sábado, 25 de julho de 2009

Anotações do Livro "O Caminho para a Iluminação" - Dalai Lama



Um dos primeiros livros budistas que eu li. Logo no começo desse ano, fase delicada em relação a muitas coisas, um dia buscando auxílio pelas prateleiras da Livraria Cultura cheguei nesse livro do Dalai Lama. O título chamou muita atenção, ainda para alguém que estava questionando tanta coisa a respeito do próprio caminho. Seguem aqui algumas anotações do que considerei como mais relevante em todo o texto:

"Lembre-se: nosso próposito não é fazer mais budistas; é fazer seres mais iluminados.

Existe grande esperança para o nosso mundo se a tecnologia e o desenvolvimento espiritual puderem seguir de mãos dadas.

A grande falta não está nos ensinamentos, mas sim no fato de não termos inclinação para estudar e praticar.

O controle sobre a própria evolução futura deve ser conquistado em vida e não na hora da morte.

A mente é a precursora de todos os eventos.

Tendo encontrado um raro e precioso renascimento humano, proteja-o com o cajado da presença mental. Estenda-o ao reino da liberação.

Para alcançar a liberação do samsara, devemos aperfeiçoar os três treinamentos superiores: autodisciplina, concentração meditativa e sabedoria da vacuidade.

É melhor saber o que procurar em um guru e examinar qualquer provável mestre bem antes de se comprometer a praticar com ele. O relacionamento com nossa prática deve ser baseado na razão e no senso comum.

Raciocine direito desde o começo, e então jamais haverá necessidade de olhar para trás em confusão e dúvida. É importante não irmos além de nossas possibilidades de aplicação.

Temos de decidir se o guru em questão tem ou não uma personalidade e maneira de ensinar atraente para nossa natureza e sensibilidade. É difícil treinar com alguém se, ao chegar mais perto da pessoa, descobrimos que o jeito dela nos incomoda em tudo. Pense bem sobre o que significa um mestre espiritual, e a seguir trate do assunto com pleno uso do raciocínio crítico.

Qualidades que um discípulo deve ter:
- espírito de indagação sincera;
- inteligência crítica. Não importa quanta fé tenhamos, se não mantivermos uma atitude indagadora e crítica constantemente, nossa prática permanecerá um tanto tola;
- sinceridade;
- um intenso anseio de obter entendimento espiritual e experiência.

A melhor maneira de confiar em um mestre espiritual é praticar meditação contemplativa sobre as qualidades místicas do mestre e a função benéfica dele na sua vida espiritual.

Não importa o quanto um mestre seja qualificado: se você for incapaz de sentir qualquer confiança nas capacidades dele, haverá pouca inspiração a ser obtida pelo estudo de um tema espiritual com esse mestre. Portanto, é nosso direito e responsabilidade sermos muito seletivos ao aceitar qualquer um como nosso guru.

Mas o que acontece quando o guru nos dá um conselho que não desejamos seguir ou que contradiz o Dharma e a razão? O parâmetro deve ser sempre o raciocínio lógico e o Dharma. Qualquer conselho que contradiga isso deve ser rejeitado.

Fé excessiva e pureza de percepção imputada podem facilmente arruinar as coisas. A fé que se gera é uma virtude, mas pode nos meter em encrenca se não é guiada pela sabedoria.

É muito fácil para um lama ser estragado pelo ensinamento de "cada ação vista como perfeita".

A persistência na meditação faz com que essa confiança adquira força, criando assim uma sólida base mental capaz de sustentar a prática do Dharma.

Quando falamos do caminho de três níveis:
- o primeiro caminho preenche o primeiro objetivo - obtenção temporária de uma condição samsárica propícia ao progresso e à alegria;
- o segundo caminho preenche a necessidade de liberação do samsara;
- o terceiro preenche a necessidade de estado de buda onisciente.
Todas as práticas ensinadas pelo Buda enquadram-se dentro de um desses três caminhos.

Meditação sobre a morte:
- a certeza da morte;
- a incerteza quanto a hora da morte;
- a verdade de que na hora da morte só o desenvolvimento espiritual tem valor.

Não sabemos o que virá primeiro, o amanhã ou a próxima vida.

O que determina se meu renascimento é feliz ou miserável, elevado ou baixo, é o estado de minha mente na hora da morte. Agora, com exceção do poder do karma, as pessoas comuns são impotentes. Elas devem aceitar o renascimento lançado sobre elas pela força de seus karmas negros e brancos, ou pelas impressões psíquicas deixadas pelas ações prévias de corpo, fala e mente.

Se a pessoa aceita um ponto da prática ou da doutrina por fé cega, está aceitando pelo motivo errado e da maneira errada. Quando encontro uma contradição entre doutrina e razão, sempre dou prioridade à razão.

Quatro aspectos da Lei Kármica:
- ações positivas e negativas plantam sementes que vão render frutos condizentes;
- uma semente produz muitos frutos, cada um dos quais possui muitas sementes de natureza semelhante;
- uma ação não realizada não produz resultados;
- cada ação do corpo, fala e mente deixa uma semente kármica no continuum que jamais se esgota, a menos que liquidada ou neutralizada por exercícios espirituais.

Quatro nobre verdades:
- a verdade de que a existência imperfeita está enredada no sofrimento;
- de que o sofrimento tem uma causa;
- de que existe um estado onde há a cessação de sofrimento;
- de que existe um caminho espiritual que leva ao estado além de todo o sofrimento.

Estudando os ensinamentos de sabedoria sobre a vacuidade, alcança-se um entendimento sobre como todos os seres vivos têm um apego inato a um "eu" que simplesmente não existe do modo como parece.

O karma refere-se às ações que deixam uma marca de natureza concordante no fluxo mental.

Um método é tão efetivo quanto a mente da pessoa que o utiliza.

Uma prática útil é sentar em silêncio toda noite e repassar as atividades do dia, silenciosamente reconhecendo quaisquer falhas e decidindo superar tais desafios no futuro.

Ditado tibetano: "Se os seus bens são do tamanho de um piolho, então seus sofrimentos são do tamannho de um piolho. Se os seus bens são do tamanho de uma cabra, você terá sofrimento do tamanho de uma cabra."

Como um corpo samsárico é um produto do karma e da delusão, é uma fonte constante de ansiedade e dor. Em geral, acabamos gastando a maior parte da vida a servi-lo, alimentando-o, vestindo-o, abrigando-o, lavando-o e o mimando quando fica doente, e assim por diante. Mas, no fim, não há benefício a menos que o usemos para desenvolver nossa mente.

O senso de auto-existência inerente que pensamos existir nos objetos é uma mera criação de nossa própria mente, e, se investigarmos a nós mesmos, isso é desmascarado como a fonte de todo o sofrimento.

O mundo é submetido pela submissão da própria mente.

A disciplina pacifica nosso ser e traz paz para o modo como as outras pessoas e seres sencientes relacionam-se conosco. Por isso, praticantes sábios protegem sua disciplina como protegeriam seus olhos.

A mente não treinada é muito grosseira, descontrolada e difícil de corrigir.

A causa mais profunda de sofrimento samsárico é a ignorância que se agarra à existência inerente dos conceitos que atribuímos às coisas, ao modo como percebemos as coisas.

O modo como um objeto depende de suas partes, elementos, dos arranjos dessas partes e assim por diante demonstra que a carroça não tem auto-existência. Ela parece existir de verdade, mas é uma ilusão criada pelo acúmulo de várias condições, muito semelhantes à forma como um arco-íris parece ser substancial, mas de fato não possui uma base sólida.

Transformando as energias corpóreas, transformamos o estado de consciência.

Persistência, presença mental, determinação e capacidade de desfrutar a arte de permanecer na disciplina é tudo que se requer para a geração de progresso constante.

As meditações sobre a preciosidade da vida humana e sobre a impermanência e a morte sãs as duas únicas meditações usadas no contexto da perspectiva inicial de cortar a atração por buscas espiritualmente insignificantes e gerar interesse em alcançar estados de existência mais elevados.

O sinal de progresso nas meditações é que a aspiração de liberdade começa a exercer influência sobre a mente dia e noite.

Um comentário:

Marcus Colacino disse...

disciplina é ser discipulo de si mesmo :)