporada" traz alguns aspectos muito interessantes sobre a história das ciências cognitivas, por onde vai contextualizando os primeiros movimentos (Conferências Macy), o desenvolvimento do paradigma cognitivista, a visão da emergência e a visão enativa, proposta por Varela.

É interessante observar como os grandes embates a respeito da visão de realidade, verdade, mundo objetivo, mundo subjetivo, interno e externo estão fortemente presentes na histórias do estudo da cognição humana. Sem dúvida, questões tão relevantes a filosofia, foram e vem sendo articuladas pelo surgimento de outras maneiras de se pesquisar e refletir sobre essas questões: neurofisiologia, psicologia, inteligência artificial, cibernética, biologia, etc...

Refletir sobre isso é refletir a partir das estruturas que utilizamos para a formação do nosso pensamento, de nossa visão de mundo e de como fazemos o que fazemos. Ao observar as diferentes escolas tive uma sensação muito interessante de ir me reconhecendo em cada maneira de pensar em relação a diferentes momentos do meu viver. Cheguei a momentos de me incomodar e de pensar o quanto teria sido útil ter acesso a esse tipo de reflexão antes...

Perceber o nosso pensar, dar-se conta das próprias estruturas que utilizamos para organizar nossa visão de mundo, perceber o quanto isso nos limita e nos amplia é um exercício libertador.

Colocar em perspectiva os próprios espaços que criamos para nos relacionarmos conosco mesmo não é um exercício trivial. Não é trivial por que simplesmente estamos por dentro desses espaços quando olhamos para eles. O olhar por dentro dos olhos é um olhar recursivo, segundo Varela. É um olhar circular e que na circularidade te coloca em um novo lugar.

A recursividade, vista dessa maneira, pode ser apropriada como uma dinâmica de conexão consigo mesmo, a criação de um espaço que se dobra sobre si. Paradigmas, modelos mentais, visões de mundo, planos de fundo, paisagens mentais podem ser reveladas e colocadas em perspectiva dessa maneira.

É quase uma dança, um bailar num ritmo recursivo...

As prisões e os monstros só ficam visíveis quando nos propomos a olhá-los de um outro lugar. É o tal do dar-se conta. Essa dança é a dança do dar-se conta.

A história das ciências cognitivas é a história da busca humana por estruturas de pensamento que ofereçam respostas a esse dar-se conta. Respostas de múltiplos ângulos de visão, de questionamentos a partir de várias escolas do pensamento, mas que nos emprestam algumas boas dicas para colocarmos em perspectiva e revisitarmos várias fases de nosso viver, e simplesmente ir se questionando se não nenhuma semelhança com essas estruturas de pensamento, tanto no que nos liberta quanto no que nos aprisiona.

será?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

futebol dos filósofos

uma boa conversa sobre websemântica


Web 3.0 from Kate Ray on Vimeo.

Sobre as indentidades

hdimantasaqui falando sobre as identidades.

diz assim: "Dalton insiste na produção da idéia do eu e o que estou tentando romper é com essa afirmação. Desde Freud não se concebe o homem como um ser indivisível. A identidade não é algo que nos define."

Concordo fortemente com isso. Mas, apesar das identidades não nos definirem, nós ainda nos relacionamos com elas como se nos definessem. E só parar para ver que tipo de respostas a gente habitualmente dá quando nos perguntam: Quem é você? O que você faz? Lançamos mão das identidades para garantir uma resposta minimamente cabível no contexto em que possamos estar. Não nos define, mas nós acabamos por nos definirmos a partir delas.

A pergunta que cabe é: como saímos desse enlace? Como deixamos visível para nós mesmos que estamos nos atrelando a identidades e fechando os espaços da impermanência a criarmos alguma forma de apego a essas mesmas identidades?

Concordo que somos multidão. Mas, agimos ainda autocentrados. Voltamos com frequência para as identidades quando se trata de exercer alguma forma de controle ou de manipular algo para que ocorra da forma que queremos. Como lidamos com o fato de sermos multidão a partir de uma multiplicidade de referenciais autocentrados? Como isso se explicita em nossos espaços de reflexão?

Particularmente, não tenho resposta para isso... Mas, acho que temos um caminho de pesquisa.
Eu creio que quando conseguimos alguma forma de nos visualizarmos, seja da maneira que for, a partir da visualização podemos ampliar a percepção da multidão e ir questionando as referenciais de autocentramento que ainda carregamos na mochila.

Será? ;-)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Estados sucessivos de atenção - Shamata como tecnologia de meditação

A estabilidade de nossa atenção altamente focada, indicam alguns estudos, dura uma média de 1 a 3 segundos. Parece pouco, mas experimentar manter o foco da atenção em um objeto, uma imagem ou um pensamento revela a dificuldade que é e as inúmeras possibilidades de flutuação que ocorrem no fluxo da mente.

Sem dúvida, isso influencia em nossa maneira cotidiana de pensar e sentir.  A partir da tenção flutuante, diversos níveis de entrelaçamento ocorrem ao longo do dia, construindo caminhos absolutamente imprevisíveis pela complexidade de nossas mentes.

O entrelaçamento nos leva a lugares muito distintos que passamos a habitar ou descartar em nosso fluxo de pensamento. Pode trazer dor, alegria, harmonia, angústia, certezas, incertazas...

Entender como se relacionar como esse entrelaçamento e descobrir que tipo de tecnologias existem que podem nos dar alguma forma de controle sobre isso, até para poder exercitar um certo livre arbítrio sobre esse flutuar, me levou a descobrir a técnica Shamata de meditação.

Shamata é uma técnica simples, mas que tem o objetivo de ampliar a nossa capacidade de atenção altamente focada.O objetivo consiste em manter o foco da atenção em uma imagem, uma sensação, na respiração ou um objeto de nossa escolha. A prática ocorre quando buscamos manter o foco, mesmo que ele se disperse. Quando estamos nesse fluxo de atenção, estamos praticando shamata de alguma forma.

Shamata é uma tecnologia de meditação, uma forma de abrir novas possibilidades e lentes para o olhar para dentro de si. A técnica consiste de 9 níveis de aprofundamento da atenção. A divisão dos níveis serve apenas como um parâmetro, um ponto de vista para que possamos nos referenciar em que momentos estamos da prática e nos situarmos a como lidar com as próprias dificuldades que surgem.

Segue uma descrição resumida dos 3 primeiros níveis da prática (a partir das dicas do livro Ciência Contemplativa do Allan Wallace):

  1. Atenção direcionada: a mente é dominada fortemente pela agitação. A mente consegue focar a média de 1 a 3 segundos em seu objeto escolhido. O objetivo é praticar em muitos períodos curtos (de 5, 10, 15, 20 minutos) e com o mínimo possível de distrações entre um período e outro.
  2. Atenção continuada: a mente passa a manter a atenção por mais tempo, indo a aproximadamente 1 minuto. A atenção permanece a maior parte do tempo afastada do objeto de foco durante a prática. Mesmo durante os períodos de atenção focada, a mente continua propensa a agitação que agora se manifesta de uma maneira periférica. Parece que a atenção continua focada na imagem mental mesmo quando outros pensamentos e impressões sensoriais perpassam a mente.
  3. Atenção ressurgente: a atenção permanece a maior parte do tempo da prática em seu objeto de foco, cuja continuidade precisa ser reafirmada toda vez que ocorre uma agitação de nível grosseiro. O número de sessões de meditação diminui e o tempo aumenta.
 Sem dúvida, é um desafio enorme a prática de Shamata.
 Os benefícios são múltiplos e relacionados com a possibilidade de harmonia da mente, no entanto, creio que somente a experiência pode responder como isso produz sentido para cada um. 

entrelaçando versos

Se vive no espaço que é fluxo
ou se vive no fluxo do espaço?

se brinco de ser eu, brinco de ir além
brinco de abrir as brechas de si
e ir perguntando onde tava tudo aquilo que eu mesmo vi
se quando vi já mudou

mas mudou o quê?
a relação, o fluxo, o espaço?
ou seria meu desenho refletido na íris barroca
da pressa em que me invento
 
Na pressa do encontro
Me invento ao estar com o outro.
E outro estando comigo, já náo sou o mesmo.
E se eu náo sou o mesmo ele também náo é!

Há tantos eus quanto pessoas no mundo...

Se vive no espaço que é fluxo
ou se vive no fluxo do espaço?

ff na liftconference


Watch live streaming video from liftconference at livestream.com

Novas bordas de estudo

Boas indicações da Drica para ir ampliando a nossa conversa/estudo do caos linguístico:

Richard Rorty

  1. A Filosofia e o Espelho da Natureza
  2. O Giro linguistico
  3. Contingencia Ironica e Solidariedade
  4. Consequencias do Pragmatismo
  5. Contra os Chefes Contras as Oligarquias
  6. Pragmatismo e Política

quinta-feira, 6 de maio de 2010

As ontologias da juventude

O velho hacker deu a dica por aqui e seguindo na thread de como estamos usando os mapeamentos para conversar e refletir sobre a web que fazemos, voltei ao mapeamento que fiz alguns atrás sobre as palavras-chave de busca que levam ao site da JuventudeSP.

Shirky vai dizer que a ontologia, no sentido filosófico, é o estudo das entidades e suas relações. Para pensar nas relações e pensar nas entidades, olhar para elas, de alguma maneira, pode se tornar útil em nossa conversação.

 Sem dúvida, se criarmos sistemas estáticos, como vocabulários definidos para organizarmos a nossa informação, iremos cair numa simplificação grotesca da multiplicidade que a web representa.

Shirky, lá pelas tantas vai dizer que o único grupo que pode categorizar tudo é todo mundo. Visão fundamental da complexidade de informação em que vivemos.

E quando falamos de um site na Internet a forma como somos lidos, como nos tornamos relevantes acaba sendo produto de três eixos, pensando apenas em relação aos sistemas de informação:
  1. o conteúdo que produzimos e está disponível em nossa URL;
  2. a estrutura de organização do código do site;
  3. a forma como os algoritmos de busca se acoplam nessa estrutura e constroem sua visão de relevância do conteúdo que produzimos.
Assim como num sistema de categorização por folksonomia, que o Shirky descreve bem através do exemplo do Del.icio.us. As estratégias de tagueamento que as pessoas utilizam são diversas, múltiplas, tão múltiplos quantas são as possibilidades que tenham de entendimento e construção do mundo que vivem.

Ao mapear isso, como o próprio Shirky fez algo ocorre. Esse algo tem a ver com nos darmos conta de como surge essa relevância do que estamos fazendo na web em relação a quem nos acessa. Esse dar-se conta abre inúmeras possibilidades de perguntas, de construção de hipóteses que podem nos levar a conversar sobre o que fazemos e o como fazemos o que fazemos. Esse é o ponto e esse é o ganho.

Veja aqui a forma como nos 3 pontos acima nos tornamos relevantes para o Google:


Sim, forma uma cauda longa, como era de se esperar.
Não tenho a menor dúvida que há diversas estratégias que podem ser utilizadas para diversos pontos da cauda em relação a como queremos aproveitar esse fluxo para ampliar nossa relevância.

Acho que estamos experimentando ver isso, nos questionar a partir disso e emergir novas estratégias a partir desse passo ao lado que o mapeamento nos leva a dar. E como diria o Shirky, "It's all dependent on human context."

Será? ;-)

multiplicidade dos olhos

Podemos dizer que somos muitas coisas, profissões, posições sociais, relações, idéias, as coisas que temos, tantas, tantas...

Mas, tudo isso é passageiro, impermanente. Flutua.

Mas, algo continua. O quê? Algo que produz o próprio sentido da transição da mudança contínua.
Alma? Espírito? Consciência? Muitos nomes e muitas formas de olhar...

Vejo que há algo que continua, independente do conceito: a liberdade de podermos conectar múltiplas camadas, múltiplos olhares e produzir a própria idéia do eu...

por dentro dos olhos

O dar-se conta, o revelar-se é quase como um ato de dar um passo ao lado e observar como estávamos nos relacionando com algo coisificado que apenas existia dentro de nós.

Sim, a rede se faz permamente, é o próprio corpo, é a própria forma dinâmica de ser, fazer consciência do fluir do meu viver.

As necessidades do marketing criam objetos, coisas a partir das quais passamos a nos relacionar, a pensar e o foco de nossa atenção vai para isso. Ao coisificar é como se a rede de crenças e desejos fosse projetada em algo. Algo a partir do qual construímos nossas identidades.

E isso se torna objeto de manipulação pelo capital, pois o capital incorpora as projeções em seu fluxo financeiro ao conseguir precificar os aspectos mais sutis de nosso próprio pensamento.

A voz humana some na coisificação, pois passamos a não ver o outro como legítimo outro, apenas como uma estrutura, um valor que responde melhor ou não aos meus anseios.

Quando um mapeamento serve como uma espécie de enlace, como algo que dobra por dentro das conversações apenas como um instrumento que nos ajude a ampliar o espaço de conversa sobre nós mesmos, talvez possamos sair da coisificação. Talvez possamos nos dar conta dos rumos da linguagem, de como fazemos o que fazemos.

O mapeamento é apenas um dispositivo intermediário, não tem um fim em si mesmo.
Serve como instrumento de contato, para logo ser descartado.
É como uma charge dentro do Roda Viva, é como um quadro por dentro dos monstros: serve para conversar com eles, para dar o passo ao lado e dar-se conta.

A transformação ocorre quando se dissolve a coisificação.
Sim, estamos buscando alargar as brechas, as brechas da conversa, da reflexão...

como é o lindo pra vc?

me perguntaram hoje e respondi assim:

metareciclagem no lift 10 talk

Once a land with little access to information technology, Brazil has seen a fast growth in the last decade as both commercial internet increased and government “digital inclusion” programs were implemented. The number of brazilians with access to the internet is still relatively small (67 million people out of a population of 192 million), but increasing in a fast pace (~75% growth in three years).

On a par with brazilian socially-aware popular cultures, an interconnected digital culture has been fostered. Brazilian people are avid users of internet (an estimated 48 hours a month). As early as 2004 with Orkut, Brazilians were already in the social network craze that only a couple years later hit the world with Facebook. For some time, Brazilian IPs were forbidden from creating new user profiles on Fotolog.net, as they were using too much bandwidth.

E segue....

quarta-feira, 5 de maio de 2010

quando há algo em mim

se vive no espaço que é fluxo
ou se vive no fluxo do espaço?

se brinco de ser eu, brinco de ir além
brinco de abrir as brechas de si
e ir perguntando onde tava tudo aquilo que eu mesmo vi
se quando vi já mudou

mas mudou o quê?
a relação, o fluxo, o espaço?
ou seria meu desenho refletido na íris barroca
da pressa em que me invento?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Rede Nacional de Formação para Inclusão Digital

Uhuuuuuuuuuuu!!!! Valeu o trampo!!!!

A SECRETÁRIA SUBSTITUTA DE LOGÍSTICA E TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO DO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO, em atendimento blablabla, torna pública a lista
das propostas selecionadas para Polo Nacional e Polos Regionais,
com o nome da entidade Proponente, município e Unidade Federada
(UF) de origem:

Polo Nacional:
1.Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo - FUSP,
Núcleo de Pesquisa das Novas Tecnologias de Comunicação Aplicadas
à Educação - Escola do Futuro - Universidade de São Paulo,
São Paulo, SP.

Um pouco mais sobre filosofia e as tramas da rede

Apresentei semana passada, no curso do doutorado sobre Comunicação e Novas mídias.
O texto do Pierre Musso, que pode ser encontrado neste livro, é realmente bem interessante.

O mais me chamou atenção foi refletir sobre o fato de termos depositado no conceito de redes tanto filosofia de transformação social quanto a tecnologia de transformação social, como se a rede fosse por si mesma uma panacéia técnica capaz de rearticular o espaço e o tempo em torno de seus próprios fins de circulação e liberdade.

Idéia complexa, delicada e que posso ver como tangencia muitos dos projetos que eu mesmo faço. Importante refletir se acabamos não caindo num certo paradoxo de pensamento a partir da idéia de redes... Será?