quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Bilhões de dados e um padrão

Fala de Nicholas King, secretário-executivo do Mecanismo Global de Informação em Biodiversidade em nota no site da Fapesp:

"Agência FAPESP – Quais são os principais desafios relacionados ao compartilhamento de dados sobre biodiversidade?
Nicholas King – Há um certo número de desafios para se compartilhar informações e conseguir uma interoperabilidade entre os bancos de dados. Eu diria que eles estão concentrados em três vertentes fundamentais da noção de compartilhamento: os dados propriamente ditos, o sistema e as pessoas. Todos são necessários, mas nenhum é suficiente.

Agência FAPESP – Quais são as dificuldades relacionadas aos dados?
King – Há conjuntos de dados ao redor de todo o mundo, com características muito distintas entre eles. O único ponto em comum é que nunca são captados com a intenção de serem compartilhados. Por isso, são capturados com diferentes formatos e técnicas. Muitas vezes em diferentes línguas. São obtidos, por vezes, sob diferentes sistemas de gerenciamento. Variam também os sistemas métricos – os registros podem ser feitos em polegadas e pés ou no sistema métrico decimal. Há também sistemas de georreferenciamento muito distintos. A linguagem muda, com diferentes nomes usados para diferentes lugares – eventualmente até mesmo nomes distintos para um mesmo país. Não podemos apenas pegar esses dados, colocá-los juntos e operá-los. Eles são totalmente incompatíveis. Eles simplesmente não se combinam.

 É a tal da tríade se manifestando mais uma vez, agora de outra forma.
Concordo totalmente e a ideia do que temos feito nos últimos anos, pesquisando sobre ativação de redes, metadados e processos de promoção de colaboração em rede tem a ver com isso, sem dúvida.

Acredito, cada vez, que propostas de projetos que considerem apenas um ou dois dos aspectos acima tem grandes chances de darem errado na vertente em que acabam deixando passar. Fundamental considerarmos em nossos processos de metadesign, de arranjos organizacionais de projetos, de pesquisas, de militância e ativismo essas 3 perspectivas:

  1. os dados: sem possibilidade de interoperabilidade, sem dados abertos, indexáveis de forma pública, o que criarmos é como uma espécie de caixa-preta. Estamos desenvolvendo silos de informação em várias áreas, impedindo em termos técnicos possibilidades de remixagem, geração de novas possibilidades de agregação, produzindo novas camadas operativas de visualização e produção de sentido do que estamos fazendo. Para isso, padrões de metadados, arquitetura pública de conteúdos (URIs), namespaces, transformações em XMLSchemas, enfim, são coisas fundamentais.
  2. os sistemas: sistemas de informação que suportem essa maneira de utilizarmos os dados e permitam ampla flexibilidade para desenhos e propostas de arquiteturas múltiplas de participação são fundamentais.
  3. as pessoas: as formas que se apropriam, as formas que constroem e promovem espaços coletivos de tomada de decisão, de interação são fundamentais. Apesar de parecer óbvio, não são questões nada triviais. Como tocar reuniões? Como construir acordos? Como documentar processos? Como tornar isso público? São muitas questões em aberto, com n possibilidades de soluções que só fazem sentido quando construídas pelo próprio grupo em questão. Mas, conhecer ofertas e atuar a partir delas é, sem dúvida, um bom avanço nas melhores práticas que podemos descobrir aí.

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