sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Experimentando o olhar na evolução das redes ... animando grafos

Começando a gerar alguns experimentos que facilitem visualizar e se dar conta de como as redes produzem movimentos de sincronia, movimentos de remix de posições ao colocarmos em movimento as relações como se estabelecem no tempo.

A experiência abaixo é a partir dos dados da rede Univerciencia.org, uma rede de co-autoria entre pesquisadore que publicam em revistas da área da Ciência da Comunicação.


sábado, 17 de dezembro de 2011

Desdobramentos de conversas sobre as análises da Rede Conversê.org

No meio desse ano, comecei a avançar em experimentos mais concretos sobre algumas hipóteses de como estudar redes a partir de suas bases de dados. Lá em Durban, em julho, comecei a brincar com a base de dados da rede Conversê.org, uma ação fundamental que foi executada no âmbito do projeto Cultura Digital por gente querida na busca por ampliar os espaços coletivos e de conversação que existiam nos projetos culturais até então.

Experiência rica, intensa, o que só me motivou mais a querer trabalhar com ela. Comecei a construir um artigo que buscasse sintetizar alguns modos interessantes que eu gostaria de mostrar sobre como essa rede se desenvolveu ao longo de seu tempo de existência. Escolhi o formato de artigo por ser uma estrutura formal o suficiente para meu desejo de organizar as informações necessárias para obter o efeito que eu estava buscando naquele momento: menos discurso aberto, mais síntese de movimentos.

O artigo foi publicado essa semana na revista Em Questão, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A primeira coisa que fiz foi apresentar o resultado do trabalho para as redes Estúdio Livre e Metareciclagem, por onde ainda circulam várias pessoas que participaram da concepção, implantação e desenvolvimento do projeto Conversê. Meu desejo: conversar, ouvir comentários, críticas, ampliar minha capacidade de olhar para aquilo que tem me interessado nos últimos tempos.

Começou uma conversa muito interessante, puxada pela Fabi Borges e que vale relatar por aqui:

"fabi,

 tuas questões são um ponto chave...
 
2011/12/17 fabi borges <catadores@gmail.com>:

> pq esses usuarios nao mantiveram interesse?
> entra ahi um problema de design?
> ou ainda, por falta de "cultura" de colaboracao?
> Seria pq estava atrelada ao ESTADO e isso dava sensacao de que nao era
> horizontal de fato, que nao tinha poder de fato??--


de fato, são perguntas como essas que têm me movido a estudar as coisas desse modo.
escutei e escuto muitos discursos bonitos, floridos falando sobre redes, sobre projetos que eu participe e que, por experiência, eu sabia que o que aqueles discursos revelavam estava longe da minha percepção empírica das coisas.

mas, como demonstrar isso? com mais contra-discurso apenas, ficaria só mais uma versão da história. os gráficos e análise ajudam a embasar um pouco mais, apesar de não resolverem essas perguntas, como você bem colocou. dão um grau a mais para outras versões da história.

algumas hipóteses minhas:
  • não acho que seja problema de design;
  • não acho que seja falta de cultura de colaboração;
  • não acho que é pelo papel do "estado";
  • acho, e tenho buscado coletar, compilar, refletir sobre evidências mais fortes nesse sentido, que tem muito a ver com dois modos que podem se complementar de enxergar redes:
    • as redes auto-organizadas que emergem por si só: metareciclagem, é um exemplo disso. o contexto convoca, as pessoas se encontram pq que querem, por que sentem que ali encontra a força de uma conversa que não acontece em outro lugar. É como se uma certa vibra corresse no ar, instigando em diferentes modos a vontade de fazer algo que acaba se tornando num contexto de rede.
    • as redes construídas por projetos ou ações que visam promover coletivos e ampliar o potencial de auto-organização de grupos: esses são bem mais complexos, pois envolvem uma questão crucial pra mim: cuidado e afeto. Se as pessoas encontrarem em redes gente disposta a recebê-las, acolher de fato, conversar, responder, cuidar, demonstrar interesse verdadeiro (não a vontade de vender e fazer o ritual canibal marketeiro número 2), coisas muito interessantes podem acontecer. Mas, investir num processo desse demanda tempo, demanda muita, mas muita energia na vontade e disposição de conversar. Poucas redes que eu conheço se propuseram e conseguiram executar isso bem feito. Alguns exemplos, como a Rede Humaniza SUS, a rede Telecentros.br (os monitores de telecentros) caminham nessa vertente e dão boas pistas de como investir energia e inspiração nesse sentido.
  • Acho que a rede Conversê tentou ficar num misto disso, não fazendo nenhuma e nem outra. Mas, isso é só uma hipótese...

bjs,
dalton"

E assim segue a conversa...



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Apresentando no III Seminário do programa de pós em Ciência da Informação na ECA/USP

Ano bom, ano forte. Muita mudança, novos pontos de vista, novas possibilidades, muitos deslocamentos de lugares já consolidados abrindo espaço para novas formas de se ver para tantos lugares já conhecidos.

Enfim, caminhos. E esse foi um ano de muito trabalho de análise, de síntese, de reflexão, de se recolher mais para pensar, de falar menos. Ontem, num importante momento de síntese, todos os colegas e companheiros que estão fazendo pós no mesmo programa que eu, na Ciência da Informação - ECA/USP, e qualificaram no ano de 2011, se reuniram num seminário para apresentarem o andamento de seus trabalhos de pesquisa, seja de mestrado ou doutorado.

Conversa boa, revendo gente amiga, compartilhando as preocupações, as inquietações, os modos de pensar, os modos de escrever. Fui pra lá também apresentar o andamento da tese, os primeiros resultados que consegui gerar a partir das últimas semanas em que trabalhei bastante num script php para extrair e organizar os dados da base de modo que me permita os cruzamentos necessários. Processo extremamente divertido, relembrando de muitos caminhos da programação, dos tipos de raciocínio, dos meios de chegar a um ponto.

Fica o registro da apresentação, fechando mais esse ciclo.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Modelando a função apoio na Rede Humaniza SUS: explorando possibilidades com Drupal

A modelagem de sistemas complexos tem sido um assunto que tenho explorado por aqui nas últimas semanas. Um ponto que tenho buscado deixar evidente é que esses insights todos da complexidade não devem servir apenas para que possamos analisar sistemas, concluindo coisas interessantes, porém ficando muito restritas a domínios acadêmicos de pesquisa. Creio que podemos muito mais a partir disso, sendo que o ponto em que vejo uma avenida de possibilidades é o fato de levarmos em consideração alguns desses princípios na criação de sistemas, na modelagem de modos de promoção de redes, encontro de pessoas e situações do nosso cotidiano que poderiam simplesmente serem pensadas levando em consideração outros tipos de variáveis que ainda não estamos propriamente acostumados a levar.

Bem, saindo para caminhar na manhã de hoje comecei a lembrar da reunião que tive com o pessoal da Rede Humaniza SUS nessa semana. Um dia onde os editores se encontraram aqui em São Paulo para discutirem seus novos modos de se relacionar, dado que tudo indica que para o ano que vem esse grupo vai poder ser parcialmente remunerado pelo trabalho que faz. Ouvindo essas pessoas que atuam já a alguns anos, no caso de alguns, de modo voluntário no cuidado, acolhimento e gestão dessa rede falarem de sua paixão pelo SUS, pelos modos de fazer política, pelo jeito de continuamente se reencantar pelo trabalho que desenvolvem e, sobretudo, pelo jeito que pensam a saúde, fui ficando impactado por essas impressões... De pano de fundo, fui guardando uma vontade de usar esse efeito, o impacto das conversas, para pensar em como a modelagem de complexidade (o encanto do momento) estaria a serviço dessas coisas todas que ouvi...

E caminhando um pouco mais fui lembrando da importância que há na política de humanização para a função apoio (o tal do devir apoiador). Lendo alguns trechos da tese de doutorado do Gustavo Nunes, atual coordenador da PNH junto ao Ministério da Saúde, encontrei logo no começo, em seu resumo, um bom disparador para o pensamento:

"O apoio, tomado como uma função, inscrita em arranjos concretos que põe em relação sujeitos com diferentes desejos e interesses, com a missão de ativar objetos de investimento mais coletivos e de apoiar esses sujeitos na ampliação de sua capacidade de problematização, de invenção de problemas, de interferência com outros sujeitos e de transformação do mundo e de si, implica em uma tarefa
clínica-crítica-política.
"





A definição provocou pensar um pouco mais na relação que isso tem com o sistema Drupal, que usamos para o desenvolvimento da rede, que já está próxima de seus quase 4 anos de existência. Acontece que o Drupal é um sistema criado com uma arquitetura muito interessante enquanto modelo de software, permitindo criarmos processos que seriam muito mais difíceis em outros tipos de programa. Vou tentar resumir aqui essas características que podem servir como disparadores de ideias para futuros desenvolvimentos:
  1. qualquer elemento no Drupal pode ser modelado como um node, ou seja, pode virar uma espécie de nó do sistema, onde podemos conectar funções, ganchos (os famosos hooks do Drupal), eventos e fluxos específicos de execução (organizados em etapas, por exemplo);
  2. quando qualquer node é acessado, o Drupal usa um sistema chamado bootstrap, que pergunta a todos os módulos instalados se eles possuem algum hook relacionado a algum evento relacionado ao tipo do node. Por exemplo, quando um nó é visualizado, o Drupal percorre todos os módulos para verificar se eles possuem algum hook que irá afetar a visualização daquele tipo de node, seja modificanto visualmente, seja incorporando alguma nova funcionalidade;
  3. quando qualquer evento no Drupal acontece, ele permite identificarmos essa evento e relacionarmos alguma ação específica, naquilo que o Drupal chama de sistema de Triggers. Isso, por si só, é algo realmente muito interessante, permitindo que possamos modelar uma série enorme de funcionalidades quando os usuários do ambiente fizerem alguma ação que possa ter desdobramentos disparadores... Tá começando a ficar quente aqui!
Dado breve contexto sobre o Drupal, fiquei pensando na relação disso com a função apoio, sobretudo no aspecto de colocar em relação sujeitos com diferentes desejos e interesses...

Foi então que me ocorreu a ideia de modelar o apoio como um node do Drupal, onde poderíamos associar funções, eventos e utilizar o gerenciador de Triggers para, conforme os tipos de eventos associados a função apoio, conectar pessoas, criar links, fazer pontes, estabelecer novas relações e fomentar a ativação desses objetos de investimento mais coletivos, como bem diz a descrição acima da funçaõ.

Brincando com isso, comecei a esboçar um infográfico para dar um pouco mais de corpo na ideia:



A ideia da brincadeira seria:

  1. modelar um node em drupal para a função, permitindo que pessoas pudessem se inscrever oferecendo apoio em determinados tipos (categorias fixas e emergentes), por região, pelo karma que possuem na rede, pela disponibilidade de tempo online;
  2. permitir que pessoas que queiram solicitar apoio, pudessem também se inscrever nesse node, usando também critérios similares de seleção;
  3. assim que um node apoio fosse criado, algoritmos analisariam os filtros selecionados e disparariam um evento, se assim houver, de criação de um novo node chamado conversa, agrupando essas pessoas que queiram oferecer e solicitar apoio. Esse node de conversa poderia servir como uma região em tempo síncrono e não-síncrono, onde essas pessoas formariam uma espécie de grupo temporário de apoio naquela situação, naquele contexto, naquele tempo em que isso fizer sentido.
Enfim, um ideia que escala de modo não linear, conectando desejos, evidenciando potências e modos de relação que podem fazer muito sentido quando apoiadas por um jeito de se fazer política que se baseia na riqueza dos encontros como meio de reencantamento das relações.

Agora, é avançar na modelagem, experimentação em DEV e analisar possíveis efeitos. vqv! :-)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Algumas razões pelas quais a modelagem de sistemas complexos ainda vai nos levar a um outro nível de compreensão do mundo

Buscando na web por esses dias achei um texto fantástico, bem escrito e de fácil compreensão sobre as mútiplas portas no conhecimento e na visão de mundo que a modelagem de sistemas complexos abre para os imaginários humanos.

De tão bom, resolvi reproduzir aqui um bom trecho desse documento, que veio do documento que institui o programa de pós-graduação em modelagem de sistemas complexos da Usp Leste.

" Embora não exista uma definição ampla consensual, Sistemas Complexos são identificáveis por exibir comportamentos que têm sido sistematicamente enumerados pela literatura nos últimos vinte anos1, detalhados na lista não-exaustiva apresentada a seguir: emergência, transições de fase, universalidade, adaptabilidade, auto-referência, auto-organização, imprevisibilidade, padrões de interação com regularidades não-triviais, causas múltiplas com efeitos não-lineares e invariância em escala.

1. Emergência: Um fenômeno é emergente quando surge como resultado da interação dos elementos constituintes do sistema e não pode ser descrito somente em função das características isoladas de tais constituintes. O estado de agregação de moléculas de água, por exemplo, é uma propriedade emergente: uma molécula de água não pode ser definida como sólida, líquida ou gasosa, pois são propriedades que podem caracterizar somente agregados de moléculas de água, dada a interação. O sistema de preços de uma economia constitui outro fenômeno emergente, pois é resultado da interação entre agentes de mercado. Da mesma maneira, uma comunidade com suas instituições, língua e cultura é um fenômeno emergente, sendo resultado da interação de indivíduos e grupos de indivíduos.

2. Transições de fase: Mudanças nas estatísticas de um sistema, dadas mudanças em parâmetros de controle, são denominadas transições de fase, que podem ser contínuas ou descontínuas. Assim, por exemplo, as propriedades coletivas (estatísticas) da água mudam abruptamente de acordo com temperatura e pressão. Outro exemplo é a mudança observável em estatísticas de violência de acordo com parâmetros controláveis por meio de políticas públicas.

3. Universalidade: Detalhes do comportamento dos constituintes de um Sistema  Complexo freqüentemente não são importantes para o comportamento agregado (médio). A densidade de gases diferentes, por exemplo, como oxigênio, metano, argônio, neônio e monóxido de carbono, variam; exceto por fatores de escala, de forma idêntica com a temperatura. O mesmo ocorre com a distribuição de alturas, pesos e pressão arterial em uma população, ou a distribuição de votos entre candidatos em eleições. Observa-se, também, que a distribuição de tamanhos de firmas ou flutuações no mercado financeiro possuem um padrão comum, que pode ser, então, considerado universal.

4. Adaptatividade: A capacidade de modificar o próprio comportamento de acordo com mudanças no ambiente é uma característica comum em sistemas biológicos e socioeconômicos. Assim, firmas respondem às mudanças no mercado, indivíduos aprendem com a experiência, ou células sintetizam proteínas de acordo com a concentração citoplasmática de reguladores.

5. Auto-referência:
Sistemas Complexos, em particular sistemas socioeconômicos, respondem aos resultados de suas próprias ações. Por exemplo, previsões econômicas podem produzir comportamentos que, conseqüentemente, resultam justamente na concretização das previsões. Por exemplo, se os agentes esperam que o nível geral de preços aumente, podem desejar proteger-se antecipando os efeitos da ocorrência da inflação, corrigindo os preços para cima.

6. Auto-organização: Interações locais produzem ordem em escala global. Exemplos típicos são o comportamento de pedestres e a cadeia produtiva em uma economia de mercado.

7. Imprevisibilidade:
Mesmo quando regido por equações inteiramente determinísticas, o comportamento de um sistema complexo pode ser imprevisível. Alguns exemplos clássicos são o clima, a dinâmica de populações e as séries temporais biológicas. O mesmo tipo de fenômeno pode ser observado em sistemas socioeconômicos, na forma, por exemplo, de choques de oferta no mercado mundial, como ocorreu no caso do petróleo nos anos de 1973 e 1979.

8. Redes complexas:
Sistemas Complexos apresentam padrões de interação que não são inteiramente regulares (como casas de um tabuleiro de xadrez), nem inteiramente irregulares (como traços aleatórios). Em geral, redes de relações se auto-organizam localmente, de maneira aparentemente aleatória; no entanto, apresentam uma ordenação global. Redes complexas apresentam alguns poucos nós com muitas conexões e diversos outros nós com poucas conexões, apresentam distâncias médias entre nós reduzidas, que redundam em uma capacidade de influência maior do que aparentam. Exemplos de redes complexas são relações sociais, interesses acadêmicos, cadeias alimentares, rotas aéreas, cidades conectadas por estradas, links em páginas da internet, relações comerciais e proteoma celular.

9. Causas múltiplas e efeitos não-lineares: Em fenômenos socioeconômicos e biológicos, as causas dos fenômenos são, em geral, múltiplas e interativas entre si. Uma pequena variação em uma ou mais das causas pode redundar em uma grande mudança nos efeitos observados. Técnicas estatísticas que suponham comportamentos lineares dos sistemas não são capazes de lidar corretamente com algumas ou ambas características.

10.Invariância em escala: Padrões complexos podem ser obtidos pela aplicação repetida de regras simples em escalas diferentes (temporais ou espaciais). Os exemplos de invariância em escala são alvéolos pulmonares, distribuição de rendas altas, tamanho de cidades e população de cidades."






Olhar para os sistemas, pensar em possibilidades de análise e mesmo de produção de novos modos de relação e conversação que levem esses 10 elementos em consideração me parece uma forma bastante interessante de experimentar o novo em si. :-)

Novos protocolos: imaginários em modos de presença, interoperabilidade e disponibilidade em tempo real

A ideia de brincar com a modelagem de protocolos é algo que faz parte do imaginário já a algum tempo, sobretudo desde os tempos de laboratório na época do mestrado, ainda na Unicamp. O tempo se passou e outras coisas foram tomando a atenção, foco e o brilho que movimenta e convoca para a ação. Mas, a ideia continuou ali, me encontrando em vários momentos em que pesava a limitação de interatividade que eu acabava por perceber nos sistemas, redes e ambientes nos quais estive envolvido de algum modo nos últimos anos.


As coisas giram e cá estou eu novamente, voltando para a pesquisa a partir de outro giro da espiral, com outros modos de ver e entender as coisas, com melhores níveis de leitura de mundo e um pouco mais de clareza de para onde ir.



A modelagem de sistemas complexos tem me seduzido com bastante intensidade e tenho falado sobre isso aqui em vários posts, sobretudo em 2011. Modelagem não tem apenas o aspecto de análise daquilo que existe, mas também (e isso pode ter MUITO potencial ainda a ser explorado em termos de possibilidades do imaginário) de possibilitar que criemos novos sistemas, que criemos modos de interoperar e se relacionar que possam ser pautados por outros valores além daqueles que já conhecemos e talvez não gostemos.


Bem, saindo da boa conversa e fundamental teoria, tenho me proposto em conversas com alguns parceiros do além rede, a começar um exercício de modelagem, proposição e experimentação com um conjunto de tecnologias que teria por objetivo propor formas mais distribuídas, descentralizadas e autônomas de comunicação e interação em rede.


Com uma boa provocação do José Murilo, atualmente na Coordenação de Cultura Digital do MinC, mas mano véio de várias paradas de estradas desde os velhos tempos de metáforas, comecei a exercitar os imaginários na ideia de produzir uma interface que pudesse:

   1. permitir que qualquer autor pudesse publicar uma obra (seja ela em que formato for), conectado um nível de direito autoral;
   2. permitir que qualquer autor tivesse uma única chave primária de identificação nesse ambiente;
   3. permitir que o modo de armazenar esses dados não fosse centralizado, estando distribuído em vários níveis e categorias de servidores com alguma forma de certificação para fazerem parte dessa rede;
   4. permitir que qualquer aplicação pudesse se conectar nessa rede, bastante apenas que criasse alguma interface com uma API de acesso, permitindo que dados pudessem ser remixados de qualquer modo possível;
   5. permitir que diferentes serviços pudessem ser gerados a partir desses dados armazenados, estando apenas limitados pelo nível de exposição que o próprio autor decidisse em relação ao seu perfil;
   6. permitir que redes, redes e mais redes pudessem ser montadas a partir de diferentes modos de combinação dessas informações;
   7. permitir que o protocolo não apenas servisse para circulação descentralizada de informação, mas fosse base também para identificação, presença e interatividade em tempo real.

 Bons desafios, vários caminhos possíveis, ora mais centralizados, ora menos. Acontece que há várias tecnologias livres, de padrões abertos e normalizadas por institutos internacionais (assim como TCP/IP, HTTP, FTP, etc...) que poderiam ser modeladas em camadas para uma arquitetura de aplicação em rede que desse conta desses 7 pontos acima listados.


Pensei um bocado sobre isso e acho, e continuo achando, que um trabalho desse não pode ser feito por apenas uma pessoa e que valeria a pena que fosse feito em encontro de muitas visões, saberes, experiências. Criar algo desse modo envolve muito mais que tecnologia, envolve um nível de relação entre pessoas que extrapola as limitações do que minhas linhas de código podem prever.


De qualquer modo, enquanto isso ainda não acontece, comecei a brincar com modelos possíveis, provocativos de outras conversas que possam se interessar por expandir, criticar, derivar essa ideia inicial.


Segue aqui abaixo o primeiro modelo de arquitetura que comecei a desenhar:

A ideia é relativamente simples (e espero que consigamos mantê-la simples), sendo a arquitetura baseada num modelo em 3 camadas, onde teríamos:

   1. Camada de interface: é aquilo que apareceria para as pessoas e programas que iriam se conectar nessa rede distribuída. Seriam sistemas, sites, redes sociais, ambientes de governo que quisessem se conectar a plataforma distribuída, seja para alimentá-la, consultá-la ou gerar algum remix de informação que lhe interessasse;
   2. Cama de modelagem e serviços: aqui tem muito para ser pensado e experimentado. A ideia é criar um conjunto de APIs para disponibilizar modos de acesso a camada de dados que fossem mais simples. Além disso, podemos implementar usando padrões em XMLSchema estruturas de organização da informação que viabilizasse uma infinidade de workflows de troca de dados, permitindo não apenas estruturar a informação, mas como estruturar fluxos de troca, como por exemplo,
   3. Camada de persistência de dados: é aqui que ficam armazenados os dados de identificação, perfis, publicações e fluxos semânticos de trocas possíveis entre pessoas se relacionando a partir de toda essa plataforma.

A ideia é utilizarmos o protocolo XMPP como apenas o modelo de comunicação, deixando para as modelagens de modos de relação para o espaço semântico ali representado na camada 2. Enfim, um começo de modelo vai aparecendo por aqui, espero que sirva mais do que plataforma técnica, mas como elemento disparador de conversas, críticas, expansões que sirvam para brincarmos com as possibilidades de modelagem que nossos imaginários conseguirem nos levar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Apresentando no XII ENANCIB - Webmetria e análise de redes da Rede Humaniza SUS

Estive na semana participando do ENANCIB - Encontro nacional de pesquisa em Ciência da Informação.

Tinha bastante curiosidade de conhecer o encontro, ver as pessoas e as conversas que por ali poderiam rolar, dado que esse ano tenho participado de vários eventos relacionados a minha área de pesquisa no doutorado. Esse prometia ser bastante interessante, devido a relevância dele para essa comunidade no Brasil.

De fato, foi assim. 4 dias de encontro. 11 GTs acontecendo ao mesmo tempo. Umas 300 ou 400 pessoas do Brasil todo, envolvendo pesquisadores mais estabelecidos e muita gente começando, assim como eu.

Os GTs eram organizados de modo temático, facilitando com que as pessoas pudessem se programar para participar das discussões que mais lhe interessavam no âmbito de cada tema.

Eu e Dani Matielo montamos um artigo com algumas análises relacionadas a Rede Humaniza SUS, uma rede que temos ajudado a desenvolver, cuidar e experimentar uma série de premissas tanto técnicas quanto de relacionamento humano em sua gestão. Projeto importante, singular, orientador de muitas das coisas que eu penso hoje sobre redes. Falar dele no espaço do Enancib foi uma boa estrétia nessa comunidade.

Eu apresentei o trabalho abaixo no GT 11 - Informação e saúde. Boas discussões rolaram por lá, desde análises dos sistemas de informação que o SUS utiliza para "rastrear" dados e tomar decisões, até novas possibilidades de conversação mais abertas e descentralizadas como a própria proposta da RHS traz.

Depois disso, fiquei mais tempo no GT - 7, mais voltado para métricas e análise da informação. Gostei bastante dos papos também. Acho que tem muito ainda a ser feito em termos de desenvolvimento desse tipo de pesquisa no Brasil. Tive algumas boas ideias do que pretendo levar como trabalhos para os próximos anos, sobretudo relacionado a modelagem de sistemas complexos e análise dinâmica de redes, buscando mostrar como a compreensão dos aspectos evolutivos de uma rede mudam muito a visão que temos apenas de sua estrutura. Enfim, novos passos adiante...



Experimentando a ferramenta Gephi - Visualizador e manipulador de grafos

Dando uma olhada no site do Instituto de Santa Fé num curso de verão sobre introdução a complexidade que ele fazem todo ano (planejando fazer em 2013), encontrei uma referência que me despertou interesse a testar essa a ferramenta Gephi para exploração e análise de grafos.

Baixei a ferramenta e em poucos minutos tava gerando análises, gráficos e exportando imagens de grafos em vários layouts possíveis. Gostei muito da simplicidade e agilidade do que é possível gerar com ela. Sem dúvida, é mais limitada e simples do que softwares como o Pajek, que já venho utilizando a bem mais tempo e explorando outras possibilidades.

No entanto, o Gephi permite um nível interação com o grafo que eu nunca tinha visto em outro tipo de software. É muito fácil você reduzir o grafo por grau de conectividade, por grau de centralidade, por faixa de tempo, entre outros indicadores que ele te permite explorar. Promissor.

Deixo aqui abaixo um tutorial inicial de como utilizá-lo, simples e direto no ponto.



Satchita ou das experiências de música em rede




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Apresentando no I WPOSINFO - Workshop de Engenharia da Informação na Universidade Federal do ABC

Semana passada estive no I WPOSINFO realizado pelo curso de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC.

Me chamou atenção a proposta do encontro e a possibilidade de dialogar novamente com uma área por dentro das engenharias a partir de um tema que tem sido meu foco de estudos nos últimos anos:  a informação. Aparecer no seminário sendo um engenheiro de formação em graduação e mestrado, mas estando dentro das ciências sociais aplicadas pelo curso de Ciência da Informação no doutorado deu um caldo incrível. Não só a teoria da interdisciplinaridade, mas essa vivência a partir de olhares que podem se compor de fato em encontros antes inusitados.

Logo de cara, chegando a universidade, encontro dois bons amigos dos tempos de graduação que viraram professores e dão aula exatamente na Engenharia da informação, o Murilo e o Suyama. Conversa boa, lembrando de bons tempos juntos, de como o trabalho de cada um evoluiu, os caminhos de pesquisa, os espaços de encontros. Excelente primeiro contato.

Logo mais, fui apresentar um trabalho que busquei construir de modo mais técnico, dado o contexto das engenharias. A vontade de era explorar mais a análise de como a distribuição de graus de centralidade numa rede podem favorecer encontrarmos comunidades e grupos de usuários mais centrados em contatos entre si. Um pequeno estudo, aproveitando dados dos Telecentros.BR, para iniciar uma investigação um pouco mais voltada para os algoritmos que pretendo investir nos próximos meses.

Segue aqui a apresentação:



domingo, 9 de outubro de 2011

Fatores que influenciam a ação coletiva

Depois de alguns bons anos vivendo e atuando por dentro de coletivos, redes auto-organizadas e projetos de políticas públicas relacionados a modos de replicar esses processos e vivências, venho nos últimos anos me questionando mais e refletindo quais são os principais fatores que de fato influenciam esse tipo de experiência.

Não acredito que redes livres, processos de produção coletiva e auto-organização simplesmente aconteçam, sem que mais se possa pensar do como, por quê e de que modo acontecem. Acredito que há fatores que podem facilitar e tantos outros que podem dificultar experiências nesse sentido. Digo pelas próprias que já vivenciei e vivencio: não há nada trivial nelas, sendo que muitas simplesmente ocorrem devido a uma complexa composição de elementos que deram condições para que algo ali surgisse e, sobretudo, pudesse se manter.

Também não acredito que entender esses fatores seja garantia de que eles possam ser replicados em ações posteriores, levando a uma reprodução dos mesmos resultados. Definitivamente, não. Esse seria um modo de pensar no ser humano como mais um servomecanismo atuando a partir de alguma teoria de controle que pudesse ser documentada, organizada, arrumada e replicada em alguma instância. Não, não somos assim.

Mas.... Apesar de sermos únicos e singulares, atuamos a partir de condições muitas vezes semelhantes e acabamos por criar em nossa linguagem, cultura e modo de viver determinados padrões que acabam por ser replicados e fundarem modos de subjetividade bastante visíveis, reconhecíveis em várias pessoas. Alguns chamam isso de mitos, outros de tendências, outros de arquétipos, outros simplesmente não acreditam que eles possam existir. Eu me considero um dos que acredita, por uma série de experiências, evidências e vivências que empiricamente acabam por me fortalecer nessa opinião.

Acontece que o desenvolvimento da tecnologia, da ciência, da Internet e, sobretudo, das experiências de auto-organização e produção de coletivos têm fornecido cada vez mais possibilidades de estudarmos esses padrões, buscando entender que condições nos auxiliam, nos expandem, facilitam nosso encontro com o outro, facilitam a promoção do contato, da possibilidade de entendimento, de construção de relações mais flexíveis, móveis, adaptáveis e fluídas. Também nos possibilitam entender que condições travam, emperram, criam barreiras e ampliam abismos culturais que levam a mais desentendimento, falta de sentido e perspectiva, seja ela qual for.

Há condições que, quando compreendidas, visualizadas e refletidas, podem ser incorporadas em nossos modos de atuar e que podem facilitar um tanto o modo como agimos e operamos nas relações que estabelecemos. Entender como isso opera tem sido uma busca importante pela qual tenho me proposto a caminhar nos últimos tempos. O modo que venho fazendo isso é ampliar o repertório de metodologias de análise e estudo que conheço, criando condições mais favoráveis para que eu possa descrever e conversar sobre o tipo de olhar que venho propondo a estabelecer. Nada fácil, nada trivial, mas um caminho repleto de sentidos, forças e conhecimento que tem se tornado, além de divertido, encantador.

Uma das coisas que me deparei nesse final de semana e que me motivou a relatar por aqui foi um livro que encontrei quase sem querer na biblioteca do Senac Sorocaba: Trabalho em parceria - ação coletiva, bens comuns e múltiplos métodos. O livro é conduzido por Elinor Ostrom, primeira mulher prêmio Nobel em Economia em 2009 por seu trabalho com análise de ações coletivas e bens comuns.

O livro me chamou atenção logo de cara por juntar teorias tradicionais das Ciências Socias, com meta-análise e modelos de ação coletiva baseados em teoria dos agentes, algo que estudei no mestrado em engenharia da computação a alguns anos atrás e que venho retomando de alguns meses pra cá.
Achei ainda mais interessante pela fase em que me encontro, fazendo doutorado nas Ciências da Informação, uma ciência social aplicada, tendo vindo de anos de experiências, vivências e estudos relacionados as exatas, engenharias e ciências da computação. O multidisciplinar acaba fazendo mais sentido, como algo que em prática apenas junta pontos que facilitam o modo de compreender fenômenos complexos.

O livro fala de várias metodologias que ela e outros pesquisadores têm utilizado para estudar fatores que influenciam a ação coletiva, seja no compartilhamento de recursos naturais por comunidades, seja no uso de recursos financeiros em mercados altamente competitivos. Algo muito próximo a teoria dos jogos, mais com enfoque mais descentralizado dos estudos dos fatores de competição que levam a algum tipo de sucesso em jogos comerciais. O foco é outro.

Lá pelas tantas, ela salta com 3 suposições centrais que parecem fundamentar a decisão dos seres humanos em ambientes dilemáticos (pág. 289):

  • as pessoas têm informações incompletas sobre a estrutura da situação na qual interagem uns com os outros, mas podem adquirir informações mais completas e confiáveis com o tempo, especificamente em situações que são frequentemente repetidas e geram um feedback confiável para os envolvidos;
  • as pessoas têm preferências relacionadas para atingir benefícios líquidos para si mesmos, mas esses são combinados em muitas situações com outras normas e preferências relacionadas aos outros sobre ações apropriadas e resultados que afetam suas decisões;
  • as pessoas usam uma variedade de heurísticas na tomada de decisões diárias que podem levar à maximização de benefícios líquidos (para si e para os outros) em algumas situações competitivas, mas são altamente cooperativos em outras situações.

3 pontos interessantes e que abrem boas conversas. 
3 pontos que falam a partir de uma perspectiva de como as redes se organizam, considerando que são estruturas de compartilhamento e produção de relações, influências e modos de ser.
3 pontos que podem ajudar a explicar uma série de experiências e como orientam determinadas ações coletivas.

Mas, o que mais chamou atenção não foram os fatores em específico, mas sim o fato de que esses fatores não são externos a esses pesquisadores, mas eles simplesmente começaram a "enxergar" por dentro do pensamento econômico que há outros elementos fundamentais para se considerar na modelagem de sistemas que ultrapassam a ideia de competição como fator central. Essa não é uma pequena passagem. É algo bastante avançado, considerando o local de onde vem, o modo como surge e a forma que pode pautar o desenvolvimento de pesquisas, ciência e inovações importantes em modos de se pensar arranjos organizacionais possíveis. 

É criando e experimentando com esse tipo de modelagem, por mais que saibamos que são condições sempre limitadas, que expandimos os horizontes do modo antigo de pensar e criamos novos parâmetros por onde construir novos modos de fazer política, ciência, filosofia a partir de outros parâmetros éticos. 

Há um embrião de algo maior por aí que vale a pena ser observado com atenção: é na junção da ética da colaboração, um modo "espiritual" de relação e a tecnologia do nosso tempo que temos mais condições de dar contorno a novas ontologias que vão pautar a forma como vemos e entendemos o mundo a nossa volta. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Qualificação e de como as bancas acadêmicas formam redes: rabiscando estudos

Semana passada foi uma semana singular: depois de quase três anos trabalhando, qualifiquei minha tese de doutorado numa banca divertida, interessante, profunda e extremamente útil para conversar sobre os caminhos de pesquisa que tenho percorrido. A banca foi composta pelo Rogério da Costa, Rogério Mugnaini e a Sueli Mara, que tem me orientado até aqui. A conversa fluiu por vários pontos do trabalho, hora mais técnicos, hora mais filosóficos, deu para construir vários vôos possíveis e algumas boas novas possibilidades de como interpretar meu próprio trabalho. Melhor que isso, só dois.

Virada a semana, passada essa fase, começo a trabalhar na parte mais experimental do trabalho.

Comecei a explorar as possibilidades de análise que a relação de participação dos pesquisadores nas bancas de dissertação e tese na área da Ciência da Comunicação proporciona. Publico por aqui os primeiros resultados do que to conseguindo ver... São mais de 20 programas de pós-graduação conectados nessa base de dados, com dados de mais de anos de trabalhos defendidos. Os primeiros traços já mostram algo vai ser desdobrado em vários níveis de entendimento: a estrutura de uma rede formada pela circulação de pesquisadores em participações por bancas por todo o Brasil.




Boas perguntas que começam a ser respondidas: O que reflete essa circulação? Que estratégias a promovem e são promovidas por ela? Que estruturas de poder estão aqui reveladas? Como elas operam?

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Apresentando no IV SECIN - Seminário de Ciência da Informação

Fui ontem a Londrina, visitar a Universidade Estadual - UEL, participando do IV SECIN para apresentar alguns resultados de meu trabalho de doutorado por lá.

Ambiente gostoso, lugar desconhecido com cheiro de conhecido, clima quente, boas caminhadas, reflexões e boas conversas. Tem sido muito interessante para mim essa andança que tenho feito a partir do começo desse ano, indo a outras universidades, conhecer pessoas, apresentar e assistir apresentações de trabalhos de gente que está estudando e buscando se tornar um pesquisador assim como eu.

O caminho da pesquisa é fascinante por muitas razões. Mas, sobretudo, o que tem mais me atraído é a possibilidade do "livre" pensar, para quem quer e está disposto a se articular para isso. Conhecer pessoas, construir ideias, imaginar desenhos e contornos de possibilidades, conseguir tempo para experimentar e atuar a partir de outras demandas de tempo é algo singular e muito raro. A qualidade do trabalho muda, o olhar se afina para coisas que antes não pareciam fazer sentido, os fundamentos do pensamento são colocados em questão e novas janelas se abrem a partir de cada encontro.

O fundamental é se permitir a isso, se livrando de preconceitos e outros valores que podem na verdade criar níveis de engessamento que acabam te impedindo de ouvir o outro e conhecer sua perspectiva sobre um trabalho. Seja dentro da universidade ou fora, nos movimentos ativistas, políticos ou qualquer que seja, gente é gente, curiosidade é curiosidade e, sobretudo, liberdade é liberdade. Mentes livres que não precisam de contornos prévios para se definir. Elas partem do exato ponto onde estão e produzem um mundo novo em qualquer brecha que visualizam.

Frutos de conversas... Mas, apresentei o trabalho abaixo por lá.



Na conversa final, numa boa apresentação da turma por lá, fizemos algumas passagens interessantes buscando entender como uma área ainda tão pequena como a Ciência da Informação poderia agregar tanta gente de outros campos, espaços e experiências de pesquisa/trabalho.

É fato que a Ciência da Informação é um espaço muito pouco definido. Por isso, tão interessante. Sendo Ciências Sociais Aplicadas, como formalmente é pensada, acaba agregando gente que vêm das engenharias, exatas, filosofia, comunicação, e por aí vai. Um campo/espaço de conversa, lugar mal formado em passo de se formar, espaço aberto para construções de referências, pensamentos e modos de olhar para as coisas ainda livres de julgo pré-definido com o rigor do pensamento "real". Realidade em trânsito, em modos de transitar, em meios de caminhar, espaços para serem preenchidos.

Delícia de local, habitar o "entre" de vários outros locais. Ativador de imaginários, o que tem sido fundamental em tempos de transições de modos de olhar, pensar e agir.

É fato que a realidade é mágica, que pode ser construída de relance, no trânsito do pensamento em movimento de pensar. A informação é "objeto" livre de definição, objeto surgido com o objetivo de estar num sempre vir a ser definição. Metáfora interessante, útil como disparador de novos sentidos que se prestam a dissolver sentidos. Brincadeiras contínuas de modos de pensar.

Enfim... muito foi disparado nessa conversa de ontem a tarde. Feliz de ter participado e ver esse tipo de papo acontecer em locais que jamais imaginaria encontrar esse tipo de interface. Ainda só começando... ;-)




segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Apresentando no X Cinform - Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação

Na pegada desse ano, parte dos objetivos de trabalho passa por sistematizar melhor as pesquisas que tenho feito para o doutorado, enviando artigos e participando de eventos apresentando resultados do trabalho.

Processo relativamente novo, interessante e, de qualquer maneira, muito bom para perceber os efeitos do que tenho produzido, ouvindo comentários de outras vozes, rostos e palavras até então não conhecidas. Exposição para se ver.

Dessa vez, venho a Salvador, participar do X CINFORM - Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Informação, realizado pelo Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia. É o primeiro evento nacional de âmbito "científico" que participo. Experiência para ver e rever escolhas e apostas.



Gostei do clima daqui. As discussões começaram sobre como a cultura tecnológica (cultura do estímulo a inovação contínua) acaba gerando em todos os campos um ensino voltado para produzir e replicar a própria cultura de consumo. A base da ciência tem se voltado para formar produtores eficientes e consumidores compulsivos (fala de Pedro López López, de Madrid). De fato, concordei e vejo isso se replicar por muitos locais por onde tenho passado.

A cultura da rede também traz a promoção e replicação em outros níveis de escala a lógica do consumir e consumir. É preciso olhar para isso com certa atenção e menos ingenuidade, em muitos momentos. As perguntas que de fato movimentam todos os fluxos em rede acabam indo para outro lugar. Para a construção da linguagem, a percepção do real e a formação da consciência como espaço de relação... Sim, mas isso já é outra conversa que pretendo aprofundar mais pra frente.

Na parte da tarde, começamos a expor os trabalhos que foram enviados por profissionais, alunos de graduação, pós, etc. Apresentei esse trabalho abaixo, como parte das pesquisas que tenho feito no doutorado:





Conversa boa ao final. Bons comentários relativos a modos de ampliar as expressões de pesquisa e ver o efeito que isso pode causar nos tipos de rede que tenho encontrado.

O importante desse tipo de trabalho, nesse momento, tem sido o exercício de uma outra forma de linguagem. Uma linguagem menos linear e mais relacional, onde consigo agrupar diversos elementos dispersos e analisar de forma conjunta, afinando o olhar e percebendo níveis de relação que antes não conseguia ver. O que fiz nos dados que pude extrair do Google Acadêmico, transformando aquelas listas em grafos, mostrando modos de relação e escolhas no fazer da pesquisa daquele grupo de pessoas que me ajuda a entender seus movimentos de conversa, formação de redes e outras relações possíveis.

E assim, algumas outras pistas vai ficando mais evidentes... ;-)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fonte força raiz

Fonte força raiz
num fio colorido
tece formas que se dissolvem no ar

Bolhas em palavras dançando mistérios
Faces de uma cor apenas a vir a ser

Nem símbolos, nem significados,
Nem meio, nem fim,
Vozes cruzadas como romarias
Campos e mais campos de potenciais

Por entre eles, um ritmo
Sutil expressão de sua própria natureza
Livre, liberta, natural.

Em teus momentos, apenas bolhas expressões palavras
Bolhas de realidade, criadas, construídas como vida
Por onde apenas, tudo simplesmente passa.

Mas, há algo que fica.
E nesse algo reside tua pergunta, tua busca,
Tua tentativa de encontrar o mais do mesmo vir a ser,
E por onde sabes, moça, que nem mesmo a tua presença
Repousa como resto, forma de existência.

sábado, 10 de setembro de 2011

Exercitando espaços de colaboração e reflexão: um curso de comunicação

Experimentar espaços de colaboração e reflexão nem sempre é tarefa fácil ou mesmo trivial. Desde criar o ambiente, produzir o contexto, o cuidado da relação entre as pessoas a construção da linha sentido há um processo contínuo de explicitar apostas e se reconhecer por dentro delas. 

Há 3 questões fundamentais para parecem nos orientar dando o contorno nessa experiência de um novo curso da qual estou participando/ofertando:
  1. É possível falar em Comunicação Comunitária num tempo em que as mídias oficiais/comerciais – totalmente ocupadas em vender ideias, produtos e serviços – se impõem sobre a sociedade?
  2. Como reconhecer e respeitar as ações de 'comunicação comunitária' realizadas por pessoas e instituições que se pautam nos mesmos valores que orientam as mídias oficiais/comerciais?
  3. Restam espaços onde sejam possíveis criar e fazer valer princípios de uma comunicação comunitária comprometida com a cidadania?

 A proposta é ousada. Abrir um espaço de reflexão para analisar e propor modos de caminhar por dentro dos vários discursos de comunicação então vigentes e promovidos pelas mídias oficias, encontrando brechas, espaços ainda não ocupados por onde manifestar outros modos de inteligência, outros modos de relação e, sobretudo, outros modos de se relacionar. 

Quando: 29/9, 6, 13, 20 e 27/10 – terça-feira – das 19 às 22 horas
Onde: rua henrique shaumann, 125 – pinheiros – são paulo – sp (quase esquina com av. rebouças)

Mais informações, por aqui!

domingo, 4 de setembro de 2011

De grupo-assujeitado para grupo-sujeito: formação como projeto de intervenção

"Mais do que isso, se entendemos que um dos papéis de uma política pública de inclusão digital é facilitar a promoção de redes, é facilitar essa promoção a partir de uma perspectiva que entenda que uma rede só emerge livre quando seus membros se colocam não como um grupo-assujeitado, mas sim como um grupo-sujeito não submetido a regras externas, com poder de fala irruptiva em uma ação transgressora dos significantes sociais dominantes e das regras de
assujeitamento (Passos, 2007)."

"Vemos o espaço de telecentro como um espaço de relações, um espaço ocupado por papéis que vão ser exercidos e mutuamente realimentados: o monitor e os usuários. Formar, capacitar, no entendimento dessa visão, é criar um contexto, um espaço reflexivo que permita visualizar esses papéis apenas como transitoriedade momentânea do nosso fazer coletivo, é auxiliar a transpor esses papéis para um campo de escuta e conversa que se manifeste como possibilidade de aprendizagem
consciente em nosso cotidiano."

 ... e um pouco mais das reflexões que temos feito no exercício de documentação que fiz junto com a companheira Isis.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A contradição está na mesa: de redes, inovação e como conversamos

O ano de 2011 está sendo repleto de contradições profundamente interessantes. Movimentos que parecem de vanguarda despontando, novas ideias, modos de pensar e modos atuar sinalizando novas condições possíveis para formas de viver que antes pareciam impossíveis. Por outro lado, movimentos fortemente retrógrados, autoritários expoentes de uma dor em transição que parece sinalizar que de fato muita coisa está mudando ao longe de onde nossas vistas parecem alcançar.

Sim, há cheiro de mudança, cheiro de algo sendo gestado no interior de fluxos intensos de conversa, algo como que sinalizando lá longe que nada de fato vai ficar como está. Sim, ventos de impermanência. Necessários quando nos agarramos a algo não nos dando conta de que o movimento é contínuo, mesmo que a ideia não peça atualização.

Trabalhar com Internet, com redes, com produção, pesquisa e análise do que vem ocorrendo nas redes tem me dado um lugar singular para observar esses movimentos todos. A rede é reflexo natural do que temos de mais humano: a capacidade de se relacionar e de conversar com o outro(s). Algumas experiências que tenho feito vão me trazendo novos modos de olhar para isso. Eis que venho me dando conta, cada vez mais, que há uma contradição enorme, explícita e posta à mensa em muitos processos que tenho observado. Eí-la:
  • temos cada vez mais informação disponível em nossos computadores, celulares, telecentros, lanhouses, etc, geradas por inúmeros sistemas que coletam dados, redes sociais, sensores, etc. Saber aproveitar essa informação de modo estratégico para a produção (inovação) de novos produtos, novos processos de trabalho, novos meios de interação/relação tem se tornado cada vez mais importante para grupos/organizações/ativistas/artistas. Ocorre que essa tipo de aproveitamento é complexo, exigindo cada vez mais que pessoas colaborem com pessoas. Logo, muitos estão em busca contínua de formas de controlar suas redes para que possam operar do modo como imaginam, colaborando da forma que imaginam para que isso possa trazer os resultados que imaginam;
  • quanto mais as pessoas/grupos buscam controlar, policiar, regrar, ditar o que deve ou não deve acontecer em suas redes, mais as redes acabam se esvaindo, mais acabam fornecendo respostas protocolares a pedidos que não são reconhecidos como legítimos e que acabam sendo tratados como mais uma forma de receber ordens/imposições/tarefas a serem feitas.
A contradição está na mesa! Com esse modo de pensar, há poucas saídas possíveis, até onde vejo. Se focamos no produto final como objetivo, mesmo que chamemos o produto final de um processo "livre", "colaborativo", "aberto", "inovação", mas de fato pouco preocupado nas relações e no cuidado com as relações, o que surge será sempre limitado as condições de contorno daquele que criou seu cercadinho em torno da rede. 

Mas, e daí? Para onde olhar? Desse modo, para onde vai a "potência" da rede?

Novamente, esse momento tem me dado algumas pistas fundamentais para observar e refletir mais sobre os movimentos que tenho vivenciado:
  1. o que o marketing/publicidade/agências/"ativistas" têm feito, em alguns casos, está de fato centrado na promoção de suas ideias, seus modos de pensar. São, de alguma maneira, rígidos. Suas ideias são acolhidas por grupos que concordam com seu modo de pensar e repelidos por aqueles que acabam adquirindo aversão a essas ideias. Suas ações acabam provocando sempre a sensação de lutarem a favor ou contra algo, sendo separatistas de algo e adeptos de algo. A conversa em espaços promovidos desse modo nunca é autêntica, surge como reflexto de desejos de se promover, de promover uma marca/ideia/produto/processo, levando as pessoas a estarem "armadas" de algum modo, sempre prontas a se defender, defender suas ideias e seus amigos. Sem solução!
  2. outros movimentos, ainda muito pequenos, parecem contar a história de outro modo totalmente diferente. Estão pouco preocupados em defender algum tipo de ideia, alguma forma/salvação de como fazer as coisas ou mesmo algum produto que precisa de algum modo ser promovido. São movimentos preocupados com a abertura necessária para se relacionar com o outro, buscando servir como espaço de transição/reflexo do outro, espelhando ideias, disponível, atento para conversar, criando dentro de si as condições mais inusitadas para ter condições de promover essa conversa em determinadas situações. A ideia a ser experimentada é a disponibilidade contínua de rever posições, papéis, estruturas, processos, normas, regras que não fizerem mais sentido, que engessam as relações e que precisam de um fórum contínuo para serem revisitadas todas as vezes que se fizerem necessárias. A rigidez é reduzida ao máximo possível, buscando identificar e ampliar todos os espaços "entre" que forem possíveis. É ali que se habita nesse movimento.
A própria ideia de trabalho está sendo questionada desse modo. A abertura a relação só pode surgir como fruto de movimento autêntico, legítimo de intencionalidades e disposição. O que é gerado desse movimento é consequência e não causa.

Ao continuar focando na causa, nos processos geradores de algo que queremos, mais nos afastamos do possível novo que está em nossa frente, fugidio, escorregadio, liso e jamais sob controle.

A abertura é condição fundamental para partir de qualquer ponto, de qualquer relação e construir um caminho possível que pode levar a algo, seja ele o que for. O exercício que supera de alguma forma a contradição é o puro desapego de alguma forma constante, legítima e verdadeira. Daí, podemos construir algo que pode nos levar a outros modos de relação....

sábado, 27 de agosto de 2011

3 níveis de centralidade na rede Telecentros.BR: a dança de planos e movimentos de relação

A magia por trás dos algoritmos de análise de redes é a enorme flexibilidade que eles possuem, permitindo que possamos tratar a informação das relações que coletamos de n modos possíveis de acordo com sua própria imaginação.

Explorando hoje um pouco mais dos recursos do Pajek, o software de análise que tenho utilizado, decidi reduzir a quantidade de nós por grau de centralidade das redes que tenho analisado do Telecentros.BR.

Separei 3 níveis de centralidade na rede:
  1. os nós que possuem acima de 20 conexões;
  2. os nós que possuem acima de 15 conexões;
  3. os nós que possuem acima de 10 conexões.
 O mais interessante foi a surpresa de perceber que essa divisão, por mais que tenha sido totalmente aleatória e pensada apenas por curiosidade, me mostrou 3 configurações muito distintas da rede levando a pensar que de fato estava olhando para 3 movimentos muito diferentes.

Coloco as imagens que obtive abaixo para ilustrar o que comecei a ver nesse movimento:

Acima de 20 conexões


  
 Acima de 15 conexões

 

  Acima de 10 conexões


Os pontos amarelos são tutores/membros das equipes dos polos de formação. Os pontos verdes são monitores e os vermelhos pessoas cadastradas que não identificamos a qual grupo pertencem.

O que me chamou a atenção?

Quem mais está utilizando o sistema de mensagem online do Moodle é, sem dúvida, o grupo de tutores/membros dos polos. Os nós da rede que possuem acima de 20 conexões são apenas membros desse grupo e que acabam interagindo majoritariamente entre si também. Já quando baixamos para acima de 15 conexões, um movimento muito interessante fica mais evidente: a rede se divide em dois blocos, mostrando o grupo anterior de tutores/polos e um novo grupo de monitores que praticamente não se relacionam. Isso me mostra uma coisa importante: os monitores que mais utilizam essa rede conversam sobretudo entre si, interagindo muito menos com os tutores. A força da rede de monitores, mais uma vez, fica evidente na relação entre si, na vontade de conversar com outros monitores, formando um grupo que tem muito mais a dizer por aquilo que vivem e fazem. Já quando baixamos para acima de 10 conexões, a rede entra em outro momento, com uma maior mistura de tutores e monitores. A hipótese é que nesse momento começa a atuar de fato as estratégias de tutoria e acompanhamento da formação via esse sistema de mensagem online.


Uma conclusão importante, pra mim, desse processo todo: temos dois movimentos de formação de rede caminhando juntos. Um diz respeito do encontro entre monitores, mais espontâneo, motivado por elementos que fogem totalmente ao controle, ao esperado, ao programado da formação. Esse movimento atrai menos pessoas, mas surge com mais força na centralidade da rede. Outro diz respeito do encontro entre tutores e monitores, motivado pelo desenvolvimento da formação, pelos papéis a serem cumpridos, pelos objetivos do curso a serem desenvolvidos. Esse movimento atrai mais gente, pois tem direcionamento direto com a comunicação e acompanhamento do curso. No entanto, é menos central.

Os dois movimentos caminham juntos, se sobrepondo, se constituindo como diferentes interfaces e planos de conversação que funcionam tudo junto-misturado. Um movimento leva ao outro e assim segue uma certa dança que é apenas mais uma forma de retratar a beleza dos diferentes movimentos da própria vida: formal e informal, espontâneo e proposto, livre e pautado. A rede, como reflexo do que somos, não seria diferente.... Será?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Como se forma uma rede? - Bonita matéria na revista ARede

A Patrícia pegou o espírito do trabalho que temos feito nos últimos tempos e traduziu isso de uma forma singular na matéria online e impressa da revista A Rede de agosto.

Cito esse trecho que é parte fundamental da aposta de investir tempo, imaginação e energia numa formação:

"Um dos objetivos mais importantes de qualquer programa de inclusão digital é a formação de rede entre os monitores. Os monitores atendem usuários, organizam as atividades nos telecentros, fazem a ponte entre os telecentros e os interesses da comunidade. São responsáveis por manter as unidades do programa vivas. Grande parte do aprendizado dessas pessoas, na prática, se dá nesta experiência. Assim, um processo de formação precisa oferecer os instrumentos para resolver problemas e elaborar projetos neste dia-a-dia. Neste caso, o instrumento é a rede, a interação. As conversas entre os monitores, antes mesmo de concluído seu processo de formação, indicam que uma rede está emergindo no Telecentros.BR"

 Não é novidade já dita por tantas pessoas, amigos, pensadores, poetas e por aí vai: o que importa são as pessoas. E, num espaço onde podemos articular ações que aproximem pessoas de pessoas, para que possam simplesmente conversar, se conhecer, se ouvir, se encontrar e perceber que há tantos pontos de vista quanto a multiplicidade de encontros possíveis, já temos mais do que conseguido o melhor que poderíamos. A rede surge e o que acontece depois é resultado de uma soma de fatores que simplesmente estão fora do nosso controle. Garantir que as pessoas se encontrem não é pouca coisa, ainda mais por dentro dos métodos, metodologias e filosofias que tangenciam o pensamento educacional. Desconstruir esse lugar de poder/saber abrindo novas possibilidades de experimentação é um processo passo a passo, que demanda paciência, observação, análise e reconstrução contínua do próprio sentido que te move.


Analisando a formação de redes na ferramenta Fórum do Moodle

Sempre considerei o Moodle uma plataforma bastante dura, engessada e pouco sedutora para a promoção de um espaço de conversa online em relação a outras possibilidades, como o Drupal e Wordpress.

O fato é que tenho trabalho, nem tanto por opção mas por uma questão demanda do edital, com o Moodle na Rede de Formação do projeto Telecentros.BR. Tenho documentado por aqui alguns movimentos que temos feito de análise da formação de redes de conversas entre os monitores que estão participando desse processo. Já são mais de 1300 nesse momento e os primeiros estudos que comecei a fazer me mostraram algo que de fato eu pouco esperava: um uso muito intenso dos módulos de comunicação, acima de qualquer outra coisa que eu já tinha visto em um projeto como esse.

Continuando nessa pesquisa/estudo/experiência comecei ontem a noite a estudar como analisar a formação dessas redes entre os monitores a partir de suas conversas nos fóruns disponíveis pelos diversos tópicos do curso. O Gus havia me dado um toque de que estava ocorrendo um tipo de conversa interessante/intensa por ali, dado a percepção que ele estava tendo nos encontros de formação presencial com os monitores, pelos papos que estava ouvindo na reunião com as equipes de cada polo. Deu um tempo, resolvi investigar isso.

O fato é que o modo que o Moodle dificulta muito as coisas pela maneira com que ele guarda os dados na na sua tabela de fórum. A tabela onde conseguimos extrair as conversas é chamada de mdl_forum_posts, que organiza as mensagens em colunas chamadas: "discussion", "parent", "user", "created", "subject" e "message", entre outras que importam menos para o que queria fazer por aqui. A coluna discussion guarda o número de uma thread de conversas, ou seja, o número de um tópico qualquer criado dentro de um fórum. A coluna "parent" guarda o número do fórum onde ocorreu a conversa. A coluna user guarda o usuário que postou naquela discussão, repetindo a discussão e o usuário caso haja repetição de qualquer um deles. A coluna created guarda o timestamp (horário em formato Unix) de quando a postagem foi feita e as colunas subject e message guardam o título e o conteúdo da postagem.

A complicação é que, diferente das tabelas de mensagens online, não temos diretamente do Moodle uma listagem de relacione quem conversou diretamente com quem. Dado isso, montei um script em PHP que monta essa correlação de quem conversou com quem. A ideia básica desse script considerar que todo mundo que postou numa discussão conversou com todo mundo nessa discussão, formando um grupo que interage entre si a partir dessa discussão. Sem dúvida, podemos montar isso de outra forma, considerando o tempo de postagem ou outros critérios para como relacionar as pessoas. É algo que pretendo explorar a partir desse estudo inicial. O script lê os dados de um arquivo que contêm basicamente duas colunas: número da discussão e id do usuário que postou na discussão. Ele monta para cada discussão um array e depois faz uma combinação entre todos os usuários desse array, exibindo na tela para uso posterior.

Segue aqui o script:


function possibilities ($input) {
 
  for ($contador=0;$contador<=count($input);$contador++){
    $elementoatual = array_shift($input);
    foreach ($input AS $current) {
        if (!empty($input)) {
        printf("%d,%d
",$elementoatual,$current);
            }
        }       
    }
 }

    $fh=fopen('c:\xampp\htdocs\arquivos\forum.csv','r');
    $dados = array ();
   
    while (list($discussao,$pai,$usuario,$timestamp) = fgetcsv($fh,1024,',')){
       
        // cria um array temporário com as duas variáveis coletadas
        $arraytemp = array($discussao,$usuario);
       
        // acrescenta o array temporário num array que vai agregar todos os dados do arquivo.
        array_push($dados,$arraytemp);       
    }
   
    //indexa o array pela primeira dimensão, no caso, pelo campo da discussão
    sort($dados);
   
    $contador=0;      
    $discussaoux=9999999;
    $acumulaarray = array();
    foreach ($dados AS $dado){
   
        if ($dados[$contador][0]!=$discussao) {         
            $discussao=$dados[$contador][0];
            possibilities($acumulaarray);
            $acumulaarray = array();
        }    

        array_push($acumulaarray,$dados[$contador][1]);
        $contador++;

    }
   
    fclose($fh);
    ?>;
       

Só para ilustrar os primeiros utilizando esse script para montar um arquivo no formato Pajek, segue a primeira imagem da rede que gerei ontem a noite:





Alguns dados interessantes sobre ela, limpando loops e múltiplas conexões entre pares:
  • grau médio de conexão: 27,44
  • diâmetro da rede: 13 (maior distância entre dois pontos).
O próximo passo é começar a detalhar essa análise, buscando descobrir como o fórum tem sido apropriado pelos monitores, pelos tutores e equipes de polos, analisando as possíveis diferenças regionais que podem se desdobrar em diferentes estratégias de como cada polo tem utilizado/ocupado esse ambiente.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De prontidão nas fórmulas prontas e a perspectiva do olhar


Os movimentos de crise, de turbulência e caos são, em geral, dos mais conturbados para se encontrar um certo sentido lógico sobre como as coisas estão se organizando, qual o pensamento que está dando contorno e para onde o movimento está indo num contexto mais geral.

De situações pessoais, familiares, profissionais, políticas, enfim, em vários níveis por onde podemos entender nossa atuação, o contexto parece similar: na água turva, num dá para ver o que está se formando por entre o movimento caótico.


O fato que me encanta é se dar conta, durante o próprio movimento, que o sistema no qual estou envolvido pode dar uma guinada a qualquer momento, se "auto-organizar" de alguma forma imprevisível e produzir outro modo de operar/relacionar que não era possível visualizar minutos antes.

Não há fórmulas prontas para aplicar em situações como essa. Nem sequer esperar para ver o que vai acontecer, por quê você simplesmente é parte daquilo que rodopia nos múltiplos centros de força do sistema. Você está junto, girando, girando e compondo de alguma forma nos deslocamentos que vão produzir uma nova ordem. Não se sabe ao certo onde vai e nem tem como prever. Sua posição não é e nem tem como ser privilegiada. É preciso se dar conta disso para ser pego de surpresa pela perspectiva que mora ao lado.

Estamos falando de sistemas que operam bem longe do estado de equilíbrio, sensíveis a perturbações de n ordens. É assim nos estados criativos, nas construções que remoem, remexem e criam interstícios de amplidão no pensamento. É sinal claro de oportunidade de se expandir.

Sim, os tempos são propícios para isso. Não espere a solução batendo na porta e pode ter certeza de que sua leitura parcial não passa de uma leitura parcial. Você não tem todos os dados e sua hipótese está comprometida pela restrição do seu olhar. O pior, ou melhor, de tudo é que você simplesmente vai ter de aprender a lidar com isso. As soluções que prometem outras perspectivas vão te deixar na mão, em algum momento.

A busca contínua do sentido lógico por dentro do caos só tende a piorar a situação. Tensiona o movimento, restringe o campo de ação e a possibilidade de livre associação que pode surpreender com a nova perspectiva.

Não, não há fórmulas prontas. Hoje você está aqui e amanhã, simplesmente tudo mudou. É o preço, o prazer e dificuldade inerente na construção de redes livres.

Por onde o olhar se move, essa perspectiva pode te acompanhar, trazendo um certo tom de leveza, desapego insensato moto contínuo da afirmação da incerteza. E daí? Esperava mais? O fast-food é logo ali...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Várias faces de uma rede: espaços coletivos como elemento de produção de liberdade

Conversando com uma grande amiga nessa semana ela me perguntou por quê eu achava tão importante promover redes livres nos projetos em que tenho atuado, na maneira de se relacionar e de pensar os modos de atuar.

A conversa foi provocando elementos e me fez revistar algumas apostas dos últimos anos, podendo refinar um pouco a minha própria maneira de dizer isso.

Um resumo de um ponto fundamental da conversa segue aqui, quando estávamos falando sobre como tinha sido a atuação dos Metáforas em relação ao que tínhamos tentado fazer dentro do Ministério da Cultura:

então, aí voltamos para a nossa conversa de ontem
16:34 percebi que eu tenho uma coisa mal expicada, fundamentada, uma espécie de "fé na rede"
  acredito que a ação colaborativa pode fazer emergir coisas novas
  e, aí o truísmo, boas
  a rede, por si só, não faz nada bom ou ruim
 eu: sim, total
16:35  tem que ter um complemento nessa "fé na rede'
  qual é?
 eu: a rede é apenas a manifestação de uma possibilidade de contato
  heheheheheh
  nova igreja dos pastores da conexão!
  mas, é mais fundo sim
  total
  a rede pela rede num diz nada
  mas, ela é uma das condições para se trabalhar agenciamentos coletivos
16:36 que são pautados por uma maneira de ver/entender/praticar política
  no caso do minc, a nossa bandeira era redistribuir grana para potencializar as ações na ponta
  com o menor número de intermediários possível
  quebrando a ideia clássica de centros-culturais como intermediários do $ do gov investido em cultura
16:37 então, a ação hacker era entrar no MinC para abrir esse espaço, conectar o máximo possível as pessoas para compartilharem suas possibilidades criativas, buscando empoderar e fortalecer os movimentos culturais a partir de sua articulação em rede
  propondo que: se encontrando, a gente entende melhor os problemas que tem e pode se articular melhor para conseguir encaminhar nossas demandas
16:38 sejam elas criativas, sejam elas políticas
  se é que a separação nisso....  O ponto forte disso é perceber que as redes são pré-condições para ampliarmos o potencial de articulações, agenciamentos políticos e, sobre tudo, ter um espaço onde a ideia que faço das coisas é enlaçada por tantas outras e meu efeito de acreditar em minhas próprias verdades pode ser atenuado, criando espaço para que entre em contato com outras formas de pensar e me produzir no mundo.  Não deixa de ser isso a experiência que temos buscado desenvolver nos projetos por onde temos passado...  E só para ilustrar, segue abaixo algumas das faces de uma dessas redes em construção, a Telecentros.BR:    

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Artefatos, místicas e formas de pensar

Não creio que seja muita novidade entendermos que não fomos "treinados" na nossa cultura, no sistema educional, político, familiar bla bla bla para pensar diferente de formas lineares de entender as coisas. É praticamente "natural" analisarmos as coisas buscando relações de causa e efeito: se isso aconteceu, aquilo deve ter acontecido; se está desse jeito, é por culpa de tal coisa; se fizermos isso, vai rolar aquilo.

Criticar essa forma também não é algo novo. Muitos livros têm sido escritos, experiências, projetos, filosofias. De fato, no meu entender, estamos ainda no início da desconstrução: o novo tá visível como potencial, como possibilidade, ainda longe de se transformar em modo "natural" de pensar, pautando a maneira que nos organizamos e nos relacionamos. Ainda estamos longe disso.

Até aí, tudo bem. Há pouco a se fazer, a não ser aprofundar a crítica, analisar as possibilidades, experimentar, buscando sinalizar o novo na crença/aposta de que novas e novas gerações vão chegar, constituindo uma nova cultura, deslocando o velho e produzindo o novo. A vida que muitos de nós gostaríamos de viver, ao menos aqueles que estão se dando conta disso e percebendo os próprios limites no modo de fazer as coisas, não será experenciada em plena potência-contágio-coletivo nos tempos atuais. Somos o povo da romaria, somos o povo da migração, somos o povo que levanta poeira e busca construir um caminho por onde passar.



Lidar com isso é apenas uma condição de contorno, todavia. Há tantas brechas a serem exploradas, há tanto por se pensar e experimentar a cada dia, que a mente chega a não dar conta de tanta coisa que poderíamos tentar. Começar é um bom começo... ;-)

Tudo para isso para compartilhar uma reflexão que tem ganhado força dentro de mim nas últimas semanas. Algumas pessoas tem me perguntado por quê tenho dedicado tanta atenção, tempo e esforço estudando novos modelos matemáticos de análise de redes, dinâmica de sistemas e sistemas complexos. Acabei me dando conta que falei pouco sobre o que de fato tem ressoado aqui dentro, não na superfície, mas naquele âmago que te faz acordar as 3:00h da manhã e começar a rabiscar no velho caderno antes que a ideia-imagem-forma se esvaia nos abismos de si.

O fato, já eternizado por Einstein, é que para novos problemas precisamos de novos métodos. A vivência dos últimos 10 anos, somada a toda a experiência cultural-religiosa que vivencei nos últimos 7 anos, foi deixando isso gradativamente mais claro.

A dimensão da rede, do se relacionar em rede, da produção coletiva, da comunidade é um campo que ainda estamos de fato apenas começando a entender. Não há nada trivial nisso. Tenho explorado diversos pensadores/experimentadores que têm falado sobre isso e pautado a fronteira do que ainda conseguimos pensar. Gente como Fritojf Capra, Humberto Maturana, Gregory Bateson, Edgar Morin, Weiner Heisenberg, Ilya Prigogine, Pierre Levy, David Bohm, Barabasi, Duncan Watts, Mark Newman, Castells, Foucault, Deleuze, Guattari, Regina Benevides, Edu Passos, Nietzsche, Francisco Varela, sem falar nos aliados do dia-a-dia, Susana Maiani, Regiane, Renata Pudo, Paulinho, Felipe Fonseca, Daniel Pádua, Hernani Dimantas, Ricardo Teixeira, Rogério da Costa, Luiz Algarra, Lu Annunziata, Drica Guzzi, André Benedito, Glauco, Guima, Gus, Naty, Isis, Mari, Moura e por aí vai, são pessoas que têm, de uma forma ou de outra, me dado pistas, dicas e apontado caminhos, sobretudo aquelas que estão se predispondo a vivenciar isso em suas próprias relações.

Mas.... Tem um algo na minha forma de ver as coisas que estrutura a experiência a partir de algum tipo de método. Tenho me dado conta disso nos últimos anos, mas é algo que entendo estar presente desde sempre. O método, para mim, é o princípio, a energia motriz de organização daquilo que com que me relaciono.




Ocorre que o método que tenho utilizado desde sempre é o mesmo método linear que aprendi nos meus anos de estudo formal/convivência com tantas outras pessoas que pensaram assim. Seria pedir que de repente, ao entrar em contato com novas ideias, tudo subitamente mudasse. Não, as coisas são, em geral, um pouco mais complexas que isso.

Tem sido necessário construir um novo modo de pensar, uma nova forma de estruturas as coisas. Essa nova forma precisa incluir muitas dimensões, precisa ser flexível, móvel, dinâmica, ágil, adaptável. Precisa criar espaço para que outros pontos possam ser conectados, permitindo não apenas somar efeitos, mas emergir sensações e sínteses que não seriam possíveis antes.

O ferramental matemático da Teoria dos Grafos, o que de fato fundamenta a análise de redes e parte expressiva do que temos utilizado para o estudo dos sistemas dinâmicos traz essa perspectiva, ao meu modo de entender.

Simplificando ao máximo: é uma das formas modernas de entrar nos fluxos, de se deixar tocar pelas multiplicidades, de entrar no caos das interações, das relações emergentes e voltar de lá com um artefato, um objeto místico-síntese-atrator que tão simplesmente quanto a sua própria existência simbolize um movimento.

Não, não há nada de muito diferente do xamã que entra nos sonhos, nos fluxos da tribo e volta de lá com os totens-tabús produtores de sentido de seu coletivo. Uma nova forma de dar contorno e lidar com a amplitude daquilo que me ultrapassa.

Essa tem sido a motivação dos contornos de um novo modo e, posso garantir, estou ainda bem no começo, mas já começando a esboçar formas um pouco mais interessantes....