terça-feira, 6 de abril de 2010

Refletindo sobre as potencialidades e limitações da análise estrutural de redes

Muito temos falado, usado e experimentado com a análise estrutural de redes sociais. Sem dúvida há muitos interesses envolvidos, muitas buscas por detrás desse interesse todo, além do forte hype que o marketing digital tem feito em relação ao tema mídias sociais e que têm deixado muitas empresas e consultores desesperados em encontrar formas de demonstrar a eficácia de suas estratégias.

Como esse tem sido um tema que tenho estudado fortemente, principalmente porque me interessam muito os aspectos visuais dessa técnica, fiquei refletindo sobre o que considero a força da análise de redes e sobre o que considero como sendo suas limitações. Vamos lá:

  • Pontos fortes da Análise Estrutural de Redes Sociais:
    •  oferece alguns bons algorítmos matemáticos, a partir da Teoria dos Grafos, para coletarmos informações a respeito de uma relação específica que queremos estudar e poder correlacionar toda essa informação. Por essa razão, vejo que há um ganho do ponto de vista de respeitar a complexidade de um sistema, sendo um elemento que nos ajuda a perceber isso;
    • permite, a partir da estrutura de relações que queremos analisar, um conjunto muito grande de possibilidades de visualização dessa informação, facilitando novamente a percepção de algo complexo e, em geral, com um grande volume de informação para se tratar;
    • conhecer a estrutura de uma rede, a partir de uma escolha de uma relação a se olhar, ajuda a perceber algumas sutilezas da dinâmica dessa relação. A estrutura de uma relação é como a estrutura de um prédio, ao meu ver, ou seja, permite percebermos o que se conserva no formato da estrutura e aonde podemos encontrar pontos para potenciais rearticulações a partir dos limites e características da própria estrutura;
    • a análise estrutural fornece alguns bons indicadores, tanto em nível da rede como um todo, como indicadores para os participantes da rede. Isso nos ajuda a comparar redes a partir das análises de relaçõe semelhantes (como análises de co-autoria em publicações, por exemplo). Comparar redes, se for algo muito específico, limitado e focado numa relação que estamos estudando, pode ser útil para contextualizar momentos de uma comunidade, enxergar fases de evolução, perceber ações que podem modular mais ou menos um determinado tipo de emergência. Vale frisar aqui que modular não significa controlar, significa estimular. Como o sistema vai responder a isso depende unicamente de sua coerência interna, algo que, até agora, acho difícil termos uma compreensão exata devido a alta complexidade de elementos que entram em jogo aqui.

  • Pontos de limitação da Análise Estrutural de Redes Sociais (onde não deveríamos misturar coisas e concluir de uma forma bem questionável):
    • é muito complexo concluir coisas genéricas a partir da análise estrutural de redes. Por exemplo, dizer que uma rede é mais ou menos colaborativa, dizer que é melhor ou pior para uma determinada tarefa, observar pontos da rede e por seu posicionamento tomar decisões como promover ou demitir alguém de uma equipe.  Essas visões são sempre subjetivas, complexas, envolvem sutilezas enormes e uma análise estrutural não vai nos contar isso. A análise não serve para avaliar as coisas dessa forma. Usar a análise de redes para isso é subjulgar uma rede, é partir da complexidade de redes para tomar decisões lineares, é usar para controle, hierarquia e dominação o que é essencialmente um processo de conversação;
    • a análise estrutural não é absoluta para se analisar uma rede. Ela não analisa uma rede, ela analisa uma relação dentro de uma rede. Isso pode parecer algo simples, mas não é. Na realidade, na minha opinião, é o que faz toda diferença na utilidade e onde podemos usar o método, e onde começamos a querer colocar nossas forças de controle para fora e concluir coisas a partir de um absurdo solitário. Analisar uma relação é analisar um ponto específico, uma dinâmica específica na quase infinita multiplicidades de relações que se dão nas dinâmicas de interação humana nas conversações em rede. Por exemplo, analisar as interações entre quem publica e quem comenta posts de um blog pode ser muito interessante se ficar focado nesse aspecto da rede, pois esse tipo de análise ignora as pessoas que lêem os posts, que trocam emails sobre eles, que twittam, que conversam em outros ambientes sobre o que lêem, que refletem solitárias sobre isso no domínio da sua reflexão de linguagem e são impactadas, afetadas criando novas derivas no seu viver e isso jamais ficará registrado em um sistema. Por isso, volto a dizer, não estamos analisando uma rede, estamos analisando relações pontuais dentro da complexidade dinâmica de uma rede.
    • os limites da análise estrutural são pontos que podem estimular novas pesquisas, podem nos levar a refletir como podemos usar esses métodos em contextos onde eles façam sentido e ir buscando alternativas, narrativas, arte, poesia, derivas, sonhos, utopias que podem ser acopladas e permitir mais um olhar que pode compor com a análise estrutural de redes sociais e ser mais uma dimensão no campo complexo de estudo das redes.
    • só se conhece uma rede vivenciando a rede. A rede é uma rede de conversações que vai criando e sendo criada pela cultura das conversas. Isso não é estrutural, é biológico, é linguístico e ocorre em múltiplas dimensões. 
    • toda a coerência estrutural que estudamos pode mudar repentinamente por elementos que estão fora do alcance da análise de estruturas. 
E sigo refletindo a partir do meu viver em rede... ;-)

2 comentários:

Luciana disse...

Dalton,
muito interessantes os pontos que você coloca neste post.
Um ponto que me chama a atenção é a limitação da análise de redes, já que se insere numa contexto muito mais complexo de conversações em rede que forma o viver de um coletivo. Por isso, acho necessário pensarmos as redes que visualizamos numa análise dentro do seu contexto mais amplo de conversações. Isso é especialmente importante no contexto organizacional, onde parte relevante das conversações pode acontecer no café ou outros contextos formais e informais.
Um ponto que gostaria de acrescentar é a possibilidade de "devolver" a análise da rede para a própria rede e a partir dela dar início a conversações sobre sua potência e sobre novos padrões de conexão que podem ser criados. Assim é possível que a rede se aproprie do processo, tornando-o recursivo e dinâmico. Assumimos que a análise é arqueológica (como diz a Clara) e torna-se obsoleta rapidamente. Provocamos essa obsolescência questionando a rede sobre como ela quer fazer o que faz, em que direção quer se desenvolver e que potenciais quer ativar.
abs,

Lu

Dalton Martins disse...

Lu,

concordo com o que você colocou.
realmente, considerar a análise de rede como um dispositivo disparador de uma reflexão é algo que pode enriquecer seu próprio uso.

essa busca sobre quais outras dimensões que poderíamos compor, combinar e acoplar com a análise estrutural de redes que podem nos levar a expandir nossa própria capacidade de refletir sobre os processos de emergência que estudamos é algo que estou buscando fortemente.

acho que vc. deu uma dica importante que pode ir compondo essa ecologia.

e segue o trem!

bjs,
dalton