sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ciências cognitivas ou pensando em como pensar no como fazemos o que fazemos

To lendo Francisco Varela na última semana. O livro "A mente incorporada" traz alguns aspectos muito interessantes sobre a história das ciências cognitivas, por onde vai contextualizando os primeiros movimentos (Conferências Macy), o desenvolvimento do paradigma cognitivista, a visão da emergência e a visão enativa, proposta por Varela.

É interessante observar como os grandes embates a respeito da visão de realidade, verdade, mundo objetivo, mundo subjetivo, interno e externo estão fortemente presentes na histórias do estudo da cognição humana. Sem dúvida, questões tão relevantes a filosofia, foram e vem sendo articuladas pelo surgimento de outras maneiras de se pesquisar e refletir sobre essas questões: neurofisiologia, psicologia, inteligência artificial, cibernética, biologia, etc...

Refletir sobre isso é refletir a partir das estruturas que utilizamos para a formação do nosso pensamento, de nossa visão de mundo e de como fazemos o que fazemos. Ao observar as diferentes escolas tive uma sensação muito interessante de ir me reconhecendo em cada maneira de pensar em relação a diferentes momentos do meu viver. Cheguei a momentos de me incomodar e de pensar o quanto teria sido útil ter acesso a esse tipo de reflexão antes...

Perceber o nosso pensar, dar-se conta das próprias estruturas que utilizamos para organizar nossa visão de mundo, perceber o quanto isso nos limita e nos amplia é um exercício libertador.

Colocar em perspectiva os próprios espaços que criamos para nos relacionarmos conosco mesmo não é um exercício trivial. Não é trivial por que simplesmente estamos por dentro desses espaços quando olhamos para eles. O olhar por dentro dos olhos é um olhar recursivo, segundo Varela. É um olhar circular e que na circularidade te coloca em um novo lugar.

A recursividade, vista dessa maneira, pode ser apropriada como uma dinâmica de conexão consigo mesmo, a criação de um espaço que se dobra sobre si. Paradigmas, modelos mentais, visões de mundo, planos de fundo, paisagens mentais podem ser reveladas e colocadas em perspectiva dessa maneira.

É quase uma dança, um bailar num ritmo recursivo...

As prisões e os monstros só ficam visíveis quando nos propomos a olhá-los de um outro lugar. É o tal do dar-se conta. Essa dança é a dança do dar-se conta.

A história das ciências cognitivas é a história da busca humana por estruturas de pensamento que ofereçam respostas a esse dar-se conta. Respostas de múltiplos ângulos de visão, de questionamentos a partir de várias escolas do pensamento, mas que nos emprestam algumas boas dicas para colocarmos em perspectiva e revisitarmos várias fases de nosso viver, e simplesmente ir se questionando se não nenhuma semelhança com essas estruturas de pensamento, tanto no que nos liberta quanto no que nos aprisiona.

será?

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