Desde os tempos de estudante universitário que escuto falar que uma universidade de qualidade, pública e gratuita deveria ser feita de três eixos fundamentais: pesquisa, ensino e extensão. A pesquisa e o ensino são elementos que têm me sido bastante próximos nos últimos, mas a extensão universitária era algo que de fato nunca tinha me colocado para pensar sobre e analisar seus efeitos, impactos e possíveis modos de trabalho quando envolve de fato professores, alunos, trabalhadores em geral e a própria comunidade onde o objeto de extensão surge como desenho e contorno de prática.
Ocorre que desde o começo desse ano estamos numa boa parceria com o núcleo Educação, Tecnologia e Cultura da Universidade Federal de São Carlos no contexto do projeto +Telecentros. Uma preocupação central desse espaço é trabalhar a questão da extensão como um elemento de articulação entre o que é produzido na universidade e o que é experenciado na relação com a sociedade. Questões de fundo interessantes, mas, sobretudo, modos de envolver alunos de graduação e pós-graduação que fazem muito sentido quando pensamos que a Universidade poderia ser um amplo de espaço de debate e experiência de outros modos de produzir uma sociedade.
O envolvimento do aluno é algo que tem me surpreendido. O impacto que as reuniões trazem, as reflexões que eles se fazem entre o que rola na sala de aula e o que vivenciam no ambiente de implementação de um projeto em uma política pública federal, os efeitos que isso vai acarretando em seu modo de entender seu papel, de como questionar esse mesmo papel.
A convite dos professores de lá, preparamos um material para apresentar no I Congresso de Extensão Universitária promovido pela Unifesp aqui em São Paulo. Fui eu e Felipe Cabral apresentarmos o trabalho que estamos desenvolvendo na área de Web para o projeto na parte da manhã, Felipe e Gus Gannan apresentando a parte de dispositivos móveis na período da tarde.
Conversa boa por lá. O ponto em que nos posicionamos era olharmos para a forma como produzimos um site, seja ele uma rede, um ambiente de divulgação de informação, agregação ou o uso que quisermos dar, como um meio fundamental de discutirmos as próprias apostas de como entendemos que um projeto deve funcionar, como ele deve operar e que impactos a organização da informação desse projeto causa na maneira como entendemos o próprio projeto. Produzir um site é menos uma técnica ou o desenvolvimento de um produto, sendo muito mais, neste caso, uma oportunidade de abrirmos diálogos que nos organizem e facilitem refletirmos sobre o que fazemos, como fazemos e como nos vemos uns aos outros. A conversa impactou algumas pessoas, trazendo questões interessantes sobre como articulamos esse trabalho em relação aos próprios caminhos de pesquisa da Universidade, suas formas de aprofundamento, documentação e efeitos em toda a comunidade acadêmica. Enfim, novos sentidos ganhando corpo para nós ali, em ato e presença.
Outro ponto forte da conversa, que nem sempre é um ponto trivial por aí afora, foi debatermos que não acreditamos numa cisão entre o que chamamos tradicionalmente de "equipe de tecnologia" e aqueles que operam os sentidos e caminhos de um projeto. Essa cisão tem a tendência de alienar investimentos emocionais e técnicos que poderiam estar a favor de uma melhor compreensão de como nos comunicamos e de como operamos enquanto grupo no espaço e na posição de gerir um projeto de forma coletiva. Conversa forte, abrindo espaços para questionarmos vários pontos de tensão que brotam em nossas relações de dia-a-dia: hierarquia, posições de poder, circulação de fluxos de informação e por aí vai.
Um comentário:
Neste ano tive a felicidade de participar de um projeto de extensão (+ Telecentros) e de uma ACIEPE(Atividade Curricular de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão)e hoje eu posso afirmar que esse pilar da Universidade que estabelece um diálogo com outros segmentos sociais e tem o potencial construir e reconstruir conhecimento a partir da realidade e buscar encaminhamentos e soluções de problemas.
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