sábado, 17 de dezembro de 2011

Desdobramentos de conversas sobre as análises da Rede Conversê.org

No meio desse ano, comecei a avançar em experimentos mais concretos sobre algumas hipóteses de como estudar redes a partir de suas bases de dados. Lá em Durban, em julho, comecei a brincar com a base de dados da rede Conversê.org, uma ação fundamental que foi executada no âmbito do projeto Cultura Digital por gente querida na busca por ampliar os espaços coletivos e de conversação que existiam nos projetos culturais até então.

Experiência rica, intensa, o que só me motivou mais a querer trabalhar com ela. Comecei a construir um artigo que buscasse sintetizar alguns modos interessantes que eu gostaria de mostrar sobre como essa rede se desenvolveu ao longo de seu tempo de existência. Escolhi o formato de artigo por ser uma estrutura formal o suficiente para meu desejo de organizar as informações necessárias para obter o efeito que eu estava buscando naquele momento: menos discurso aberto, mais síntese de movimentos.

O artigo foi publicado essa semana na revista Em Questão, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A primeira coisa que fiz foi apresentar o resultado do trabalho para as redes Estúdio Livre e Metareciclagem, por onde ainda circulam várias pessoas que participaram da concepção, implantação e desenvolvimento do projeto Conversê. Meu desejo: conversar, ouvir comentários, críticas, ampliar minha capacidade de olhar para aquilo que tem me interessado nos últimos tempos.

Começou uma conversa muito interessante, puxada pela Fabi Borges e que vale relatar por aqui:

"fabi,

 tuas questões são um ponto chave...
 
2011/12/17 fabi borges <catadores@gmail.com>:

> pq esses usuarios nao mantiveram interesse?
> entra ahi um problema de design?
> ou ainda, por falta de "cultura" de colaboracao?
> Seria pq estava atrelada ao ESTADO e isso dava sensacao de que nao era
> horizontal de fato, que nao tinha poder de fato??--


de fato, são perguntas como essas que têm me movido a estudar as coisas desse modo.
escutei e escuto muitos discursos bonitos, floridos falando sobre redes, sobre projetos que eu participe e que, por experiência, eu sabia que o que aqueles discursos revelavam estava longe da minha percepção empírica das coisas.

mas, como demonstrar isso? com mais contra-discurso apenas, ficaria só mais uma versão da história. os gráficos e análise ajudam a embasar um pouco mais, apesar de não resolverem essas perguntas, como você bem colocou. dão um grau a mais para outras versões da história.

algumas hipóteses minhas:
  • não acho que seja problema de design;
  • não acho que seja falta de cultura de colaboração;
  • não acho que é pelo papel do "estado";
  • acho, e tenho buscado coletar, compilar, refletir sobre evidências mais fortes nesse sentido, que tem muito a ver com dois modos que podem se complementar de enxergar redes:
    • as redes auto-organizadas que emergem por si só: metareciclagem, é um exemplo disso. o contexto convoca, as pessoas se encontram pq que querem, por que sentem que ali encontra a força de uma conversa que não acontece em outro lugar. É como se uma certa vibra corresse no ar, instigando em diferentes modos a vontade de fazer algo que acaba se tornando num contexto de rede.
    • as redes construídas por projetos ou ações que visam promover coletivos e ampliar o potencial de auto-organização de grupos: esses são bem mais complexos, pois envolvem uma questão crucial pra mim: cuidado e afeto. Se as pessoas encontrarem em redes gente disposta a recebê-las, acolher de fato, conversar, responder, cuidar, demonstrar interesse verdadeiro (não a vontade de vender e fazer o ritual canibal marketeiro número 2), coisas muito interessantes podem acontecer. Mas, investir num processo desse demanda tempo, demanda muita, mas muita energia na vontade e disposição de conversar. Poucas redes que eu conheço se propuseram e conseguiram executar isso bem feito. Alguns exemplos, como a Rede Humaniza SUS, a rede Telecentros.br (os monitores de telecentros) caminham nessa vertente e dão boas pistas de como investir energia e inspiração nesse sentido.
  • Acho que a rede Conversê tentou ficar num misto disso, não fazendo nenhuma e nem outra. Mas, isso é só uma hipótese...

bjs,
dalton"

E assim segue a conversa...



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