segunda-feira, 22 de março de 2010

Conectando linguagem, redes semânticas e estruturas dissipativas

Comecei a brincar com visualização de Redes Semânticas por aqui na semana passada, depois que voltei da CIRS. A brincadeira foi tomando gosto e fiquei um tempo pensando em que esse tipo de coisa poderia ser útil para alguns dos tópicos que venho estudando ultimamente. Duas visões de aplicação disso ficaram evidentes e me parecem que vale a pena dedicar um tempo analisando as possibilidades:
  1. Utilizar a visualização de Redes Semânticas em processos com grupos que compartilham documentos que acabam por ser mediadores de seu fazer coletivo, enquanto reunidos nesses grupos. Por exemplo, grupos de trabalho que aplicam procedimentos de um determinado manual, pesquisadores que utilizam determinadas obras de referência, atendentes de campo e de suporte, etc. A idéia seria coletar esses documentos de referência e analisar a visualização de sua rede semântica. A partir disso, apresentar a visualização como uma forma de biofeedback para o grupo e trabalhar, a partir da perspectiva da relação, as diferentes compreensões e as diferentes formas de enxergar os mesmos conceitos. Acredito que isso poderia ser bem rico como material meio para que possamos compartilhar como nossa mente vê o que vê da forma como vê.
  2. Utilizar a visualização de Redes Semânticas em processos ditos "terapêuticos". A idéia de fundo aqui é coletar depoimentos de pessoas a respeito de questões que lhes interessam ou que gostariam de aprender mais sobre si mesmas. Construir a visualização da Rede Semântica e analisar as conexões, as relações entre conceitos, buscando questionar por que aparecem como aparecem e que tipo de rede estamos construindo como nosso modelo mental de pensamento a respeito daquele tema. Será que podemos mudar nossas redes? Será que visualizarmos essas redes pode nos ajudar a conscientizar melhor as estruturas de linguagem que utilizamos para pensar e dar forma a nossa consciência?
  Certamente, imagino que outras possíveis aplicações possam surgir desses primeiros experimentos.
 O que me parece interessante é que acabamos tendo a mão todo o ferramental técnico de análise de redes para brincar com essas visualizações, como encontrarmos termos hubs de nossas próprias redes interiores. Humm....

A base dessas relações está pautada por algumas conexões interessantes que vão dando o caminho das pedras:
  • a nossa linguagem tradicional acaba por nos aprisionar um fragmentado modelo de vida. A estrutura sujeito-predicado acaba por modelar nosso pensamento, nos fazendo pensar em tudo em termos de causa-efeito;
  • a Teoria de Prigogine sobre estruturas dissipativas nos ensina que a estrutura de um sistema é mantida por uma contínua dissipação de energia. Essas estruturas podem também ser descritas como integridades flutuantes e são altamente organizadas, mas estão sempre em processamento. Quanto mais complexa é uma estrutura dissipada, mais energia se faz necessária para manter todas as conexões, dessa forma, ela é mais vulnerável às flutuações internas. Podemos usar essa forma de ver as coisas para entender como as estruturas dissipativas podem muito bem ligar os padrões dinâmicos do cérebro às transições da mente. Psicotecnologias podem propor uma flutuação possível nesses padrões, levando o sistema a um nível maior de complexidade e reorganização, possibilitando a dissolvência de determinados padrões.
 Será que utilizarmos a visualização de Redes Semânticas para deixar explícito a forma como utilizamos nossa linguagem para expressar o vemos  pode nos ajudar a dissolver e reorganizar de uma forma mais dinâmica nossas estruturas dissipativas mentais? Será que isso serviria como uma forma de nos conhecermos? Seria a rede uma tecnologia do espírito? ;-)

2 comentários:

Léo Nascimento disse...

Este texto fez surgir uma dúvida, não relacionada ao tema em si, mas ao elemento da linguagem, este fenômeno citado juntamente com Prigogine no mesmo contexto me fez pensar se a linguagem, da maneira como é utilizada atualmente e o pensamento, em seu padrão compulsivo não seria uma maneira de dissipação de energia e, no caso de um controle consciente (a meditação, por exemplo) não migraria este fluxo para a formação de uma nova estrutura,quem sabe, a de um estado búdico?

Dalton Martins disse...

léo,

acho que o que vc. colocou faz sentido sim.
vejo que estruturas dissipativas com um nível maior de complexidade a ponto de serem dinâmicas o suficiente para auto-organizarem conforme o contexto do que vivem como vivem, podem levar a uma nova estrutura nesse sentido.

me parece que faz sentido vermos dessa forma tb.