quinta-feira, 1 de abril de 2010

pensando em colaboração

"Há várias maneiras de relacionar-se entre as pessoas. Algumas são de autoridade. Sou o chefe, os que me são subordinados me obedecem. Os subordinados estão subordinados aos desejos, às ordens, às aspirações dos chefes. O chefe diz “eu quero tal coisa”, e isso é uma ordem. E o subordinado, sem questionar, faz. Essa é uma forma. A outra forma é que várias pessoas se encontram em um lugar e se movem com independência umas das outras, o que um faz não afeta os outros. E outras formas são aquelas nas quais diferentes pessoas interagem entre si, não em uma relação de autoridade e subordinação, não em uma relação de completa separação, mas fazendo coisas juntos. Este fazer coisas juntos pode conservar-se no prazer de fazê-las juntos ou derivar à subordinação ou à dispersão. Quando se conserva o prazer de fazer as coisas junto, se conversa. O que um diz não é uma exigência para os outros. É um convite, uma reflexão para gerar um fazer conjunto. Não se vive como isso uma ordem nem como indiferença, se vive como participação, um fazer de todos eles, no qual o que cada um faz é coerente com o que fazem os outros desde a autonomia, por meio da compreensão do que se está fazendo junto. Isso é o que queremos dizer quando falamos de colaboração. Esse espaço acontece em uma conversação, em uma co-inspiração. Por exemplo, aqui estamos juntos conversando, como resultado de uma co-inspiração. Em algum momento se sugere a necessidade de uma reunião, e isso se converge no fato de que estamos juntos e nos escutamos. Não há uma relação de autoridade, não estamos dispersos, mas estamos fazendo algo juntos que é uma entrevista, uma conversação, e tem um caráter que vai depender da natureza do que se faz. Mas, que está associado com o momento de estar aqui, de querer estar aqui, de fazer coisas que vão surgindo desta interação que não é de autoridade, e que não é de dispersão."

Trecho de uma entrevista de Humberto Maturana e Ximena Davila ao Instituto Ethos. 


Construímos o nosso sentido de estar juntos a partir de nossa capacidade e vontade de querer conversar. Havendo isso, uma rede, um grupo de trabalho tem as condições necessárias para ser saudável aos que dela participam e criarem suas próprias formas de apropriarem e se acoplarem a mais esse domínio relacional que é criado.


Conversamos em rede porque assim o desejamos, porque assim faz sentido, porque assim encontramos motivação para continuar fluindo por aquele espaço. Conversamos em rede porque sentimos prazer nisso. É bastante simples, mas pontua uma forma de ver as coisas que pode nos ajudar a facilitar o nosso fazer nos projetos que atuamos. 


O foco de um processo de ativação é esse prazer de conversar, o prazer de estar em relação. Entendo que esse prazer resido na própria dinâmica da relação, o que é algo singular e diz de cada um que atua.


Se não é isso o que ocorre entre nossos possíveis contatos, iremos:
  • ou nos dispersar e habitar outros territórios;
  • ou nos subordinamos, por que assim nos é conveniente, e nos relacionarmos a partir de um ponto de vista que considera o "certo" e o "real" como algo objetivo e mediado por apenas um lado da relação. Certamente, estaremos vivendo algo outro que colaboração.

Um comentário:

Ronaldo disse...

Inspirador, valeu :-)