sexta-feira, 27 de maio de 2011

Experimentando a leitura de estratégias de conectividade

Fiz um post alguns dias atrás mostrando os primeiros movimentos da rede Telecentros.BR, tentando descrever um pouco do que tava ocorrendo por dentro do Moodle por onde tá rolando as principais ações atualmente.

No post, apontava 3 movimentos inicias que estavam mais evidentes quando comecei a analisar a base de dados do projeto:
  1. a formação de uma rede envolvendo a relação entre os polos regionais (tutores, supervisores e coordenadores) e os monitores de cada região;
  2. a formação de uma rede envolvendo os polos regionais;
  3. a formação de uma rede envolvendo os monitores.
Fiz uma pequena distinção entre esses três níveis de composição para evidenciar o que acredito ser um movimento/construção de uma estratégia de conectividade que mostra alguns indícios das primeiras características que estão ficando visíveis do que estamos fazendo em termos de projeto.
O fato é que disponibilizamos a ferramenta de conversação online do Moodle para os monitores e polos pudessem utilizar como um recurso de conversa por dentro da plataforma. O que quero descrever agora é como vejo que estão se apropriando desse recurso como um determinado tipo de estratégia de conectividade entre eles.

Antes de mais nada, é fundamental ter em mente que estamos falando de um projeto ainda em fase de implantação, com apenas 3 meses de contato direto com a ponta do programa. A forma como essa rede começa diz muito do discurso inicial, da proposta que está sendo estabelecida entre quem está trabalhando diretamente no projeto e quem está chegando com a expectativa de receber um curso à distância. Há uma certa proposta de relação que está colocada e, a partir dessa proposta, uma dinâmica e uma estrutura de rede começa a surgir delineando movimentos e dando algumas pistas de para onde esse projeto está indo.

A proposta de relação inicial do projeto é, resumidamente:
  1. oferecer um curso de 480 horas, dividido em dois módulos, sendo um de 80 horas e outro de 400 com foco específico no desenvolvimento de projetos dentro do Telecentro;
  2. formar grupos de 30 monitores com apoio de 1 tutor para criar um acompanhamento durante esse curso.
O convite a se relacionar, a partir do que está colocado acima, diz muito de uma forma de se fazer e produzir um curso à distância. Pode ser visto como estratégia de formação ou como um jeito de começar uma rede, como uma estrutura intermediária para estabelecimento de relações que pode ser derivada para outras formas de conversa, para outros convites de relação, para outras maneiras de atuar em rede. Parte grande da energia que temos colocado no projeto é acreditar nesse convite, entendendo que o que está começando é o início de um movimento, uma maneira de nos encontrarmos dentro da sala de aula para pensarmos vôos para outros lugares.

Utilizando indicadores de centralidade e diâmetro da rede, é possível descrever um pouco melhor como esse movimento tem acontecido dentro da plataforma Moodle. Coloco aqui embaixo uma tabela com os principais dados que coletei dos 3 movimentos iniciais de rede que mencionei acima:


Indicadores Polos+Monitores Polos Monitores
Densidade 0,028955 0,0671242 0,010443




Grau médio 61,2109745 40,5430464 15,7480106
Grau mais baixo 1 0 0
Grau mais alto 2049 766 380




Proximidade média 0,2847 0,2737 0,1646
Proximidade mais baixa 0,0019 0 0
Proximidade mais alta 0,4162 0,3952 0,2558




Intermediação média 0,0001 0 0
Intermediação mais baixa 0 0 0
Intermediação mais alta 0,0858 0,1521 0,0415




Distância média no maior cluster 3,69087 3,82219 4,17026
Maior distância entre dois vértices 10 11 11
Tabela dos dados absolutos



Variações Polos+Monitores Variação na rede só dos Polos (%) Variação na rede só dos Monitores (%)
Densidade 0,028955 131,82 -63,93
Grau médio 61,2109745 -33,77 -74,27
Grau mais baixo 1 -100,00 -100,00
Grau mais alto 2049 -62,62 -81,45
Proximidade média 0,2847 -3,86 -42,18
Proximidade mais baixa 0,0019 -100,00 -100,00
Proximidade mais alta 0,4162 -5,05 -38,54
Intermediação média 0,0001 -100,00 -100,00
Intermediação mais baixa 0 0,00 0,00
Intermediação mais alta 0,0858 77,27 -51,63
Distância média no maior cluster 3,69087 3,56 12,99
Maior distância entre dois vértices 10 10,00 10,00
Tabela das variações

Há muitas possibilidades de leitura desses dados e a ideia é experimentar um pouco por aqui aquilo que me faz sentido, os movimentos que percebo e como acredito que esses instrumentos auxiliam a ler sistemas mais complexos para além daqueles que estamos acostumados no dia-a-dia. Algumas interpretações:
  1. a rede formada pelos polos é 131,82% mais densa do que a rede formada apenas pelos polos+monitores. Os polos vêm se encontrando de forma sistemática desde junho de 2010, para produzirem juntos os conteúdos, as diretrizes e os alinhamentos necessários para a construção dessa formação. O fato de sua densidade de conexões apresentar esse nível indica uma proximidade muito maior entre polos do que entre os monitores entre si e com os polos. Quando vemos a rede de monitores, a densidade cai -63,93%, mostrando o quanto dispersos se tornam os monitores entre si quando os polos saem da relação nesse momento. Os monitores estão espalhados por todo o Brasil e estão começando a formar grupo nessa conexão com o Moodle. Isso leva tempo e depende muito da aposta de relação que a formação fizer para conectar monitores de diferentes regiões, depende da vontade de conversa, da vontade de encontro que esse processo todo gerar e criar caminhos para ocorrer. Nesse momento, o que esse nível de densidade me mostra, bem como as imagens das redes linkadas acima, é o quanto, a partir dessa proposta de formação, o trabalho dos polos é fundamental nesse momento. São eles que adensam a rede, ampliando sua capilaridade.
  2. sobre o Grau mais alto, dá para perceber também um movimento interessante. Ele cai -62% na rede de polos e -81% na rede de monitores. Isso aponta uma tendência interessante, mostrando que o grau mais alto na rede de polos+monitores ocorre quando esses dois níveis estão conversando entre si, ou seja, mostra um movimento de polos contactando monitores e vice-versa. A relação do polo na formação é central, pois é ele que apresenta o tutor na formação, aquele que tem por papel acolher os monitores, tirar suas dúvidas e acompanhar sua formação.
  3. os indicadores de proximidade e intermediação apresentam o mesmo movimento, apenas mais intenso no caso da intermediação. Esses indicadores servem para mostrar o nível de proximidade médio entre os nós de uma rede e o grau de articulação entre esses nós. O que fica mais evidente a partir dos dados dessas tabelas, considerando apenas os valores mais altos, é o quanto essa rede de formação depende dessa relação dos polos com os monitores para se articular. A rede só de polos fica 77% mais articulada sem os monitores e a rede só de monitores -51% menos articulada, considerando os nós com maior potencial de articulação na rede. A rede sem os tutores perde muito da sua intensidade, do papel de intermediador que os tutores acabam exercendo na relação com suas turmas de monitores. Esse papel pode ser construído pelos próprios monitores quando avançam na construção de estratégias em comum, na articulação de movimentos próprios, desintermediados da relação direta com os polos, quando começam a utilizar a plataforma de conectividade mais como um canal de encontro do que propriamente um canal para realizarem um curso. Acredito ser possível levar os movimentos da rede de formação para esse âmbito, mas isso é algo a ser experimentado ao longo desse processo todo que estamos vivenciando. 
  4. a distância média entre nós na rede também sofre um impacto, apesar de menor, quando da saída dos polos da rede de monitores. Há um espalhamento na rede, aumentando as distâncias entre monitores. Um dos papéis dos tutores é, nesse momento, realizar parte dessa intermediação, conectando monitores, apresentando pessoas, divulgando suas ideias e links e criando campo para promoção de conexões e articulações em rede.
 São ainda movimentos muito iniciais, pouco conclusivos. Acredito que mais do que concluir, a ideia por aqui é experimentar o descrever e entender melhor como muitos desses recursos podem ser úteis em ações de intervenção, de leitura de movimentos complexos para pensar nas nossas próprias estratégias em projetos, como promovemos ações e os efeitos que elas geram nas redes que buscamos auxiliar a ativar. 

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