sexta-feira, 23 de abril de 2010

Algumas noções sistêmicas fundamentais no viver e conviver humano

Refletir sobre o viver humano é refletir a partir de algum lugar, de alguma referência que pauta/modula a estrutura de pensamento de onde partimos. Essa estrutura é nossa base de coerência, é aquilo que usamos como referência (seja consciente ou inconsciente) para descrever as coerências daquilo que somos capazes de distinguir no que experienciamos.

Essa capacidade de distinção não é algo místico, sobrenatural ou que possa ser mensurado a partir de maior ou menor capacidade, a não ser que eu veja isso a partir de um sistema restrito de concepções que posso ter a tendência de chamar de verdade. A nossa capacidade de distinção é construída culturalmente, a partir da extensa vivência e somatória de experiências que vivenciamos ao longo da vida. As experiências vão se somando, vão impactando nosso corpo, vão sedimentando conceitos, enrigecendo sensações, percepções e toda a nossa estrutura de mente-corpo passa a ser coerente com uma determinada visão, uma forma de pensar. Tudo passa a girar em torno disso, passamos a classificar, mesmo que de forma inconsciente, o mundo: algumas experiências nos parecem mais válidas que outras, mais legítimas, mais corretas.

Dessa forma, vamos nos dando conta, se nos dispusermos a questionar nossos próprios referenciais, que construímos nossas referências a partir da soma de relações que fomos vivenciando em nossas vidas. Se as relações fossem diferentes, provavelmente as concepções, as percepções de mundo também seriam. Somos um produto contínuamente em mutação da coerência de nossa própria história de vida.

Sem dúvida, procurar ver, tornar consciente, dar-se conta desse lugar de onde falamos e procurar colocá-lo em perspectiva me parece ser uma atitude fundamental para facilitar a fluidez nas relações humanas, nas redes de conversações nas quais engatamos ao longo da nossa vida. Colocar-se em perspectiva é um ato de amor para consigo mesmo, pois tem o efeito de criar um espaço de reflexão para podermos questionar os fundamentos de nossas próprias coerências, os fundamentos de onde falamos o que falamos e de onde fazemos o que fazemos.

Esse dar-se conta não é algo simples, trivial.

Como perceber os próprios fundamentos? Como perceber os próprios pontos de rigidez?
Como questionar esses fundamentos? Como não criar um processo que migre de um fundamento ao outro, sem refletir a própria concepção da rigidez dos fundamentos?

Me parecem questões importantes, difíceis de serem respondidas, mas que nos colocam em lugares interessantes para descobrir técnicas de si, de autoconhecimento, de novos caminhos explicativos que podem servir como instrumentos de liberação da própria rigidez das estruturas sólidas que fomos cultivando ao longo do nosso viver.

Refletir sobre algumas noções sistêmicas fundamentais do nosso viver humano, como propõe Humberto Maturna e Ximena Davila, no livro Habitar Humano, me faz sentir numa espiral do ir se dando conta de como ir integrando os princípios sistêmicos nas coerências do meu viver. Essa integração surge na forma de olhar, naquilo mesmo que distingue o olhar.

Essas noções sistêmicas servem como elementos de reflexão, como pontos de apoio para questionar os próprios fundamentos:

O saber: tudo o que é dito é dito por um observador a outro observador que pode ser ele próprio ou ela própria.

O fazer: tudo o que é feito é feito por um ser humano no âmbito da antroposfera que surge com ele.

O suceder: cada vez que num conjunto de elementos começam a se conservar certas relações, abre-se espaço para que tudo mude em torno das relações que se conservam.

O escolher: a história dos seres vivos em geral e dos seres humanos em particular tem seguido e segue um curso definido em cada instante pelos desejos, pelas preferências, pelas ganas, pelas emoções em geral.

O operar: todo sistema humano e não humano opera perfeito quando opera; não existe a disfuncionalidade no operar de um sistema.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sensable city: novas camadas de dados visualizando cidades


Carlo Ratti "The Sensable City" (Lift09 EN) from Lift Conference on Vimeo.

conversas inspiradoras

refletindo sobre a utilidade de mapeamentos de complexidade e sobre o sentido de estudar os processos de transformação pela visualização de nossos agregados mentais, segue uma boa thread com fff.

Felipe: escrever edital é uma doideira
  te faz pensar no trampo de outra forma
 eu: é foda, eu curto, mas dá maior trampo
  faz sim
16:47 estruturas explícitas...
  kkkk
 Felipe: estruturada e relacional
  hehe
16:49 eu: legal isso
  puta atitutde bacana
 Felipe: tentando abrir o pensamento em outras escalas
  se nenhum edital rolar, valeu como documentação
  se rolar, é caminho das pedras
16:50 eu: sim
  é interessante isso
  ir abrindo os processos
16:51 eu to fazendo isso no meu blog com estratégias de projetos
  coisas que to usando para analisar
  para poder tomar decisões
  enfim, ir compartilhando mesmo aprendizados
 Felipe: eu vi o post lá
16:52 interessante aquele RT no meio de tudo
  bom sinal
  coisas ecoando
  como é que tu vê esse tipo de análise se articulando com a crítica das echo chambers?
 eu: pois é... gostei de ter feito aquilo
  echo chambers?
16:55 camaras de eco
  pessoas se repetindo, em vez de argumentar

14 minutos
17:10 eu: bacana o conceito
  acho que tem a ver sim
  o twitter é uma câmara de eco
  assim como qualquer espaço de conversação
17:11 sinto que isso pode se tornar um problema quando focarmos apenas nisso
  ou seja, olhar para algo apenas a partir de um único ângulo
17:12 no entanto, isso não exclui experimentar mapeamento de complexidade, que eu sinto que é exatamente esse tipo de busca que podem abrir as bordas desse tipo de echo chambers
  ou seja, ir compondo camadas, níveis de correlação de olhares
  e análises
  o que é em essência bastante complexo de se fazer
  mas, acho que hoje temos condições de ampliar isso
  um pouco do que eu estou pesquisando e experimentando tem a ver com isso
17:13 vou te dar alguns exemplos:
 Felipe: manda
 eu: 1. um mapa como esse abre caminho para se perguntar outras coisas... por exemplo, pq o levy aparece ali tão presente? o que teve no evento que abriu isso?
17:14 e a percepção a boca pequena, ou seja, com os 3 ou 4 chegados de corredor, era que ele tava ultrapassado, que ninguém mais pensava nele e por aí vai....
  é uma questão em aberto
  mas, que acho importante
  pq o que o levy tá um conceito de websemântica que fudido de bom
  e que vai muito além do o que as ontologias dos primeiros conceitos de websemântica
17:15 ele foi bem além disso
 Felipe: na real até tem um caminho aí que eu pensei agora
 eu: apesar de não estar visível
 Felipe: que com web semântica dá pra tentar relacionar conversas que não estão explicitamente relacionadas
 eu: então, por exemplo, abre-se um outro nível de complexidade para se pensar nisso
 Felipe: manja?
 eu: exato
 Felipe: o problema da lógica de camera de eco é que ela vai pra quantidade
  e esse tipo de análise quantifica termos
17:16 eu: e por exemplo, a gente poderia mapear só as conversas que falavam do levy nessa thread e sacar mais o impacto disso apenas no twitter
 Felipe: mas se existe uma análise semântica, dá até pra visualizar o que é desvio de uma mesma conversa
  e evitar que se esmaguem as dissonâncias
 eu: exato
  que é o que a rede semântica dá conta
  se tu ficasse apenas na nuvem de tags
  aí, é foda
  vc. perde a possibilidade de relações
  e nunca vai saber que o jlgoldfarb tá ligado fortemente ao RT
17:17 ou seja, ler o twitter desse cara pode ser interessante
  pq ele tagueou o evento de uma maneira importante
  ele dá pistas de memes para se seguir
 Felipe: sim
 eu: e aí, tu vai compondo um mapeamento de complexidade
 Felipe: um papel diferente
 eu: trazendo elementos
17:18 Felipe: de remixagem de informação
  índices, pra ser semiótico ;)
 eu: pois é...
17:19 mas, eu acho que quebrar essa coisa da signifcação da semiótica é importante
  pq a semiótica parte de um mundo conceituado nos signos
  e esquece que o signo é apenas retrato do orgânico
 Felipe: retrato?
17:20 eu: que quando olhamos para um signo, olhamos do ponto de vista de um corpo e uma coerência estrutural de sentidos/sentires que constrói uma visão daquilo
  por isso retrato
  no momento da compreensão
  depois, muda
  impermanência
  corpo muda
  e assim vai
  meio que num entrelaçamento de sentires e viveres
17:21 o que eu to particularmente interessado é em ir experimentando novas formas de estimular esses sentires e viveres em espaços reflexivos mais amplos
 Felipe: de que formas?
 eu: bem, de várias formas, na real... kkk
  mas, o mapeamento é um ponto importante disso
17:22 biofeedback é outro
  as tecnologias de conversação são outras formas
17:23 se tu for ver, são maneiras diferentes da gente agregar elementos
  ir entrelaçando compreensões
  e compondo elementos que demarcam passagens de ângulos de visão
 Felipe: sim
 eu: é quase como se fosse um processo ritualístico
 Felipe: compondo um sistema novo que vai além do texto
 eu: exato
 Felipe: eu gosto muito de texto, de qq forma
 eu: aquilo vai cavando processos no imaginário
17:24 Felipe: pessoalmente, não sinto necessidade de ir além
 eu: que nos levam a outro lugar de reflexão
  entendo
 Felipe: mas entendo o teu movimento
17:25 tu viu o tutorial que te mandei?
 eu: inda não...
  eu to muito interessado em entender como a mudança acontece
  não uma mudança específica
  num estou falando aqui de bom e mal, ou qualquer coisa dual nesse sentido
17:26 estou falando mesmo de complexidade
  de visão sistêmica
  de ampliação de olhar e transformação a partir dessa ampliação
  te faz sentido isso?
 Felipe: mudança no sentido transformação?
  como tu mede isso?
17:27 eu: num acho que o caso é medir...
  acho que tlvz nem seja possível fazer isso
  mas, sinto que quando tu olha uma imagem dessas do post
  tu percebe para onde a atenção daquelas pessoas foi
17:28 o foco que tiveram e os recortes semânticos que construíram
 Felipe: sim
 eu: isso tece um mapa que me permite estudar aquilo
 Felipe: peraí, deixa eu lembrar uma coisa
 eu: e aprender um monte de coisas
17:33 eu: vou ver aqui...

Tecnologias de si: mapeando os elementos de motivação para espiritualidade

Pensando em como observar o efeito de um evento via seu impacto no Twitter

Em começo de março participei eu e Drica Guzzi do evento Cidades Inovadoras e o Congresso Internacional de Redes Sociais em Curitiba.  O evento foi bem interessante por várias e andei postando algumas coisas [1,2,3] por aqui durantes os dias em que estive por lá.

Uma das coisas que mais no chamou atenção era o uso do Twitter nos telões ao longo das palestras e oficinas. Mais do que ir espalhando o conteúdo pela rede, os telões eram utilizados como uma ferramenta de conversação entre diferentes membros da platéia. As pessoas iam twittando e se entrelaçando em rede na forma como iam se impactando pelo que estavam sentindo a partir de tudo o que ouviam e viam.

Tivemos mais de 900 twittadas usando a tag do evento #2010cici. Aproximadamente 50% foi durante o evento e o restante até o dia de ontem. A tag continou ativa ao longo das semanas que se passaram e muitas pessoas ainda continuam conversando sobre os temas do evento, mantendo o meme no ar.

Um pouco para refletir sobre o que foi o evento e um pouco para brincar com todo esse material, resolvemos analisar um pouco os rastros dessa tag  no Twiiter. Baizei todo o feed do Twitter e joguei no ManyEyes para gerar a nuvem de tags e a rede semântica das expressões coletadas. Vejamos:

e

Algumas análises possíveis de se fazer a partir dessas imagens:
  1. é nítido perceber que num evento onde houve vários convidados internacionais (Clay Shirky, Steven Johnson, Pierre Levy, etc...) a influência maior no twitter foi de Pierre Levy (plevy). Ele teve duas falas durante o evento e apresentou sua nova visão sobre websemântica. Creio que isso se deva ao fato de que ele é um dos mais conhecidos no Brasil e muito mais gente dever ter lido seus trabalhos (mais fãs);
  2. a presença do conceito observatórios é bem significativa. Me parece que há um certo modismo de se criar observatórios (espaços de pesquisa, análise, reflexão sobre um determinado tema) que se relacionem com políticas públicas. Um mapeamento desses observatórios, como funcionam, como se relacionam e como geram conhecimento e práticas para políticas públicas pode ser interessante;
  3. dá para perceber os usuários do twitter que foram mais retwittados com um destaque do jlgoldfarb que tem um número incrível de twittadas em seu perfil (mais de 28000). Seu uso intensivo pode explicar sua presença com destaque aqui, além de sua possível relavância para o evento, devido a rede semântica mostrar a forte relação entre RT e seu perfil. Ler com calma esse twitter pode dar uma idéia dos principais temas que se articularam no congresso via Twitter.
 Certamente, há outras formas de se olhar e de analisar essas informações, mas fica aqui o exercício. ;-)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

entrelaçamento quântico ou da não localidade da mente

Final de 2008, ou, como diriam os antigos, o ano do dragão da impermanência, eu tava lendo sobre mentes interligadas num livro bacana de um tal de Dean Radin. Uma série de resumos de pesquisas sobre possíveis formas em que as mentes poderiam se interconectar. Lá vi, pela primeira vez, o conceito de que a mente poderia ser não-local, ou seja, a mente poderia não corresponder exatamente ao corpo, a individualidade do corpo e sua conexão com outras mentes fosse apenas através dos sentidos. Bem, se ela não fosse local, dá para imaginar o que isso abre de possibilidades para pensarmos em outras formas de entender a comunicação, o nosso fazer em rede e por aí vai...

Ocorre que nesse final de semana, ouvi de novo a mesma expressão, de que a mente era não-local, mas o termo vinha de uma fonte totalmente diferente, outra vertente, outra forma de ver as coisas. Pesquisando um pouco mais no livro do Radin vi que a idéia de mente nã-local estava atrelada a um fenômeno quântico, a idéia do entrelaçamento quântico. Já se fala disso desde os tempos de Einstein, inclusive como paradigma que poderia colapsar a própria base conceitual da quântica como linguagem capaz de descrever fenômenos coerentes da natureza. No entanto, o entrelaçamento foi provado no anos 70/80 de várias formas, mas apenas em nível quântico, ou seja, ele em tese seria válido apenas para fenômenos que se dão nas escalas do micromundo.

Pesquisando, pesquisando, comecei a achar que essa idéia de micromundo do entrelaçamento quântico já ficou superada em pesquisas bem recentes, que vale a pena documentar por aqui [1] e [2], além de um artigo no Scientific American e outro na Nature. Ou seja, o entrelaçamento quântico pode se manifestar e, bem provavelmente, se manifeste entre organismo macroscópicos, entre corpos, entre mentes. Para sacar um pouco o que isso abre de possibilidade, abre de linguagem para podermos distinguir outras coisas que ainda não tínhamos estrutura para olhar, puxei aqui os conceitos principais do tal entrelaçamento:

  • Da Wikipedia: "O entrelaçamento quântico ou emaranhamento quântico é um fenômeno da mecânica quântica que permite que dois ou mais objetos estejam de alguma forma tão ligados que um objeto não possa ser corretamente descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada - mesmo que os objetos possam estar espacialmente separados. Isso leva a correlações muito fortes entre as propriedades físicas observáveis dos diversos sub-sistemas.";
  • Essas fortes correlações fazem com que as medidas realizadas num sistema pareçam estar a influenciar instantaneamente outros sistemas que estão emaranhados com ele, e sugerem que alguma influência estaria a propagar-se instantaneamente entre os sistemas, apesar da separação entre eles.;
  • O emaranhamento quântico é a base para tecnologias emergentes, tais como computação quântica, criptografia quântica e tem sido usado para experiências como o teletransporte quântico.
  • Ao mesmo tempo, isto produz alguns dos aspectos teóricos e filosóficos mais perturbadores da teoria, já que as correlações preditas pela mecânica quântica são inconsistentes com o princípio intuitivo do realismo local, que diz que cada partícula deve ter um estado bem definido, sem que seja necessário fazer referência a outros sistemas distantes.
E o que isso tem a ver com a idéia da mente não-local?
Bem, vejo algumas implicações disso muito interessante e que, com a evolução dessas pesquisas, pode mudar de forma drástica os princípios das ciências cognitivas como um todo:
  1. Se a mente é não-local e funciona de alguma forma por entrelaçamento quântico, realmente apenas nos manifestamos como corpo numa relação convencional de tempo e espaço. Aquilo que chamamos de consciência, emana do entrelaçamento. 
  2. As relações de causa e efeito, ou seja, a idéia de karma poderia se explicar dessa maneira, pois pensamento, ação, visão, etc... poderiam ser vistas como manifestação de um sistema através do filtro cognitivo da biologia do corpo, do cérebro;
  3. Nosso cérebro, por alguma razão, tem uma estrutura que filtra nossa percepção desses fenômenos dessa forma complexa, interligada, criando a sensação que somos locais, separados, o que nos leva a gerar a sensação de identidades/egos individuais;
  4. A partir da possibilidade de descrever esse entrelaçamento, podemos ampliar nossa base de linguagem para gerar conversações sobre isso e ampliar nossa possibilidade de distinguirmos isso em nosso cotidiano;
  5. A nossa linguagem tradicional e conceitos a que estamos acostumados, tais como lógica linear, causa e efeito provavelmente terão de ser repensados;
  6. É possível descrever e ampliar a noção de acoplamento estrutural a partir da biologia para estados quânticos de acoplamento;
  7. Seria possível usar novos conceitos matemáticos para descrever a complexidade desses sistemas e visualizá-los em várias dimensões, o que por certo tem total relação com a forma que as redes se manifestam e são manifestadas pelas nossas conversações;
  8. Poderíamos refletir sobre esse tipo de influência quântica com a dimensão do que experienciamos na realidade convencional, ou seja, como essa experiência é construída e manifestada.
e segue o trem....

quinta-feira, 8 de abril de 2010

key to life

Alguns próximos passos possíveis na experimentação de Redes Sociais

Refletindo um pouco sobre a referência das mandalas (que um tempo atrás andei postando por aqui), da astrologia me veio a questão dos aspectos que nessas mandalas têm uma relevância fantástica. Não conheço muito sobre astrologia, mas é um assunto que tem me interessado devido a quão sistêmica é essa "tecnologia" considerando diversas relações do céu, dos planetas e das casas a partir do que um observador pode ver de seu local aqui na terra. Rico e forte, mostrando uma forma antiga e muito útil de se perceber, visualizar e criar um espaço para podermos refletir sobre esses aspectos em nossas várias dimensões humanas.

sem dúvida, acho que a análise estrutural de redes é muito inferior as características sistêmicas da mandala da astrologia, pois ela apenas analisa UMA relação que escolhemos e mostra os aspectos mútuos entre os envolvidos nessa relação que estamos estudando. A mandala amplia isso para vários níveis, com uma riqueza e uma dinâmica muito maior, apesar de coletar informações estáticas do céu.

também concordo que nossa prática de análise se encontra ainda muito restrita aos dispositivos que conhecemos e aos recursos técnicos que estamos aprendendo a utilizar.

acredito que há um campo de pesquisa muito interessante na questão das dimensões que escolhemos para fazer a nossa narrativa a respeito da dinâmica de uma rede. acredito que ainda estamos explorando pouco o potencial de dados que podemos coletar (para falar só dos dados) e as possíveis formas de brincar com essa informação para explicar as distinções daquilo que buscamos ver.

refletir e ir um pouco mais a fundo na experimentação dessas camadas me parece ser um caminho interessante e é um pouco por onde tenho ido. acho que temos boas pistas em alguns pontos que considero chave:

1. na linguagem e na semântica, pois nossas redes são sempre redes de conversação;

2. nos movimentos dinâmicos, nas ondas que são geradas em tempo e espaço. Por exemplo, isso que está ocorrendo nessa thread de nossa conversa traz aspectos dinâmicos de nossa relação em torno uma discussão que nos interessa por adesão. Esses aspectos dinâmicos podem ser visualizados? Podem ser sentidos como? Será que num tem outras formas de refletirmos a respeito disso?

3. nas multidimensões em nos "aspectamos" para trazer um linguajar da astrologia. Mapas com outras camadas de aspectos, em outras dimensões, ampliando a singularidade de relações. Sem dúvida, esse exercício vai nos levar a pensar em outros recursos matemáticos (Wavelets, por exemplo) para incluirmos aspectos dinâmicos do tempo, espaço. As multidimensões podem dar pistas de nossos acoplamentos em diversas redes de conversação em que nos envolvemos e somos envolvidos.

enfim, penso nesses estudos/experimentos apenas como uma forma de brincar em ampliar nossas possibilidades de autoconhecimento e reflexão. sem pretensões de metodologia/método, talvez mais como poesia do que ciência. ;-)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Refletindo sobre as potencialidades e limitações da análise estrutural de redes

Muito temos falado, usado e experimentado com a análise estrutural de redes sociais. Sem dúvida há muitos interesses envolvidos, muitas buscas por detrás desse interesse todo, além do forte hype que o marketing digital tem feito em relação ao tema mídias sociais e que têm deixado muitas empresas e consultores desesperados em encontrar formas de demonstrar a eficácia de suas estratégias.

Como esse tem sido um tema que tenho estudado fortemente, principalmente porque me interessam muito os aspectos visuais dessa técnica, fiquei refletindo sobre o que considero a força da análise de redes e sobre o que considero como sendo suas limitações. Vamos lá:

  • Pontos fortes da Análise Estrutural de Redes Sociais:
    •  oferece alguns bons algorítmos matemáticos, a partir da Teoria dos Grafos, para coletarmos informações a respeito de uma relação específica que queremos estudar e poder correlacionar toda essa informação. Por essa razão, vejo que há um ganho do ponto de vista de respeitar a complexidade de um sistema, sendo um elemento que nos ajuda a perceber isso;
    • permite, a partir da estrutura de relações que queremos analisar, um conjunto muito grande de possibilidades de visualização dessa informação, facilitando novamente a percepção de algo complexo e, em geral, com um grande volume de informação para se tratar;
    • conhecer a estrutura de uma rede, a partir de uma escolha de uma relação a se olhar, ajuda a perceber algumas sutilezas da dinâmica dessa relação. A estrutura de uma relação é como a estrutura de um prédio, ao meu ver, ou seja, permite percebermos o que se conserva no formato da estrutura e aonde podemos encontrar pontos para potenciais rearticulações a partir dos limites e características da própria estrutura;
    • a análise estrutural fornece alguns bons indicadores, tanto em nível da rede como um todo, como indicadores para os participantes da rede. Isso nos ajuda a comparar redes a partir das análises de relaçõe semelhantes (como análises de co-autoria em publicações, por exemplo). Comparar redes, se for algo muito específico, limitado e focado numa relação que estamos estudando, pode ser útil para contextualizar momentos de uma comunidade, enxergar fases de evolução, perceber ações que podem modular mais ou menos um determinado tipo de emergência. Vale frisar aqui que modular não significa controlar, significa estimular. Como o sistema vai responder a isso depende unicamente de sua coerência interna, algo que, até agora, acho difícil termos uma compreensão exata devido a alta complexidade de elementos que entram em jogo aqui.

  • Pontos de limitação da Análise Estrutural de Redes Sociais (onde não deveríamos misturar coisas e concluir de uma forma bem questionável):
    • é muito complexo concluir coisas genéricas a partir da análise estrutural de redes. Por exemplo, dizer que uma rede é mais ou menos colaborativa, dizer que é melhor ou pior para uma determinada tarefa, observar pontos da rede e por seu posicionamento tomar decisões como promover ou demitir alguém de uma equipe.  Essas visões são sempre subjetivas, complexas, envolvem sutilezas enormes e uma análise estrutural não vai nos contar isso. A análise não serve para avaliar as coisas dessa forma. Usar a análise de redes para isso é subjulgar uma rede, é partir da complexidade de redes para tomar decisões lineares, é usar para controle, hierarquia e dominação o que é essencialmente um processo de conversação;
    • a análise estrutural não é absoluta para se analisar uma rede. Ela não analisa uma rede, ela analisa uma relação dentro de uma rede. Isso pode parecer algo simples, mas não é. Na realidade, na minha opinião, é o que faz toda diferença na utilidade e onde podemos usar o método, e onde começamos a querer colocar nossas forças de controle para fora e concluir coisas a partir de um absurdo solitário. Analisar uma relação é analisar um ponto específico, uma dinâmica específica na quase infinita multiplicidades de relações que se dão nas dinâmicas de interação humana nas conversações em rede. Por exemplo, analisar as interações entre quem publica e quem comenta posts de um blog pode ser muito interessante se ficar focado nesse aspecto da rede, pois esse tipo de análise ignora as pessoas que lêem os posts, que trocam emails sobre eles, que twittam, que conversam em outros ambientes sobre o que lêem, que refletem solitárias sobre isso no domínio da sua reflexão de linguagem e são impactadas, afetadas criando novas derivas no seu viver e isso jamais ficará registrado em um sistema. Por isso, volto a dizer, não estamos analisando uma rede, estamos analisando relações pontuais dentro da complexidade dinâmica de uma rede.
    • os limites da análise estrutural são pontos que podem estimular novas pesquisas, podem nos levar a refletir como podemos usar esses métodos em contextos onde eles façam sentido e ir buscando alternativas, narrativas, arte, poesia, derivas, sonhos, utopias que podem ser acopladas e permitir mais um olhar que pode compor com a análise estrutural de redes sociais e ser mais uma dimensão no campo complexo de estudo das redes.
    • só se conhece uma rede vivenciando a rede. A rede é uma rede de conversações que vai criando e sendo criada pela cultura das conversas. Isso não é estrutural, é biológico, é linguístico e ocorre em múltiplas dimensões. 
    • toda a coerência estrutural que estudamos pode mudar repentinamente por elementos que estão fora do alcance da análise de estruturas. 
E sigo refletindo a partir do meu viver em rede... ;-)

Uma história sobre Maya

"Havia há algum tempo um homem chamado Dârana, ele era um homem sábio e um dia foi agraciado a realizar um desejo, pediu então ao deus Shiva para conhecer maya, e este disse que o seguisse, quando eles chegaram em um vilarejo Shiva disse que queria um pouco de água, e Dârana foi buscar. Quando bateu à porta de uma casa encontrou uma mulher linda, imediatamente esqueceu o que foi fazer ali, entrou e conheceu os pais da moça, casou-se com ela, teve três filhos, e após doze anos regeu a fazendo da familia.

Então, um dia, uma enchente acabou com a fazenda, inundou e matou todo o gado, Dârana tentou fugir com os filhos, mas eles morreram afogados, sua mulher tb e ele diante da tragédia de sua vida se pôs a chorar...

Logo ouviu a voz de Shiva a dizer-lhe:

-- 'Cadê meu copo de água, meu filho´?"

(Trecho extraído do livro: "Imagens e símbolos" de Mircea Eliade).

domingo, 4 de abril de 2010

Conversações, redes e reflexões sobre as mudanças culturais que queremos

Feriado de páscoa, bom tempo para organizar algumas coisas nos estudos, refletir um pouco e fazer algumas sínteses.

A leitura do A árvore do conhecimento do Maturana e Varela abriu alguns espaços de reflexão fundamentais para pensar melhor sobre a Internet, as redes sociais, as formas que conversamos em nosso cotidiano e como isso acaba sendo aquilo que nos constitui e que constituímos com o nosso viver.  Me animei a continuar estudando o trabalho do velho biólogo e caiu na mão o Cognição, ciência e vida cotidiana. Separei alguns trechos dele que acho bem pertinentes para ampliar essa conversa:

  • "... qualquer configuração de conversações que começa a ser conservada em nosso viver, torna-se daí em diante o mundo em que vivemos, ou um dos mundos que vivemos." pág. 180;
  • "Chamo de conversação nossa operação nesse fluxo entrelaçado de coordenações consensuais de linguajar e emocionar e chamo de conversações as diferentes redes de coordenações entrelaçadas e consensuais de linguajar e emocionar que geramos ao vivermos juntos como seres humanos." pág. 132;
  • "... as palavras são nós nas redes de coordenações de ação e se ligam às coordenações de ação." pág. 88;
  • "... como seres humanos existimos no fluir de nossas conversações, e todas as nossas atividades acontecem como diferentes espécies de conversações. Consequentemente, nossos diferentes domínios de açõesredes de conversações (domínios cognitivos) como seres humanos (culturas, instituições, sociedades, clubes, jogos, etc.) são constituídos como diferentes , cada uma definida por um critério particular de validação, explícito ou implícito, que define e constitui o que a ela pertence." pág. 132;
  • "As culturas são redes fechadas de conversações, conservadas geração após geração através do aprendizado das crianças que nelas vivem. Como tais, as culturas mudam se mudar a rede fechada de conversações que as crianças aprendem enquanto vivem nela, e uma nova rede fechada de conversações começar a ser conservada geração após geração através de seu viver." pág. 198.
 Há uma forma de olhar para tudo isso que muito me interessa e que tem muito a ver com o que venho pesquisando, sentindo e querendo nos últimos anos. Vejamos se consigo traçar a forma que estou compreendendo a relação entre as passagens que menciono acima:
  • Surgimos como humanos a partir do nosso fluir nas redes de conversação que surgem na linguagem;
  • As redes de conversação quando são conservadas ao longo das gerações formam culturas, ou seja, domínios cognitivos reflexivos e relacionais;
  • São domínios de ações, onde agimos pela conservação da rede de conversações;
  • Conservamos a rede e a estrutura da rede pelo uso da linguagem;
  • As redes de conversação quando conservadas acabam por constituir nossa cultura;
  • Podemos mudar a cultura quando mudamos as redes de conversação e novas redes passam a ser conservadas pelas gerações.
 Algumas perguntas que me motivam a partir disso:
  • Criando novas redes de conversação abertas e livres de pressão hierárquica e autoritária, podemos criar novos espaços relacionais que mudam a cultura vigente de muitas das organizações onde atuamos?
  • Criar espaços e possibilidades de refletirmos sobre as nossas redes de conversação, sobre a estrutura delas e o que essa estrutura conserva como cultura é criar uma reflexão que amplia a possibilidade de nos conscientizarmos e questionarmos a cultura que conservamos?
  • Podemos criar processos de trabalho (novas redes de conversação) a partir disso, ou seja, podemos estimular mudança organizacional dessa maneira? Esse tipo de mudança organizacional cabe dentro das organizações que são constituídas com que fins?
  • Se estudarmos as redes de conversação de uma organização (semântica e estrutural) e se criarmos novos espaços relacionais que visualizem essas redes, se conscientizem delas e reflitam sobre elas, estamos respeitando a complexidade, a diversidade e liberdade dessas redes? Isso nos tornaria mais inteligentes, mais compromissados com nosso próprio caminho, com nosso próprio fazer, mais responsáveis pelas nossas próprias atitudes a ponto de nos relacionarmos de forma mais ampla, mais clara e mais conscientes com nossas escolhas?
  • Isso tudo tem a ver com criar ambientes de convivência (estudos, trabalho, lazer, etc...) mais interessantes da perspectiva de melhorar as possibilidades de manifestação individual e coletiva das nossas potencialidades humanas como fluxos que constituem e são constituídos por nós na linguagem e nas redes de conversação em que nos criamos?
Enquanto isso, continuo a brincar com visualização de redes sociais, semânticas e pensando em como ampliar a consciência da a partir da reflexão das nossas redes de conversação...

Resumo do livro "A ontologia da realidade"

A Ontologia da Realidade                                                            

sábado, 3 de abril de 2010

Duas formas de visualizar palavras-chave de busca para um site

Analisando as palavras-chave que os usuários consultaram no Google no mês de março para visitarem o site JuventudeSP, fiquei pensando em como utilizar essa informação de uma maneira mais interessante do que apenas analisando a frequência de aparecimento delas. Aproveitei a vontade de brincar com o ManyEyes da IBM paragerar algumas visualizações que podem mostrar um pouco mais do que está por detrás das 3768 pesquisas que foram feitas no Google neste mês. Vejamos:


Acredito que várias análises interessantes possam ser feitas disso aqui. Mas, a primeira vista e olhando um pouco para o que a web nos apresenta como relevantes e que traz visita para o site é:
  • busca de informações sobre supletivo;
  • cursos, escolas e estudo... Dá para quase dizer que a Web nos torna relevantes quando o conteúdo está relacionado a juventude e escola, juventude e cursos, o foco está essencialmente em estudo, apesar do site atuar em outros focos como trabalho, saúde, diversão e política;
  • particularmente, atribuo isso ao vácuo da presença da educação pública na web, com sites de difícil indexação, baixo nível de atualização e interatividade. Ao que parece, estamos ocupando um espaço na web que está bem focado em educação. Hummmm....

Categorias de análises de redes sociais

Avançando na pesquisa do doutorado, tirei uma parte do feriadão para compilar algumas categorias de estudos que fazem análise de redes sociais para já ir definindo a série de estudos que farei no Univerciencia.org. Em bom tempo... ;-)


quinta-feira, 1 de abril de 2010

inspiração é ativação

inspirar é transformar imaginários em espaços relacionais, criando, através da linguagem, novas possibilidades de relações a partir daquilo que podemos fazer juntos.

inspirar é encontrar o que podemos fazer juntos, o que queremos e sentimos prazer de fazer juntos.

inspirar é dar espaço para que essas conversas possam fluir, sem o medo das identidades que regulam e dizem o que é certo ou errado a partir dos nossos desejos.

inspirar é responsavelmente perceber os espaços relacionais que podemos criar e aceitar ou não participar deles.

uma rede pode ser ativada por inspiração, por espaços relacionais livres e respeitosos das multiplicidades que se apresentam.

pensando em colaboração

"Há várias maneiras de relacionar-se entre as pessoas. Algumas são de autoridade. Sou o chefe, os que me são subordinados me obedecem. Os subordinados estão subordinados aos desejos, às ordens, às aspirações dos chefes. O chefe diz “eu quero tal coisa”, e isso é uma ordem. E o subordinado, sem questionar, faz. Essa é uma forma. A outra forma é que várias pessoas se encontram em um lugar e se movem com independência umas das outras, o que um faz não afeta os outros. E outras formas são aquelas nas quais diferentes pessoas interagem entre si, não em uma relação de autoridade e subordinação, não em uma relação de completa separação, mas fazendo coisas juntos. Este fazer coisas juntos pode conservar-se no prazer de fazê-las juntos ou derivar à subordinação ou à dispersão. Quando se conserva o prazer de fazer as coisas junto, se conversa. O que um diz não é uma exigência para os outros. É um convite, uma reflexão para gerar um fazer conjunto. Não se vive como isso uma ordem nem como indiferença, se vive como participação, um fazer de todos eles, no qual o que cada um faz é coerente com o que fazem os outros desde a autonomia, por meio da compreensão do que se está fazendo junto. Isso é o que queremos dizer quando falamos de colaboração. Esse espaço acontece em uma conversação, em uma co-inspiração. Por exemplo, aqui estamos juntos conversando, como resultado de uma co-inspiração. Em algum momento se sugere a necessidade de uma reunião, e isso se converge no fato de que estamos juntos e nos escutamos. Não há uma relação de autoridade, não estamos dispersos, mas estamos fazendo algo juntos que é uma entrevista, uma conversação, e tem um caráter que vai depender da natureza do que se faz. Mas, que está associado com o momento de estar aqui, de querer estar aqui, de fazer coisas que vão surgindo desta interação que não é de autoridade, e que não é de dispersão."

Trecho de uma entrevista de Humberto Maturana e Ximena Davila ao Instituto Ethos. 


Construímos o nosso sentido de estar juntos a partir de nossa capacidade e vontade de querer conversar. Havendo isso, uma rede, um grupo de trabalho tem as condições necessárias para ser saudável aos que dela participam e criarem suas próprias formas de apropriarem e se acoplarem a mais esse domínio relacional que é criado.


Conversamos em rede porque assim o desejamos, porque assim faz sentido, porque assim encontramos motivação para continuar fluindo por aquele espaço. Conversamos em rede porque sentimos prazer nisso. É bastante simples, mas pontua uma forma de ver as coisas que pode nos ajudar a facilitar o nosso fazer nos projetos que atuamos. 


O foco de um processo de ativação é esse prazer de conversar, o prazer de estar em relação. Entendo que esse prazer resido na própria dinâmica da relação, o que é algo singular e diz de cada um que atua.


Se não é isso o que ocorre entre nossos possíveis contatos, iremos:
  • ou nos dispersar e habitar outros territórios;
  • ou nos subordinamos, por que assim nos é conveniente, e nos relacionarmos a partir de um ponto de vista que considera o "certo" e o "real" como algo objetivo e mediado por apenas um lado da relação. Certamente, estaremos vivendo algo outro que colaboração.