quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dinâmica humana, padrões e variáveis aleatórias: novos métodos para velhas buscas

A busca pela percepção da recorrência de ações e a produção de uma forma de explicar essa recorrência que permita conversarmos sobre ela, reproduzirmos, experimentarmos, encontrarmos outras formas é a base do pensamento científico, seja ele de que "ciência" for.

Sem dúvida, o uso das recorrências pode ser tanto no sentido de aprendermos a nos planejar melhor no compartilhamento de recursos, no uso de bens escassos, bem como na maneira como interagimos em relação a determinados assuntos. O mesmo vale para a tentativa de controle, de manipulação e exercício do poder sobre a pretensa falta de informação daquele a quem pretendemos controlar.

A histórias dos padrões e das recorrências é tão antiga quanto a própria linguagem humana e pode ser rastreada até os limites dos primeiros registros da história escrita. Recursos como astrologia, eneagrama, numerologia podem também ser compreendidas dessa forma.

Os métodos de física-estatística, de processos estocásticos, de dinâmica e complexidade de sistemas têm sido intensamente utilizados nos últimos 10 anos para se encontrar recorrências, padrões e possibilidades mais amplas de compreensão como interagimos como sistemas humanos.

A diferença é que agora temos cada vez mais a nossa disposição bases de dados que registram interações humanas: blogs, artigos em co-autoria, listas de email, fóruns, chats, logs de sistemas, logs de servidores de internet, etc...

Estudar isso tem sido meu foco nos últimos anos e vem ficando cada vez mais interessante, conforme algumas ferramentas vão ficando mais simples, cada vez mais dados organizados para trabalhar, cada vez mais possibilidades de encontrar recorrências que acabam por me dar pistas de como ler o próprio trabalho que venho desenvolvendo com as pessoas/equipes com quem tenho trabalhado.

Exemplo interessante do projeto Telecentros.BR. Pegamos o log de acessos do Moodle do primeiro curso de tutores que realizamos do meio de novembro até final de dezembro de 2010. Mais de 40.000 linhas de log, com vários dados brutos que podem ser correlacionados até o limite da criatividade humana.

A pergunta que me fiz essa manhã, vindo para o laboratório era: Como será que eles se organizam em termos de horários de acesso ao ambiente? Será que fazem isso apenas em horário "comercial", será que invadem madrugada? Será que os tutores fazem isso durante o momento em que estão navegando na web, fazendo outras coisas? Que tipo de pistas de como podemos interagir com eles essa informação poderia me dar?

Bem, pego o log de dados. Brinca daqui, transforma horários picados em horas cheias, encontra agregação de faixas de horário, manipula daqui, joga pra lá e brota algo que me mostra como mais de 100 tutores se organizaram em termos de horários de acesso/interação no Moodle ao longo de um mês e meio.



Algumas surpresas pra mim:
  • os caras vão bem além do tal horário comercial. As 01:00h tem o mesmo que as 11:00h da manhã ao longo de um mês e meio de acessos;
  • a manhã começa em torno das 10:00, tem queda no horário do almoço e o pico de acessos ocorre em torno das 17:00;
  • o pico não indica queda, mas sim um pequeno recesso para uma nova leva de acessos que atinge um novo pico as 21:00h;
  • muitos tutores devem ter computador e banda larga em casa, para poderem se organizar em horários que ultrapassam funcionamento de telecentros e postos públicos de acesso.
Algumas pistas interessantes de como podemos nos organizar, preparar atividades e propor ações que possam acoplar da melhor forma possível com essa distribuição.

Novas perguntas:
  • como será a distribuição das outras turmas de tutores em outros estados?
  • como será com os monitores?

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