quarta-feira, 14 de abril de 2010

entrelaçamento quântico ou da não localidade da mente

Final de 2008, ou, como diriam os antigos, o ano do dragão da impermanência, eu tava lendo sobre mentes interligadas num livro bacana de um tal de Dean Radin. Uma série de resumos de pesquisas sobre possíveis formas em que as mentes poderiam se interconectar. Lá vi, pela primeira vez, o conceito de que a mente poderia ser não-local, ou seja, a mente poderia não corresponder exatamente ao corpo, a individualidade do corpo e sua conexão com outras mentes fosse apenas através dos sentidos. Bem, se ela não fosse local, dá para imaginar o que isso abre de possibilidades para pensarmos em outras formas de entender a comunicação, o nosso fazer em rede e por aí vai...

Ocorre que nesse final de semana, ouvi de novo a mesma expressão, de que a mente era não-local, mas o termo vinha de uma fonte totalmente diferente, outra vertente, outra forma de ver as coisas. Pesquisando um pouco mais no livro do Radin vi que a idéia de mente nã-local estava atrelada a um fenômeno quântico, a idéia do entrelaçamento quântico. Já se fala disso desde os tempos de Einstein, inclusive como paradigma que poderia colapsar a própria base conceitual da quântica como linguagem capaz de descrever fenômenos coerentes da natureza. No entanto, o entrelaçamento foi provado no anos 70/80 de várias formas, mas apenas em nível quântico, ou seja, ele em tese seria válido apenas para fenômenos que se dão nas escalas do micromundo.

Pesquisando, pesquisando, comecei a achar que essa idéia de micromundo do entrelaçamento quântico já ficou superada em pesquisas bem recentes, que vale a pena documentar por aqui [1] e [2], além de um artigo no Scientific American e outro na Nature. Ou seja, o entrelaçamento quântico pode se manifestar e, bem provavelmente, se manifeste entre organismo macroscópicos, entre corpos, entre mentes. Para sacar um pouco o que isso abre de possibilidade, abre de linguagem para podermos distinguir outras coisas que ainda não tínhamos estrutura para olhar, puxei aqui os conceitos principais do tal entrelaçamento:

  • Da Wikipedia: "O entrelaçamento quântico ou emaranhamento quântico é um fenômeno da mecânica quântica que permite que dois ou mais objetos estejam de alguma forma tão ligados que um objeto não possa ser corretamente descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada - mesmo que os objetos possam estar espacialmente separados. Isso leva a correlações muito fortes entre as propriedades físicas observáveis dos diversos sub-sistemas.";
  • Essas fortes correlações fazem com que as medidas realizadas num sistema pareçam estar a influenciar instantaneamente outros sistemas que estão emaranhados com ele, e sugerem que alguma influência estaria a propagar-se instantaneamente entre os sistemas, apesar da separação entre eles.;
  • O emaranhamento quântico é a base para tecnologias emergentes, tais como computação quântica, criptografia quântica e tem sido usado para experiências como o teletransporte quântico.
  • Ao mesmo tempo, isto produz alguns dos aspectos teóricos e filosóficos mais perturbadores da teoria, já que as correlações preditas pela mecânica quântica são inconsistentes com o princípio intuitivo do realismo local, que diz que cada partícula deve ter um estado bem definido, sem que seja necessário fazer referência a outros sistemas distantes.
E o que isso tem a ver com a idéia da mente não-local?
Bem, vejo algumas implicações disso muito interessante e que, com a evolução dessas pesquisas, pode mudar de forma drástica os princípios das ciências cognitivas como um todo:
  1. Se a mente é não-local e funciona de alguma forma por entrelaçamento quântico, realmente apenas nos manifestamos como corpo numa relação convencional de tempo e espaço. Aquilo que chamamos de consciência, emana do entrelaçamento. 
  2. As relações de causa e efeito, ou seja, a idéia de karma poderia se explicar dessa maneira, pois pensamento, ação, visão, etc... poderiam ser vistas como manifestação de um sistema através do filtro cognitivo da biologia do corpo, do cérebro;
  3. Nosso cérebro, por alguma razão, tem uma estrutura que filtra nossa percepção desses fenômenos dessa forma complexa, interligada, criando a sensação que somos locais, separados, o que nos leva a gerar a sensação de identidades/egos individuais;
  4. A partir da possibilidade de descrever esse entrelaçamento, podemos ampliar nossa base de linguagem para gerar conversações sobre isso e ampliar nossa possibilidade de distinguirmos isso em nosso cotidiano;
  5. A nossa linguagem tradicional e conceitos a que estamos acostumados, tais como lógica linear, causa e efeito provavelmente terão de ser repensados;
  6. É possível descrever e ampliar a noção de acoplamento estrutural a partir da biologia para estados quânticos de acoplamento;
  7. Seria possível usar novos conceitos matemáticos para descrever a complexidade desses sistemas e visualizá-los em várias dimensões, o que por certo tem total relação com a forma que as redes se manifestam e são manifestadas pelas nossas conversações;
  8. Poderíamos refletir sobre esse tipo de influência quântica com a dimensão do que experienciamos na realidade convencional, ou seja, como essa experiência é construída e manifestada.
e segue o trem....

Um comentário:

Anônimo disse...

E o território do não permanente e transcendente se expande.

Gostei deveras da análise ;)