sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Redes, redes, redes: modos de gerir e modos de formar

Tenho falado bastante nos últimos tempos sobre questões que facilitem e promovam processos colaborativos em rede. Tenho tido o costume de chamar isso de ativação de redes, um nome que me parece simples e que me ajuda a compreender o fazer redes como uma ação que pode ser proposta, construída e pensada na dimensão de um projeto.

Logo, refletir, pesquisar e documentar questões que sinto estarem relacionadas a princípios de ativação de redes tem sido uma constante nas caminhadas-ideantes por aí afora.

Uma das coisas que o projeto Telecentros.BR tem me trazido como campo experimental com muita intensidade nos últimos meses é a relação entre o quero chamar aqui de modos de formar e modos de gerir. Essa distinção tenho adotado a partir de um maravilhoso texto que li sobre processo de formação da turma da humanização da saúde.

Lá pelas tantas, eles citam algo a atenção e me fez colocar em perspectiva algumas tantas experiências dos últimos anos:

"O princípio que pretendemos discutir aqui se pauta na compreensão de que os processos de formação, os modos de cuidar e os modos de gerir são indissociáveis, ainda que sejam distintos." 

A primeira reflexão que me surge é:
  • O quanto o modo como fazemos a gestão de nossos processos de trabalho e relacionamento está pautando o tipo de formação (de qualquer tipo de processo educativo, seja uma oficina, palestras, cursos, etc.) que estamos ofertando ao outro?
E logo na sequência:
  • O quanto consideramos essa questão como espaço de conversa e reflexão em nossa produção cotidiana?
Em poucas ações que estive presente vi essa preocupação explícita, como pauta na mesa e prioridade do fazer do grupo, entendendo que se os modos de gerir do próprio grupo não estiverem sendo refletidos na formação que se objetiva construir, algo de uma profunda contradição começa a operar e isso vai ter reflexos na maneira em que nos propomos estabelecer conexão com comunidades, telecentros, pontos de cultura e tantos outros nomes que utilizamos em nossos projetos.

No entanto, esse fazer tem consequências, apresenta desafios de grande complexidade pois desloca a questão do produto que um grupo está se propondo a executar para o modo de gerir desse próprio grupo. Questão extremamente delicada pois atua diretamente nas relações de poder, de saberes e de papéis pelos quais este grupo se propõe a atuar.

E aí, chegamos num ponto fundamental que tem uma relação direta com a ideia de ativação de redes: o quão flexível é a proposta de atuação que temos para que de fato contemple a produção e construção coletiva de um modo de gerir ainda não previamente pensado, ou mesmo acordado?

Sinto que é nesse ponto que reside uma zona complexa de atuar, difícil mesmo de chegar, mas, que quando tratada como tema dos próprios processos formativos em que nos propomos atuar, o efeito é visceral. Abre dimensões fundamentais das relações humanas, ativa discussões de fundo que se relacionam com modos de ver o mundo, maneiras de compreender a própria vida e são disparadores de base de processos colaborativos, pois, sobretudo, quando novas propostas de modos gerir podem ser experimentadas, testadas e refletidas por um coletivo.

Há muito para se pesquisar nesse ponto, sem dúvida. Muitos problemas novos surgem, muitas questões ainda não colocadas vêm a tona e poucas respostas prontas são úteis nesse tipo de relação. Mas a aposta e, eu até ousaria dizer isso do que tenho vivido, é que essa é uma questão que facilita a produção de autonomia, a construção de redes e coletivos mais empoderados, com mais possibilidades e recursos para se auto-organizar, utilizando a rede como meio e modo de gerir. Aí, produzimos processos formativos que refletem suas questões de base e não apenas objetivos a serem atingidos estabelecidos por grupos que muito pouco têm a ver com a realidade daquele que idealizam em suas ações.

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