sexta-feira, 7 de maio de 2010

Estados sucessivos de atenção - Shamata como tecnologia de meditação

A estabilidade de nossa atenção altamente focada, indicam alguns estudos, dura uma média de 1 a 3 segundos. Parece pouco, mas experimentar manter o foco da atenção em um objeto, uma imagem ou um pensamento revela a dificuldade que é e as inúmeras possibilidades de flutuação que ocorrem no fluxo da mente.

Sem dúvida, isso influencia em nossa maneira cotidiana de pensar e sentir.  A partir da tenção flutuante, diversos níveis de entrelaçamento ocorrem ao longo do dia, construindo caminhos absolutamente imprevisíveis pela complexidade de nossas mentes.

O entrelaçamento nos leva a lugares muito distintos que passamos a habitar ou descartar em nosso fluxo de pensamento. Pode trazer dor, alegria, harmonia, angústia, certezas, incertazas...

Entender como se relacionar como esse entrelaçamento e descobrir que tipo de tecnologias existem que podem nos dar alguma forma de controle sobre isso, até para poder exercitar um certo livre arbítrio sobre esse flutuar, me levou a descobrir a técnica Shamata de meditação.

Shamata é uma técnica simples, mas que tem o objetivo de ampliar a nossa capacidade de atenção altamente focada.O objetivo consiste em manter o foco da atenção em uma imagem, uma sensação, na respiração ou um objeto de nossa escolha. A prática ocorre quando buscamos manter o foco, mesmo que ele se disperse. Quando estamos nesse fluxo de atenção, estamos praticando shamata de alguma forma.

Shamata é uma tecnologia de meditação, uma forma de abrir novas possibilidades e lentes para o olhar para dentro de si. A técnica consiste de 9 níveis de aprofundamento da atenção. A divisão dos níveis serve apenas como um parâmetro, um ponto de vista para que possamos nos referenciar em que momentos estamos da prática e nos situarmos a como lidar com as próprias dificuldades que surgem.

Segue uma descrição resumida dos 3 primeiros níveis da prática (a partir das dicas do livro Ciência Contemplativa do Allan Wallace):

  1. Atenção direcionada: a mente é dominada fortemente pela agitação. A mente consegue focar a média de 1 a 3 segundos em seu objeto escolhido. O objetivo é praticar em muitos períodos curtos (de 5, 10, 15, 20 minutos) e com o mínimo possível de distrações entre um período e outro.
  2. Atenção continuada: a mente passa a manter a atenção por mais tempo, indo a aproximadamente 1 minuto. A atenção permanece a maior parte do tempo afastada do objeto de foco durante a prática. Mesmo durante os períodos de atenção focada, a mente continua propensa a agitação que agora se manifesta de uma maneira periférica. Parece que a atenção continua focada na imagem mental mesmo quando outros pensamentos e impressões sensoriais perpassam a mente.
  3. Atenção ressurgente: a atenção permanece a maior parte do tempo da prática em seu objeto de foco, cuja continuidade precisa ser reafirmada toda vez que ocorre uma agitação de nível grosseiro. O número de sessões de meditação diminui e o tempo aumenta.
 Sem dúvida, é um desafio enorme a prática de Shamata.
 Os benefícios são múltiplos e relacionados com a possibilidade de harmonia da mente, no entanto, creio que somente a experiência pode responder como isso produz sentido para cada um. 

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