terça-feira, 5 de julho de 2011

Conferência ISSI 2011 - anotações do terceiro dia

Finalizando o terceiro dia aqui na conferência ISSI 2011. Algo que me ocorreu de ontem para hoje é que acabei não comentando muito qual razão de ter vindo aqui para a África do Sul e por quê participar de um congresso de uma sociedade de cienciometria e infometria.
O fato principal é que meu doutorado foi, por várias razões que levaram isso, encaminhado por dentro de um departamento de Ciências da Informação, lá na USP. No começo, eu mal sabia exatamente do que se tratava essa área do conhecimento e fui/venho gradativamente gostando do que tenho visto e experimentando nesse espaço de reflexão. A área está bastante voltada para reflexões em geral sobre analisar, refletir e pensar questões relacionadas a informação, seja do ponto de vista qualitativo, quantitativo, tecnológico, social, modelo de produção, financiamento, políticas de inovação, etc, etc, etc.. Muitos temas que acabei me envolvendo nos útimos anos convergem de forma bastante interessante nesse tipo de espaço. Logo, cá estou, vindo conhecer o que, pretensamente, dizem os pesquisadores que são considerados de ponta na área.

Vamos ao dia de hoje.
O foco estava voltado para apresentações de trabalhos acadêmicos completos que foram submetidos para avaliação e participação no congresso. Mais de 200 pessoas estavam por aqui hoje, que foram divididas em 3 salas a sua escolha, onde ocorriam as apresentações. O programa completo das apresentações, pesquisadores e seus trabalho está disponível no site da ISSI, para quem tiver maior interesse de acessar os trabalhos individuais. Aqui, comento apenas as sínteses de cada sessão que fui fazendo.


Fiz um roteiro que me pareceu mais coerente com meus temas de interesse e reporto por aqui o que me chamou atenção por onde passei:

  1. Sessão Science & Technology & Innovation: a ideia dessa mesa de trabalhos era juntar pesquisadores que estavam trabalhando em como identificar transições e movimentos de pesquisas acadêmicas para desenvolvimentos de tecnologias aplicadas pela indústria. Há tendências que indicam que cada vez mais os pesquisadores acadêmicos estão se vinculando ao desenvolvimento de patentes. O que me chamou atenção foi o fato de estarem usando para isso diferentes fontes de informação - jornais (Google News), blogs (Google Blogs), papers (Google Scholar), , resumos de congressos, sites de empresas - para avaliar como a informação vai sendo transmita e em que fase de um espaço para o outro. A ideia de base é demonstrar que o ciclo linear de pesquisa-desenvolvimento-produto é grande parte das vezes falso. Na real, muitas pesquisas importantes relacionadas a tecnologia surgem após grupos desenvolverem usos aplicados de uma ideia. Comentário: a ideia de que a pesquisa gera a inovação pode ser bastante afetada com base nesses estudos. Isso é realmente um ponto que podemos explorar mais. Grupos autônomos podem ser vistos como espaços importantes de inspiração e produção de novas ideias, alimentando e conectando após determinado período, com grupos acadêmicos que buscam desenvolver trabalhos mais formais em algum sentido.
  2. Sessão Webometrics 1: a mesa foi montada juntando os pesquisadores que tem desenvolvido e experimentado maneiras de analisar dados gerados na Web. O desafio que estão se colocando é como considerar cada vez mais os dados de relações sociais que deveriam ampliar a noção de relevância do que é um trabalho científico. É nesse sentido que alguns experimentos estão sendo propostos, como o Mendeley. Outro trabalho que achei bastante interessante foi uma análise realizada na Finlândia sobre como os sites das prefeituras municipais se linkavam entre si por todo o país, realizando um georefenciamento dos links. A ideia era trabalhar como a informação pública estava circulando e sendo referenciada pelos próprios orgãos públicos. Mostraram clusters de bibliotecas e outros serviços que se apoiavam mutuamente. Utilizaram para coletar os dados um bot voltado para apoio em pesquisas de Ciências Sociais.  O último trabalho dessa mesa fez uma análise do Pirate Bay e do Open Street Map. A ideia deles era mostrar o padrão de uso dos participantes dessas ferramentas, dando uma ideia de seu grau de participação ao longo do tempo. Os resultados que mostraram dizem que evidenciam algo que encontramos em muitas redes, uma maior participação logo quando da criação do perfil e depois um desaparecimento gradativo. O Pirate Bay apresenta um padrão um pouco diferente, levando a considerar se a relevância dos arquivos em Torrent que ali são compartilhados cria esse maior nível de interesse em usar a plataforma. Os pesquisadores mencionaram experiências com Sentiment MininingComentários: gostei da abordagem dos trabalho e, principalmente, de ver como estão buscando construir as bases da Ciência das Redes, entendo o espaço informacional como um universo vasto de pesquisa. Gosto dessa abordagem e acredito que um olhar um pouco mais refinado para muitos dos projetos que atuamos pode nos ampliar bastante a reflexão sobre as estratégias que utilizamos, a maneira como nos organizamos em rede e muitas possíveis melhorias que poderíamos construir a partir disso. Gosto da ideia de analisar como os sites de um determinado contexto estão se linkando, permitindo otimizar e ampliar o potencial de circulação de muitos serviços que são desenvolvidos e pouco utilizados. Uma boa dica para cidades digitais, governos eletrônicos e experimentos por aí.
  3. Sessão Collaboration 1: foi uma sessão mais voltada para a discussão de como estudar padrões de colaboração na produção científica, o que envolve análise de padrões de co-autoria. Um dos trabalhos mencionou um novo conjunto de indicadores que têm por objetivo balancear melhor as relações de colaboração internacional, levando em consideração que países que possuem jornais acadêmicos mais fortes tendem a reduzir seu número de colaborações externas. Matematicamente, ideia interessante. Comentário: a sessão não foi tão interessante como as anteriores, mas pude aproveitar algumas dicas estatísticas de construção de gráficos e alguns truques de manuseio da informação. 
Resumo geral: dia bom, bem produtivo. Confirma bastante o que foi ontem, considerando que estar aqui tem sido interessante para observar o que está sendo produzido de pesquisa de ponta nos estudos da informação, em que pé aquilo que estou estudando está e como muitos desses métodos podem ser aproveitados para outros tipos de ações, para além da ciência formal.

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