A leitura do A árvore do conhecimento do Maturana e Varela abriu alguns espaços de reflexão fundamentais para pensar melhor sobre a Internet, as redes sociais, as formas que conversamos em nosso cotidiano e como isso acaba sendo aquilo que nos constitui e que constituímos com o nosso viver. Me animei a continuar estudando o trabalho do velho biólogo e caiu na mão o Cognição, ciência e vida cotidiana. Separei alguns trechos dele que acho bem pertinentes para ampliar essa conversa:
- "... qualquer configuração de conversações que começa a ser conservada em nosso viver, torna-se daí em diante o mundo em que vivemos, ou um dos mundos que vivemos." pág. 180;
- "Chamo de conversação nossa operação nesse fluxo entrelaçado de coordenações consensuais de linguajar e emocionar e chamo de conversações as diferentes redes de coordenações entrelaçadas e consensuais de linguajar e emocionar que geramos ao vivermos juntos como seres humanos." pág. 132;
- "... as palavras são nós nas redes de coordenações de ação e se ligam às coordenações de ação." pág. 88;
- "... como seres humanos existimos no fluir de nossas conversações, e todas as nossas atividades acontecem como diferentes espécies de conversações. Consequentemente, nossos diferentes domínios de açõesredes de conversações (domínios cognitivos) como seres humanos (culturas, instituições, sociedades, clubes, jogos, etc.) são constituídos como diferentes , cada uma definida por um critério particular de validação, explícito ou implícito, que define e constitui o que a ela pertence." pág. 132;
- "As culturas são redes fechadas de conversações, conservadas geração após geração através do aprendizado das crianças que nelas vivem. Como tais, as culturas mudam se mudar a rede fechada de conversações que as crianças aprendem enquanto vivem nela, e uma nova rede fechada de conversações começar a ser conservada geração após geração através de seu viver." pág. 198.
- Surgimos como humanos a partir do nosso fluir nas redes de conversação que surgem na linguagem;
- As redes de conversação quando são conservadas ao longo das gerações formam culturas, ou seja, domínios cognitivos reflexivos e relacionais;
- São domínios de ações, onde agimos pela conservação da rede de conversações;
- Conservamos a rede e a estrutura da rede pelo uso da linguagem;
- As redes de conversação quando conservadas acabam por constituir nossa cultura;
- Podemos mudar a cultura quando mudamos as redes de conversação e novas redes passam a ser conservadas pelas gerações.
- Criando novas redes de conversação abertas e livres de pressão hierárquica e autoritária, podemos criar novos espaços relacionais que mudam a cultura vigente de muitas das organizações onde atuamos?
- Criar espaços e possibilidades de refletirmos sobre as nossas redes de conversação, sobre a estrutura delas e o que essa estrutura conserva como cultura é criar uma reflexão que amplia a possibilidade de nos conscientizarmos e questionarmos a cultura que conservamos?
- Podemos criar processos de trabalho (novas redes de conversação) a partir disso, ou seja, podemos estimular mudança organizacional dessa maneira? Esse tipo de mudança organizacional cabe dentro das organizações que são constituídas com que fins?
- Se estudarmos as redes de conversação de uma organização (semântica e estrutural) e se criarmos novos espaços relacionais que visualizem essas redes, se conscientizem delas e reflitam sobre elas, estamos respeitando a complexidade, a diversidade e liberdade dessas redes? Isso nos tornaria mais inteligentes, mais compromissados com nosso próprio caminho, com nosso próprio fazer, mais responsáveis pelas nossas próprias atitudes a ponto de nos relacionarmos de forma mais ampla, mais clara e mais conscientes com nossas escolhas?
- Isso tudo tem a ver com criar ambientes de convivência (estudos, trabalho, lazer, etc...) mais interessantes da perspectiva de melhorar as possibilidades de manifestação individual e coletiva das nossas potencialidades humanas como fluxos que constituem e são constituídos por nós na linguagem e nas redes de conversação em que nos criamos?
2 comentários:
Um post que abre centenas de conversações! Excelente.
Mas por enquanto apenas digo que O QUE DESEJAMOS CONSERVAR só é percebido quando refletimos sobre nosso viver a partir da amorosidade de aceitarmos o outro como válido a partir dele mesmo. Dizemos o que dizemos a cada instante na coerência de nossa congruência com o meio. O dizer dos palmeirenses é um dizer que conserva a rede de conversações do Palmeiras conservando o palmeirense que fala um falar de Palmeiras. Então nesse conservar-se a si mesmo palmeirando a partir do linguajear palmeirense que conserva o Palmeiras enquanto rede específica de conversação, é a única possibilidade de conversação que o Palmeirense pode ter. A não ser que ele saiba que é Palmeirense a partir de uma coerência específica de sua vida, numa série de decisões que o levaram a esta deriva, a partir de sua epigênese pessoal. Talvez se vendo assim, e se aceitando como tal, ele possa dar um passo ao lado para refletir e abrir em sua conversação alguma fala que seja de uma SEGUNDA ORDEM DE OBSERVAÇÃO sonbre o seu palmeirar, certo?
Algarra,
certo sim.
tb vejo assim.
acho interessante olhar dessa forma, pois dá um horizonte mais interessante para refletir sobre nosso fazer nas e a partir das redes.
segue o trem...
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