quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Internet que queremos ou dos processos de concepção de um site


A Internet é uma rede de múltiplas camadas, de múltiplos níveis de tecnologias que dialogam entre si e criam um cenário de interoperabilidade de sistemas que permite possibilidades de comunicação e interação entre pessoas como nenhuma outra tecnologia antes sequer imaginou realizar. Ao permitir múltiplas camadas, a rede cria condições para que muitos modos de entender e produzir redes possam conviver. O comércio com suas necessidades de novas estruturas de venda e circulação de produtos, a indústria com sua necessidade de novos modos de produzir gestão ágil e descentralizada sem perder o controle de seus meios de produção, o governo com suas demandas de presença e manifestação em diversos territórios, sejam eles físicos ou imateriais, por onde sua regulação exerce efeitos e determina as regras dos jogos de convivência burocrática, os movimentos ativistas com a necessidade de divulgação de suas causas e de articulação de pessoas.

A Internet é rede de redes, é tecnologia que viabiliza circulação e dispersão de fluxos e, ao mesmo tempo, controle desses mesmos fluxos. É campo de apropriação e exercício de produzir formas de relação que façam sentido às demandas e necessidades de diferentes modos de organização social que podem ser produzidas pelas pessoas. É campo de influência, tecido de escritas de diferentes versões dos fatos, disputando espaços, colaborando em ações, dissolvendo fronteiras e produzindo limites. É massa de moldar zonas de interferência e produzir espaços que auxiliem na construção de sentidos restritos ou coletivos, sempre dependendo do olhar de quem vê e do modo como se relaciona.
Partindo dessa visão, a produção de um site, assim como seu próprio processo de concepção, é um ato de escrita, um ato de afirmação de valores que ultrapassam os limites dos dizeres técnicos e tecnicistas. A produção de um site é um evento político, entendendo por política a arte ou ciência da organização que pretende reger e regulamentar as formas de relação possíveis e imagináveis no contexto onde esse site irá operar. Por isso, ato de escrita, ato de atestação de valores, parâmetros e princípios de um grupo. Nesse caminho, a construção do site envolve necessariamente discutirmos a rede que queremos, a internet que desejamos refletir e os modos de organização que ampliem, sistematizem e facilitem as formas de relação que desejamos aqui constituir.
Sendo, portanto, o site o reflexo de um conjunto de princípios que ditam modos de fazermos redes, gostaríamos de aqui descrever esses modos e como eles têm influenciado em nosso processo de concepção do site do programa +Telecentros.

  1. A rede é espaço de encontro:
    A rede é espaço de aproximação entre pessoas, é local de encontro, é espaço onde o imaginário habita quando o contexto convoca e a presença é possível. É local onde encontrar a presença alheia amplia possibilidades de interação.
  1. A rede é espaço de conversa:
    A rede é espaço de conversação, de trocas de impressões, de compartilhamento de sentidos, de construção em andamento contínuo, do inacabado que se torna elemento de diálogo, de troca de impressões e de produção coletiva. A rede é ambiente e caminho onde as impressões se recombinam e dissolvem, entremeadas de links, pontos de contato e divergência.
  1. A rede é espaço de versões:
    A rede é espaço de diferentes visões e versões do que se encontra em produção. Como dissemos acima, é espaço do inacabado, é espaço de anotações, de retalhos de ideias e possibilidades de ideias. É local para documentar o que convoca a escrita, o que mobiliza o sentido sem a necessária preocupação de apresentar sentidos acabados. Sendo espaço de infinitas possibilidades de combinação, disponibilizar versões na rede é aumentar as chances de encontro com o outro quando um filtro de busca cria os enlaces e viabiliza novos vínculos.
  1. A rede é espaço de conflito:
    A rede é também espaço de desencontros. É espaço de explicitação de valores, de definição de campos que desejam criar marcas, que desejam dizer de limites, que desejam expressar discordâncias e mostrar que outros modos são possíveis. A rede é também máquina de articulação de opostos, de força vibratória que tensiona e distende nós de sentido.
  1. A rede chega até você:
    A rede não é feita de computadores, mas sim de pessoas. As máquinas, os protocolos e programas de computadores criam o campo de interconectividade e interoperabilidade de sistemas, permitindo que diversas tendências da indústria em termos de tecnologia e modos de produção econômica possam trocar informações e compartilharem dados. No entanto, a rede estabelece links pelos desejos das pessoas, a rede expressa em seus nós, em seus movimentos de centralidade e descentralização os modos como as pessoas se recombinam em grupos, comunidades e movimentos de expressão. A rede é articulada pelos e-mails, pelos links das redes sociais, pelos sms de telefones móveis, pelos encontros em espaços de formação, pelas vozes em seus múltiplos meios de expressão.
  1. A rede é livre:
    A rede não pode ser condicionada por nenhuma estrutura organizacional que pretenda definir seus rumos dado que ela é composta de pessoas. A hierarquia organizacional influencia a forma das redes, mas estas lhe escapam, criando novos vínculos, se apropriando de novos espaços de conversa onde sejam menos vigiadas. A hierarquia nas redes livres é nó de influência, mas não define centro e o tom dos fluxos em circulação. A hierarquia dialoga, circula e opera a partir de novas condições de conversa que se viabilizam na construção de sentido coletiva. A velha hierarquia sufoca as redes livres, eliminando o que a rede possui como condição fundamental de ser rede: as novas condições de possibilidades e combinações que sua estrutura permite.
  1. A rede é espaço político:
    A rede guia e é guiada, a rede influencia e é influenciada, a rede promove e é promovida. A rede, enquanto modo de organização de pessoas, define um campo político, define regras, condições, formas de relação que buscam viabilizar condições de relacionamento entre pessoas. A forma como a rede opera explicita suas escolhas como política relacional, o que lhe é permitido e o que lhe é negado.
Esses sete princípios definem desejos e condições que influenciam o modo como um pode ser concebido. Porém, são princípios que extrapolam os limites do próprio site, apontando para modos de produção de redes que buscam construir redes livres, abrindo brechas de expressão, espaços de conversa e novos caminhos que só podem surgir quando as regras do campo surgem da inteligência coletiva, bem ali onde a multidão forma bando e os burburinhos tecem diálogos em meio a produção de um novo modo comum. 

Nenhum comentário: