quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Emergência e ativação: a rede como alternativa e a rede como meio

Tenho feito algumas reflexões e análises de alguns projetos que venho participando ao longo dos últimos em como as propostas de rede foram construídas com discursos, intenções e processos bastante diferentes.

Me dei conta disso indo ao Fórum de Cultura Digital, conversando com algumas pessoas e refletindo sobre o que tem sido meu interesse nos últimos meses.

A intenção por trás de muitos projetos que participei, me parece, ser muito semelhante: ampliar o potencial de conexão entre pessoas e facilitar com que possam criar um espaço-bem comum que amplie o potencial de ação de cada um.
Intenções semelhantes, meios e caminhos para se fazer isso muito diferentes, baseados em princípios e crenças muito distintas.

A diferença sem dúvida é bem-vinda, aliás, inerente a própria de rede deve ser a forma como pensamos em processos para construir e facilitar o surgimento de redes. Longe de imaginar que possa haver uma forma melhor, forma correta ou mais efetiva, penso que a reflexão que toca é mais da ordem de poder descrever as minhas próprias apostas e caminhos.

Colocando dessa forma, vejo duas grandes divisões, em nível macro, na forma de atuar nos projetos que enxergo sobre rede:
  1. Atuação focada na aposta da emergência: são processos que, em geral, acreditam que um projeto de rede deve criar espaços coletivos fortemente baseados em sistemas de informação, conectar pessoas e criar um nível de abertura suficiente para que as pessoas possam se organizar, criar demandas e a forma de se articularem. Normalmente, são projetos que investem pouco no acompanhamento e na produção sínteses de informação, criando algum tipo de movimento que se proponha a trazer o maior grupo possível de pessoas junto.  São caracterizados por apostas mais focadas em eventos, intervenções midíaticas do que processos formativos, a longo prazo.
  2. Atuação focada na aposta da ativação: são processos que, em geral, acreditam que um projeto de rede deve criar uma estrutura de circulação da informação, produzindo instâncias gradativas de rede, com papéis desenhados para apoio, acompanhamento e intervenção crítica como possibilidade de síntese do processo em andamento. Normalmente, são projetos que investem fortemente em encontros presenciais de médio a longo prazo, cuidando da ambiência do encontro, dos espaços de conversa e, sobretudo, da criação de espaços de tomada de decisão coletiva que possam dar diretrizes e consensuar decisões de encaminhamento da rede. São caracterizados por apostas em processos formativos como elementos de ativação de rede, como elementos que criam estruturas cognitivas mínimas para facilitar a construção da participação e a produção de adesão por temas de relevância que surgem da conversação coletiva. 
Não creio que haja uma atuação melhor do que outra. Acho uma polaridade desnecessária. Creio que são formas e princípios que mostram diferentes formas, onde as apostas de ação são colocadas. As características de quem participa dessas duas formas de abordagem também me parecem muito diferentes, sendo a abordagem por emergência mais efetiva em grupos já "iniciados" na relação em rede, e a aposta na "ativação" mais efetiva em grupos que estão "sendo iniciados" na relação em rede.

Formas diferentes, logo, tipos de ação diferentes. A ativação prima por operar a partir do acolhimento, do afeto, da dimensão da linguagem e da dimensão da facilitação que produz intervenção e reorientação na ordem do discurso. Investimos na descrição e redescrição de si enquanto agente em rede. O investimento tá na composição, mais do que na própria produção da rede. A emergência versa melhor com o evento, o fato, o meme, demarca território, agencia uma visão e promove o embate, a disputa de idéias no território onde a maior força surge quando o Eu se destaca no coletivo, perante o próprio coletivo.

A rede pode ser vista como uma alternativa de organização, como uma maneira de promover ideias, princípios e ações. Ou, a rede pode ser vista como meio de diálogo, como princípio de dissolução da própria ideia do eu, sabendo que somos muitos e que o surge não tem autoria, a não ser a autoria da trama, da conexão, da multiplicidade que fala e se manifesta em diferentes sínteses, a partir de diferentes vozes, sem sequer haver a possibilidade de dizermos que alguma delas carrega qualquer hipótese de verdade.

A versão também é link. ;-)

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