quinta-feira, 28 de julho de 2011

Artefatos, místicas e formas de pensar

Não creio que seja muita novidade entendermos que não fomos "treinados" na nossa cultura, no sistema educional, político, familiar bla bla bla para pensar diferente de formas lineares de entender as coisas. É praticamente "natural" analisarmos as coisas buscando relações de causa e efeito: se isso aconteceu, aquilo deve ter acontecido; se está desse jeito, é por culpa de tal coisa; se fizermos isso, vai rolar aquilo.

Criticar essa forma também não é algo novo. Muitos livros têm sido escritos, experiências, projetos, filosofias. De fato, no meu entender, estamos ainda no início da desconstrução: o novo tá visível como potencial, como possibilidade, ainda longe de se transformar em modo "natural" de pensar, pautando a maneira que nos organizamos e nos relacionamos. Ainda estamos longe disso.

Até aí, tudo bem. Há pouco a se fazer, a não ser aprofundar a crítica, analisar as possibilidades, experimentar, buscando sinalizar o novo na crença/aposta de que novas e novas gerações vão chegar, constituindo uma nova cultura, deslocando o velho e produzindo o novo. A vida que muitos de nós gostaríamos de viver, ao menos aqueles que estão se dando conta disso e percebendo os próprios limites no modo de fazer as coisas, não será experenciada em plena potência-contágio-coletivo nos tempos atuais. Somos o povo da romaria, somos o povo da migração, somos o povo que levanta poeira e busca construir um caminho por onde passar.



Lidar com isso é apenas uma condição de contorno, todavia. Há tantas brechas a serem exploradas, há tanto por se pensar e experimentar a cada dia, que a mente chega a não dar conta de tanta coisa que poderíamos tentar. Começar é um bom começo... ;-)

Tudo para isso para compartilhar uma reflexão que tem ganhado força dentro de mim nas últimas semanas. Algumas pessoas tem me perguntado por quê tenho dedicado tanta atenção, tempo e esforço estudando novos modelos matemáticos de análise de redes, dinâmica de sistemas e sistemas complexos. Acabei me dando conta que falei pouco sobre o que de fato tem ressoado aqui dentro, não na superfície, mas naquele âmago que te faz acordar as 3:00h da manhã e começar a rabiscar no velho caderno antes que a ideia-imagem-forma se esvaia nos abismos de si.

O fato, já eternizado por Einstein, é que para novos problemas precisamos de novos métodos. A vivência dos últimos 10 anos, somada a toda a experiência cultural-religiosa que vivencei nos últimos 7 anos, foi deixando isso gradativamente mais claro.

A dimensão da rede, do se relacionar em rede, da produção coletiva, da comunidade é um campo que ainda estamos de fato apenas começando a entender. Não há nada trivial nisso. Tenho explorado diversos pensadores/experimentadores que têm falado sobre isso e pautado a fronteira do que ainda conseguimos pensar. Gente como Fritojf Capra, Humberto Maturana, Gregory Bateson, Edgar Morin, Weiner Heisenberg, Ilya Prigogine, Pierre Levy, David Bohm, Barabasi, Duncan Watts, Mark Newman, Castells, Foucault, Deleuze, Guattari, Regina Benevides, Edu Passos, Nietzsche, Francisco Varela, sem falar nos aliados do dia-a-dia, Susana Maiani, Regiane, Renata Pudo, Paulinho, Felipe Fonseca, Daniel Pádua, Hernani Dimantas, Ricardo Teixeira, Rogério da Costa, Luiz Algarra, Lu Annunziata, Drica Guzzi, André Benedito, Glauco, Guima, Gus, Naty, Isis, Mari, Moura e por aí vai, são pessoas que têm, de uma forma ou de outra, me dado pistas, dicas e apontado caminhos, sobretudo aquelas que estão se predispondo a vivenciar isso em suas próprias relações.

Mas.... Tem um algo na minha forma de ver as coisas que estrutura a experiência a partir de algum tipo de método. Tenho me dado conta disso nos últimos anos, mas é algo que entendo estar presente desde sempre. O método, para mim, é o princípio, a energia motriz de organização daquilo que com que me relaciono.




Ocorre que o método que tenho utilizado desde sempre é o mesmo método linear que aprendi nos meus anos de estudo formal/convivência com tantas outras pessoas que pensaram assim. Seria pedir que de repente, ao entrar em contato com novas ideias, tudo subitamente mudasse. Não, as coisas são, em geral, um pouco mais complexas que isso.

Tem sido necessário construir um novo modo de pensar, uma nova forma de estruturas as coisas. Essa nova forma precisa incluir muitas dimensões, precisa ser flexível, móvel, dinâmica, ágil, adaptável. Precisa criar espaço para que outros pontos possam ser conectados, permitindo não apenas somar efeitos, mas emergir sensações e sínteses que não seriam possíveis antes.

O ferramental matemático da Teoria dos Grafos, o que de fato fundamenta a análise de redes e parte expressiva do que temos utilizado para o estudo dos sistemas dinâmicos traz essa perspectiva, ao meu modo de entender.

Simplificando ao máximo: é uma das formas modernas de entrar nos fluxos, de se deixar tocar pelas multiplicidades, de entrar no caos das interações, das relações emergentes e voltar de lá com um artefato, um objeto místico-síntese-atrator que tão simplesmente quanto a sua própria existência simbolize um movimento.

Não, não há nada de muito diferente do xamã que entra nos sonhos, nos fluxos da tribo e volta de lá com os totens-tabús produtores de sentido de seu coletivo. Uma nova forma de dar contorno e lidar com a amplitude daquilo que me ultrapassa.

Essa tem sido a motivação dos contornos de um novo modo e, posso garantir, estou ainda bem no começo, mas já começando a esboçar formas um pouco mais interessantes....

terça-feira, 12 de julho de 2011

Gerando mapas de longitudes e latitudes

Tive um problema para resolver hoje e documento por aqui a solução, pois a busca pela web não pareceu nada trivial.

A ideia é que eu tinha uma lista de cidades de monitores que participam da formação do Telecentros.BR. Eu queria gerar um mapa a partir dessa lista para poder ver como estava essa distribuição no Brasil como um todo. Que caminho eu escolhi:
  1. baixei uma listagem de latitudes e longitudes do site da DataSus;
  2. gerei uma lista de correspondências entre as minhas cidades a listagem acima, via a função procv do OpenOffice. Exportei a listagem em duas colunas, com o nome da cidade e as coordenadas juntas numa mesma coluna, num arquivo CSV;
  3. gerei um arquivo KML para ser importado diretamente no Google Maps via um site que faz esse serviço online;
  4. Importei os dados diretamente no Google Maps e saiu esse mapa aqui.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Parque Hluhluwe-imfolozi

O Parque Hluhluwe-imfolozi é a mais antiga reserva criada na África do Sul, em 1895. O segundo maior em área no país, apresenta uma variedade incrível de animais e paisagens. Marcante! E num que até deu para fazer um safari... ;-)








Mais fotos por aqui!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Conferência ISSI 2011 - anotações do quinto dia

Último dia de congresso aqui em Durban e, para ser sincero, não poderia ter sido melhor. Discussões ao longo do dia de altíssimo nível, boas conversas de corredor, ânimos e perspectivas se desenhando do para onde estou e para onde vou.
Detalhando o dia por aqui.

  1. Keynote address - hoje falou o Jonathan Adams, presidente da Thomson Reuters, uma das maiores empresas do mundo na área de indexação de recursos digitais. O tema da fala dele era sobre um novo sistema da Thomson para indexação de livros, gerando métricas de citação que possam ser coletadas para análise assim como é feito hoje pela WebOfScience.  O ponto central dessa fala é a escolha que estão fazendo de apenas indexar livros em inglês. A apresentação foi duramente criticada por vários participantes, por razões óbvias. O império contra-ataca. 
  2. Sessão Mapping/clustering 1 - A sessão várias pesquisas preocupadas em formas de mapear relações entre documentos, conversas, textos, enfim, conjuntos de recursos para poder analisar relação e relevância entre eles. Utilizam algumas formas tradicionais de cálculo de similaridade entre documentos e outras um pouco mais novas, como considerar a distância geográfica e a relação de outros campos. Muitos ainda usam o dendograma para análise de agrupamentos como uma forma de encontrar clusters, facilitando determinar categorias a partir da análise de semelhança dos conjuntos. É interessante como têm utilizado esse tipo de pesquisa para detectar a emergência de novos campos de conhecimento, mostrando como a dinâmica de produção científica vai se reagrupamento de outras formas, mudando disciplinas, modificando áreas, recriando espaços.
  3. Sessão Mapping/clustering 2 - Alguns artigos expostos nessa sessão utilizam algoritmos interessantes para identificar clusters: MDS e Gini. O ponto interessante de um estudo mostrava como as disciplinas dos países BRIC estavam cada vez mais próximas em sua forma de organização dos países do G7, apenas usando esses indicadores por análise de descritores e categorias de documentos de produção científica. Movimento dinâmico ao longo muito interessante de visualizar. De fato, o que está por trás disso? Financiamento, sem dúvida... Outra apresentação da sessão mostrou uma pesquisa que estuda o acoplamento de comunidades a palavras de interesse em seus documentos. Estuda isso usando técnicas de cluster e semelhança por K-means e Vosviewer (que é também um software para análise de semelhança), mostrando o quanto o último tem apresentado resultados melhores e mais bem definidos. Mostraram discussões sobre densificação da rede e sobre animação de evolução dos grafos, sendo que algumas ferramentas relatei no post da manhã de hoje.
  4. Sessão Networks 2 - última sessão do congresso. Novos indicadores para análise de co-citação e de como a informação flui por uma rede foram apresentados. Pesquisa ainda inicial, mas me pareceu bastante promissora para análise de movimentos. É algo que pretendo aprofundar um pouco e ir documentando por aqui. Um dos indicadores apresentados foi de Centralidade de Grupo, uma ideia que busca agrupar um conjunto de nós numa rede e analisar a centralidade da perspectiva do grupo e não apenas dos nós que o compõem. Uma última questão que foi tratada foi sobre previsão de links, ou seja, a partir do estudo da estrutura e da dinâmica de uma rede há um conjunto de métodos que poderíamos utilizar para prever quais seriam as próximos conexões que poderiam surgir na rede. Essa análise foi feita preferencialmente para redes bipartite (modo 2), sendo 3 elementos necessários: uma rede de treinamento, um algoritmo preditivo e uma rede de teste. Os resultados iniciais pareceram promissores. 
 Uma síntese do dia: sabemos bem pouco ainda sobre os potenciais que podemos explorar de um grafo. Há muito conhecimento a ser construído, pensado e experimentando na modelagem de uma quase infinita quantidade de problemas que podem ser tratados por grafos. O pensamento relacional ainda é algo muito novo para nós, estamos muito acostumados a pensar em relações diretas de causa e efeito, a lógica do grafo muda complemente isso. É outra abordagem, outro modo, outros desdobramentos muito mais complexos que ainda não sabemos lidar direito. O que tenho observado por aqui é uma busca contínua por entender isso melhor, por perceber o quanto os métodos de pesquisa que temos utilizado precisam ser repensados e o quanto isso está impactando em novas formas de pensamento.

Final do dia: feliz de ter participado disso tudo e aprender a quantidade enorme de coisas que pude aprender. Que venham os próximos!

Algumas ferramentas e boas dicas da ISSI 2011: caixa de ferramentas do analista

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Conferência ISSI 2011 - anotações do quarto dia

 Mais um dia de conferência, mais um dia de vários toques interessantes.

O dia começou com uma apresentação de Olle Persson sobre técnicas de mapeamento e melhorias metodológicas em visualização de grafos de redes. A preocupação básica da apresentação, e de várias outras que transcorreram ao longo do dia, foi como criar maior relevância/reputação a determinadas conexões como forma de deixar menos poluídas as imagens de redes que são geradas. O fundo dessa conversa, ao meu ver, não pode ser só focada em como resolvemos nosso problema como pesquisadores, mas sim como entendemos melhor e reconhecemos as estruturas de relevância que produzimos ao atuar em rede.

Logo depois, começaram as sessões de apresentação dos poster, na qual meu trabalho e da Sueli Mara, minha orientadora do doutorado, estavam alocados.



A primeira vez que participo desse tipo de encontro, utilizando o formato de posters para divulgar pesquisas em estágio ainda iniciais. Gostei do formato, na real, dá para analisar aquilo que te interessa, conversar com quem está por ali apresentando o trabalho, trocar contatos, enfim, conhecer um pouco mais o que cada um está fazendo. Clima bom, boas conversas. A pesquisa que trouxemos para apresentar foi uma revisão dos principais artigos publicados no Brasil sobre questões relacionadas a "redes sociais" e "informação", onde mostramos que tipo de recursos de análise os pesquisadores têm utilizado, a dificuldade de trabalhar com grandes massas de dados e problemas ainda metodológicos no uso de novas técnicas de análise. Sem dúvida, esse é um campo ainda muito no início no Brasil, ainda mais por tudo o que tenho visto aqui. Há muito a experimentar, pois temos características, focos de análise que passam longe das preocupações que circulam num fórum como esse. Por exemplo, nesses dias todos não vi ninguém apresentar nada relacionado a produção cultural, a apropriação de tecnologia, a produção independente, gambiarra, software livre, etc, etc. Apesar disso, o tipo de metodologia e estrutura de análise que o povo daqui tá utilizando também está bem a frente do que usamos em outros tipos de estudos, como mencionei acima. Uma boa junção.

Depois da sessão de posters, fui para as mesas de trabalho do dia. Segue uma síntese por aqui:
  1. Sessão Networks 1 - a mesma tendência de como criar novas estruturas de produção de relevância para melhorar a análise de grafos estava presente na mesa como um todo. Algumas propostas caminhavam no sentido de utilizar não só a conexão, mas seu conteúdo como um espaço relacional a ser caracterizado a partir de critérios determinados. Outros pesquisadores têm trabalho com a ideia de que pedaços de documentos podem ser vistos como genes que são passados para outras produção, derivando mutações e transformações. Ideia interessante, Dawkins já falava isso nos memes, mas a aplicação não interessou muito. Outra pesquisa falava sobre como considerar a formação de "cartéis" de citação entre pesquisadores de uma área científica. Para isso, ele propunha estudar não só apenas o efeito da auto-citação, mas os efeitos e movimentos das redes de pesquisadores próximos no grafo de forma conjunta a partir dos indicadores de proximidade. Ideia interessante. Ele separou e analisou como evolui no tempo os diferentes níveis de atuação desses pesquisadores em camadas distintas de rede. Gostei da forma como isso foi apresentado. No meu caso, faria sentido entender como evolui no tempo as diferentes camadas de colaboração num espaço de produção científica: instituições, departamentos, grupos, etc. 
  2. Sessão Data Sources 1 - Foi uma sessão de vários trabalhos em andamento, com menos tempo de apresentação para cada um. Marcou a presença de pesquisas brasileiras, mostrando como o país está se fortalecendo para dentro, ao contrário do que outros estudos apontavam. Em tese, os movimentos brasileiros têm fortalecido a atuação nos jornais do país, consolidando espaços internos de publicação da produção. Interessante entender como isso se relaciona com as políticas públicas na C & T. 
  3. Sessão Key address - Apresentou uma fala o Ricardo Baeza Yates, um dos líderes na europa do Yahoo Lab. A fala se concentrou em analisar quais são as limitações atuais de algoritmos de busca da informação na Web - como o Pagerank - e quais estão sendo algumas das tendências futuras na área e para onde o Yahoo está olhando. Em termos de limitações dos algoritmos, o ponto mais forte que foi mencionado é o que ele chama de relevância negativa, ou seja, como tratar movimentos de spam que produzem centanas/milhares de sites, redirecionam links e articulam conjuntos de estratégia para "enganar" a estrutura dos atuais algoritmos. O ponto chave está em identificar isso e as experiências que estão fazendo é usar mais e mais dados gerados em redes sociais como acoplamento a indexação tradicional de links. Algumas experiências foram mostradas, alguns resultados potenciais e melhores significativas aos atuais algoritmos. A checar melhor! No entanto, a visão da Yahoo é que a pesquisa na web não deve mudar significativamente em termos de algoritmos de busca, mas sim na experiência do usuário ao realizar buscas. Um outro recurso que ele mostrou foi o WebScope da Yahoo, que é uma plataforma que fornece dados livres estruturados para estudantes, grupos de pesquisa e interessados de forma geral. Por exemplo, dados de usuários que votaram em suas músicas preferidas no sistema do Yahoo, dados de linguagem natural, relações sociais e por aí vai. Bem útil para experimentações quando não temos os dados que precisamos.
  4. Sessão Webometrics 2 -  A mesa tratou de análises do Google Scholar e Google Books, mostrando como os dois podem servir de plataformas para pesquisas em webmetria e cienciometria. Um ponto alto da apresentação foi a ferramenta Publish or Perish, que coleta os primeiros 1000 resultados do Google Scholar e sistematiza de uma forma delícia de ver. Acabei de baixar a ferramenta e já fiz com uma experiência com a Rede MetaReciclagem, o que já me surpreendeu logo de cara. Foi interessante também observar como os resultados do Scholar desequilibram totalmente o que é esperado como resultado tradicional de produção científica. Por exemplo, por ele, o Brasil é o terceiro país com mais conteúdo publicado. Isso se deve ao tipo de recurso que o Brasil está utilizando para divulgar sua produção científica, no caso o Scielo, ou seja, deixando os dados mais acessíveis para indexadores desse tipo. Enfim, ocupando espaços. Vale a pena conferir mais trabalhos do Statistical Cybermetrics Research Group.
  5. Sessão Networks and Visualization - Essa sessão foi sem grandes novidades, apresentando um pouco mais daquilo que já falei acima.
Dia bom! Experiência boa de estar em contato com esse universo de coisas legais que, sem dúvida, já estão potencializando muito aquilo que venho fazendo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Conferência ISSI 2011 - anotações do terceiro dia

Finalizando o terceiro dia aqui na conferência ISSI 2011. Algo que me ocorreu de ontem para hoje é que acabei não comentando muito qual razão de ter vindo aqui para a África do Sul e por quê participar de um congresso de uma sociedade de cienciometria e infometria.
O fato principal é que meu doutorado foi, por várias razões que levaram isso, encaminhado por dentro de um departamento de Ciências da Informação, lá na USP. No começo, eu mal sabia exatamente do que se tratava essa área do conhecimento e fui/venho gradativamente gostando do que tenho visto e experimentando nesse espaço de reflexão. A área está bastante voltada para reflexões em geral sobre analisar, refletir e pensar questões relacionadas a informação, seja do ponto de vista qualitativo, quantitativo, tecnológico, social, modelo de produção, financiamento, políticas de inovação, etc, etc, etc.. Muitos temas que acabei me envolvendo nos útimos anos convergem de forma bastante interessante nesse tipo de espaço. Logo, cá estou, vindo conhecer o que, pretensamente, dizem os pesquisadores que são considerados de ponta na área.

Vamos ao dia de hoje.
O foco estava voltado para apresentações de trabalhos acadêmicos completos que foram submetidos para avaliação e participação no congresso. Mais de 200 pessoas estavam por aqui hoje, que foram divididas em 3 salas a sua escolha, onde ocorriam as apresentações. O programa completo das apresentações, pesquisadores e seus trabalho está disponível no site da ISSI, para quem tiver maior interesse de acessar os trabalhos individuais. Aqui, comento apenas as sínteses de cada sessão que fui fazendo.


Fiz um roteiro que me pareceu mais coerente com meus temas de interesse e reporto por aqui o que me chamou atenção por onde passei:

  1. Sessão Science & Technology & Innovation: a ideia dessa mesa de trabalhos era juntar pesquisadores que estavam trabalhando em como identificar transições e movimentos de pesquisas acadêmicas para desenvolvimentos de tecnologias aplicadas pela indústria. Há tendências que indicam que cada vez mais os pesquisadores acadêmicos estão se vinculando ao desenvolvimento de patentes. O que me chamou atenção foi o fato de estarem usando para isso diferentes fontes de informação - jornais (Google News), blogs (Google Blogs), papers (Google Scholar), , resumos de congressos, sites de empresas - para avaliar como a informação vai sendo transmita e em que fase de um espaço para o outro. A ideia de base é demonstrar que o ciclo linear de pesquisa-desenvolvimento-produto é grande parte das vezes falso. Na real, muitas pesquisas importantes relacionadas a tecnologia surgem após grupos desenvolverem usos aplicados de uma ideia. Comentário: a ideia de que a pesquisa gera a inovação pode ser bastante afetada com base nesses estudos. Isso é realmente um ponto que podemos explorar mais. Grupos autônomos podem ser vistos como espaços importantes de inspiração e produção de novas ideias, alimentando e conectando após determinado período, com grupos acadêmicos que buscam desenvolver trabalhos mais formais em algum sentido.
  2. Sessão Webometrics 1: a mesa foi montada juntando os pesquisadores que tem desenvolvido e experimentado maneiras de analisar dados gerados na Web. O desafio que estão se colocando é como considerar cada vez mais os dados de relações sociais que deveriam ampliar a noção de relevância do que é um trabalho científico. É nesse sentido que alguns experimentos estão sendo propostos, como o Mendeley. Outro trabalho que achei bastante interessante foi uma análise realizada na Finlândia sobre como os sites das prefeituras municipais se linkavam entre si por todo o país, realizando um georefenciamento dos links. A ideia era trabalhar como a informação pública estava circulando e sendo referenciada pelos próprios orgãos públicos. Mostraram clusters de bibliotecas e outros serviços que se apoiavam mutuamente. Utilizaram para coletar os dados um bot voltado para apoio em pesquisas de Ciências Sociais.  O último trabalho dessa mesa fez uma análise do Pirate Bay e do Open Street Map. A ideia deles era mostrar o padrão de uso dos participantes dessas ferramentas, dando uma ideia de seu grau de participação ao longo do tempo. Os resultados que mostraram dizem que evidenciam algo que encontramos em muitas redes, uma maior participação logo quando da criação do perfil e depois um desaparecimento gradativo. O Pirate Bay apresenta um padrão um pouco diferente, levando a considerar se a relevância dos arquivos em Torrent que ali são compartilhados cria esse maior nível de interesse em usar a plataforma. Os pesquisadores mencionaram experiências com Sentiment MininingComentários: gostei da abordagem dos trabalho e, principalmente, de ver como estão buscando construir as bases da Ciência das Redes, entendo o espaço informacional como um universo vasto de pesquisa. Gosto dessa abordagem e acredito que um olhar um pouco mais refinado para muitos dos projetos que atuamos pode nos ampliar bastante a reflexão sobre as estratégias que utilizamos, a maneira como nos organizamos em rede e muitas possíveis melhorias que poderíamos construir a partir disso. Gosto da ideia de analisar como os sites de um determinado contexto estão se linkando, permitindo otimizar e ampliar o potencial de circulação de muitos serviços que são desenvolvidos e pouco utilizados. Uma boa dica para cidades digitais, governos eletrônicos e experimentos por aí.
  3. Sessão Collaboration 1: foi uma sessão mais voltada para a discussão de como estudar padrões de colaboração na produção científica, o que envolve análise de padrões de co-autoria. Um dos trabalhos mencionou um novo conjunto de indicadores que têm por objetivo balancear melhor as relações de colaboração internacional, levando em consideração que países que possuem jornais acadêmicos mais fortes tendem a reduzir seu número de colaborações externas. Matematicamente, ideia interessante. Comentário: a sessão não foi tão interessante como as anteriores, mas pude aproveitar algumas dicas estatísticas de construção de gráficos e alguns truques de manuseio da informação. 
Resumo geral: dia bom, bem produtivo. Confirma bastante o que foi ontem, considerando que estar aqui tem sido interessante para observar o que está sendo produzido de pesquisa de ponta nos estudos da informação, em que pé aquilo que estou estudando está e como muitos desses métodos podem ser aproveitados para outros tipos de ações, para além da ciência formal.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Conferência ISSI 2011 - anotações do primeiro dia e segundo dia

A viagem para a África do Sul foi bastante tranquila: um pouco mais de 7 horas até Johannesburg e mais 1 hora de vôo até Durban. Tudo no horário, aeroportos muito bons e boa estrutura pelo caminho. Aproveitar o tempo para ler, escrever e organizar um pouco mais os estudos.

Cheguei no domingo após o almoço, no horário local. Aproveitei para conhecer a região, dar uma olhada na praia considerando que mesmo no inverno o dia estava lindo por aqui. A cidade é bastante bonita, lembra muito algum país europeu ou mesmo uma cidade americana. Ao menos o centro, por onde passei até agora. Avenidas bastante largas, balneários bem bonito, praia bonita.
Cansado da viagem e ainda um pouco confuso do fuso horário (+5 horas) fui dormir cedo para aproveitar o pique do dia seguinte.

Acordei bastante cedo pois estava bem afim de ir a pé até a Durban University of Technology (uma espécie de FATEC da governo federal da África do Sul), onde o evento está acontecendo. A ideia é aproveitar para conhecer mais a cidade, indo a partes que não me parecem nada turísticas, pois a universidade fica bem mais afastada da praia. Consegui seguir bem o mapa até próximo de lá, depois as ruas parecem que simplesmente não seguem mais nenhum padrão esperado quando olhando para o mapa que eu tinha em mãos. Os nomes mudam, os desenhos das ruas são diferentes. Pergunta daqui, pergunta dali, acabei chegando tranquilo e encontrei o povo do evento.

O dia hoje estava divido em dois tutoriais (mini-cursos) nos quais me inscrevi:

  1. Introduction to scientometrics and webometrics - Peter Ingwersen - A ideia do tutorial era apresentar os principais conceitos e aplicações da cienciometria e webmetria. Achei interessante, o tal do Peter falava com bastante propriedade de várias coisas que eu apenas tinha ouvido falar até então. Deu para ter uma noção mais geral sobre cienciometria, apesar do tema não me interessar tanto. Aproveitei algumas boas dicas sobre gráficos, como estruturar a informação e alguns cuidados para não representar conclusões errôneas por falta de critérios estatísticos. Já na parte de webmetria, um assunto pelo qual tenho passado nos últimos anos, a abordagem foi interessante, porém não trouxe contribuições que fossem muito além do trabalho que a gente vem desenvolvendo. Mas, abordagem e forma de organizar a informação me pareceu muito boa. Peter tem uma proposta de analisar nós da web em 3 níveis, páginas, sites e domínios, criando camadas distintas para análise de relação entre esses níveis. Por exemplo, como os sites .gov se relacionam com os sites .org ao referenciar uma determinada página, ou como o domínio blogspot.com se relaciona referenciando um determinado recurso na web. Falou um pouco sobre o Site Explorer do Yahoo, posicionando essa ferramenta e seus potenciais de análise. Falou também do Blog Pulse, uma ferramenta do Nielsen. Além disso falou de algumas métricas comuns da web (número de links direcionados/número de entradas produzidas) e como normalizar esses dados de forma a criar critérios estatísticos de comparação. Peter considera que a área de estudo e análise das tais mídias sociais é ainda muito explorada pelos estudos no campo da informação, com muito espaço aberto para novos modelos analíticos poderem surgir. Comentário meu: novas formas de circular a informação vão exigir, se quisermos fazer ciência a partir disso, novas maneiras de entender como o espaço informacional é constituído. O fato é que, ao meu ver, os pesquisadores não considerarem dimensões das estratégias de articulação de relações sociais, o distanciamento entre aquilo que analisam e o que ocorre nas redes vai ser cada vez maior.
  2.  Sci2: a tool of science of Science Research and Practice - Katy Börner - A Katy é diretora de um centro de pesquisa chamado Cyberinfrastructure for Network Science Center que tem como objetivo principal desenvolver software de apoio a pesquisa e agregar diferentes algoritmos de análise e visualização de redes. Ela organizou um tutorial para apresentar o Sci2, um software livre feito em Java com Python que agrupa uma quantidade bastante interessante de algoritmos de análise e visualização de redes com aplicações explícitas em várias áreas do conhecimento. Um dos pontos altos da apresentação foi como o software já possui scripts para analisar e animar a evolução de redes ao longo do tempo. É algo que tenho procurado já fazia um bom tempo e ainda não tinha encontrada nada muito consistente a respeito. A abordagem principal da apresentação é que esse tipo de ferramenta tem se tornado os telescópios e microscópios do nosso tempo, no que consiste fazer ciência a partir da enorme quantidade de dados que temos a disposição atualmente. Concordo bastante com essa visão, que é, por sinal, uma das coisas que me motiva nas atuas pesquisas em que estou envolvido. Temos muito campo de experimentação de agenciamentos sociais, de movimentos de formação e promoção de redes, de experiências colaborativas que podem servir como base para entendermos e propormos melhoras formas de nos relacionarmos para uma quantidade infinita de eventos. De fato, entender isso tem me ajudado a perceber que o estudo dos novos formatos abrem espaço para muitas pessoas se darem conta de que novas possibilidades de organização social não são apenas possíveis, como muito mais ricas no viver e conviver humano. Instalei o Sci2 e estou brincando um pouco ele por aqui, depois vou reportando o que tenho achado.
Impressões gerais:
Gostei bastante do nível das apresentações, da preocupação com a construção dos argumentos, do cuidado na escolha dos dados, da busca por avançar em novas possibilidades de análise e estruturação da informação. Fazia bastante tempo que eu não participava de um evento e sentia essa sensação. Interessante se dar conta disso.
Dei uma olhada inicial nos anais do evento e achei alguns artigos interessantes para dar uma boa lida depois.
Enfim, um sonho antigo de fazer esse tipo de pesquisa se realizando por aqui. Uma etapa a aproveitar! ;-)

Amanhã, começam as mesas e apresentações dos artigos completos que foram submetidos. Eu exponho na quarta-feira nosso poster

domingo, 3 de julho de 2011

Capitão da minha alma

Um bom começo de África do Sul:

"Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Eu agradeço aos deuses que existem
Por minha alma indomável.

Nas garras cruéis das circunstâncias
Eu não tremo ou desespero
Sob os duros golpes da sorte
Minha cabeça sangra mas não se curva.

Além deste lugar de raiva e choro
Paira somente o horror da sombra
E ainda assim
A ameaça do tempo vai me encontrar
E deve me achar destemido
Não importa se o portão é estreito
Não importa o tamanho do castigo
Eu sou dono do meu destino
Eu sou capitão da minha alma."

Poema que inspirou e ajudou Mandela a ultrapassar os 27 anos de sua prisão.