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sábado, 14 de abril de 2012

As linguagens da psicose e modos de modelar redes linguísticas

O insight de que as redes de conversação humana formam sistemas complexos que podem ser estudados da perspectiva da linguagem que geram não é uma novidade. Tenho visto estudo sobre issos já a algum tempo, envolvendo desde a turma da aprendizagem organizacional e biologia cultural até o pessoal mais voltado para análise complexa, caos e dinâmica de redes.

A linguagem é uma forma de expressão que carrega em sua própria concepção uma perspectiva estrutural bastante forte. A posição das palavras, seus papéis sintáticos e semânticos, as funções exercidas, enfim, um universo de conceitos que revelam estrutura na relação entre palavras. Estudar qualquer aspecto estrutural pela uso da análise estrutural e dinâmica de redes é algo que pode fluir com bastante facilidade. O uso da modelagem de dados por estruturas como grafos e as possibilidades de indicadores que geramos dessas técnicas tornam-se um recurso de pesquisa e experimentação fantástico para identificar tendências, padrões e aspectos que marquem as característica de uma estrutura.

Caracterizar estruturas não é um processo fácil, exato. Na verdade, ferramentas de descrição podem ajudar muito, mas um certo aspecto intuitivo é fundamental para dar relevância, filtro e sentido para aquilo que as análises mostram. Nada de novo, desde que estatística é estatística as coisas seguem mais ou menos desse modo.

Essa semana, recebi de um amigo um link de um artigo científico que fala de usos da análise de redes para identificação de padrões estruturais na linguagem de pessoas com psicose e manias. Os resultados são bastante simples e as imagens muito intuitivas, mostrando algumas formas estruturais que revelam diferentes modos de utilização da linguagem.

Um dos pontos mais importantes é pensarmos que esse uso, no caso direcionado mais para a área da saúde e casos clássicos, pode também ser direcionado para sistemas de conversação humano como um todo. Grupos de trabalho, redes sociais, comunidades, etc... formam sistemas linguísticos que reverberam estruturais de organização do que corre por dentro das veias do grupo. Sem dúvida, não é uma abordagem absoluta e num deve ser considerada única, mas é mais uma forma de espelhamento, de reflexão sobre aquilo mesmo que construímos em conjunto e que não se torna visível para quem não se questiona e busca analisar os próprios padrões de si.


A perspectiva da dobra é autoconhecimento, seja de si, seja de um grupo. Com que objetivo mesmo? :-)))

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Artefatos, místicas e formas de pensar

Não creio que seja muita novidade entendermos que não fomos "treinados" na nossa cultura, no sistema educional, político, familiar bla bla bla para pensar diferente de formas lineares de entender as coisas. É praticamente "natural" analisarmos as coisas buscando relações de causa e efeito: se isso aconteceu, aquilo deve ter acontecido; se está desse jeito, é por culpa de tal coisa; se fizermos isso, vai rolar aquilo.

Criticar essa forma também não é algo novo. Muitos livros têm sido escritos, experiências, projetos, filosofias. De fato, no meu entender, estamos ainda no início da desconstrução: o novo tá visível como potencial, como possibilidade, ainda longe de se transformar em modo "natural" de pensar, pautando a maneira que nos organizamos e nos relacionamos. Ainda estamos longe disso.

Até aí, tudo bem. Há pouco a se fazer, a não ser aprofundar a crítica, analisar as possibilidades, experimentar, buscando sinalizar o novo na crença/aposta de que novas e novas gerações vão chegar, constituindo uma nova cultura, deslocando o velho e produzindo o novo. A vida que muitos de nós gostaríamos de viver, ao menos aqueles que estão se dando conta disso e percebendo os próprios limites no modo de fazer as coisas, não será experenciada em plena potência-contágio-coletivo nos tempos atuais. Somos o povo da romaria, somos o povo da migração, somos o povo que levanta poeira e busca construir um caminho por onde passar.



Lidar com isso é apenas uma condição de contorno, todavia. Há tantas brechas a serem exploradas, há tanto por se pensar e experimentar a cada dia, que a mente chega a não dar conta de tanta coisa que poderíamos tentar. Começar é um bom começo... ;-)

Tudo para isso para compartilhar uma reflexão que tem ganhado força dentro de mim nas últimas semanas. Algumas pessoas tem me perguntado por quê tenho dedicado tanta atenção, tempo e esforço estudando novos modelos matemáticos de análise de redes, dinâmica de sistemas e sistemas complexos. Acabei me dando conta que falei pouco sobre o que de fato tem ressoado aqui dentro, não na superfície, mas naquele âmago que te faz acordar as 3:00h da manhã e começar a rabiscar no velho caderno antes que a ideia-imagem-forma se esvaia nos abismos de si.

O fato, já eternizado por Einstein, é que para novos problemas precisamos de novos métodos. A vivência dos últimos 10 anos, somada a toda a experiência cultural-religiosa que vivencei nos últimos 7 anos, foi deixando isso gradativamente mais claro.

A dimensão da rede, do se relacionar em rede, da produção coletiva, da comunidade é um campo que ainda estamos de fato apenas começando a entender. Não há nada trivial nisso. Tenho explorado diversos pensadores/experimentadores que têm falado sobre isso e pautado a fronteira do que ainda conseguimos pensar. Gente como Fritojf Capra, Humberto Maturana, Gregory Bateson, Edgar Morin, Weiner Heisenberg, Ilya Prigogine, Pierre Levy, David Bohm, Barabasi, Duncan Watts, Mark Newman, Castells, Foucault, Deleuze, Guattari, Regina Benevides, Edu Passos, Nietzsche, Francisco Varela, sem falar nos aliados do dia-a-dia, Susana Maiani, Regiane, Renata Pudo, Paulinho, Felipe Fonseca, Daniel Pádua, Hernani Dimantas, Ricardo Teixeira, Rogério da Costa, Luiz Algarra, Lu Annunziata, Drica Guzzi, André Benedito, Glauco, Guima, Gus, Naty, Isis, Mari, Moura e por aí vai, são pessoas que têm, de uma forma ou de outra, me dado pistas, dicas e apontado caminhos, sobretudo aquelas que estão se predispondo a vivenciar isso em suas próprias relações.

Mas.... Tem um algo na minha forma de ver as coisas que estrutura a experiência a partir de algum tipo de método. Tenho me dado conta disso nos últimos anos, mas é algo que entendo estar presente desde sempre. O método, para mim, é o princípio, a energia motriz de organização daquilo que com que me relaciono.




Ocorre que o método que tenho utilizado desde sempre é o mesmo método linear que aprendi nos meus anos de estudo formal/convivência com tantas outras pessoas que pensaram assim. Seria pedir que de repente, ao entrar em contato com novas ideias, tudo subitamente mudasse. Não, as coisas são, em geral, um pouco mais complexas que isso.

Tem sido necessário construir um novo modo de pensar, uma nova forma de estruturas as coisas. Essa nova forma precisa incluir muitas dimensões, precisa ser flexível, móvel, dinâmica, ágil, adaptável. Precisa criar espaço para que outros pontos possam ser conectados, permitindo não apenas somar efeitos, mas emergir sensações e sínteses que não seriam possíveis antes.

O ferramental matemático da Teoria dos Grafos, o que de fato fundamenta a análise de redes e parte expressiva do que temos utilizado para o estudo dos sistemas dinâmicos traz essa perspectiva, ao meu modo de entender.

Simplificando ao máximo: é uma das formas modernas de entrar nos fluxos, de se deixar tocar pelas multiplicidades, de entrar no caos das interações, das relações emergentes e voltar de lá com um artefato, um objeto místico-síntese-atrator que tão simplesmente quanto a sua própria existência simbolize um movimento.

Não, não há nada de muito diferente do xamã que entra nos sonhos, nos fluxos da tribo e volta de lá com os totens-tabús produtores de sentido de seu coletivo. Uma nova forma de dar contorno e lidar com a amplitude daquilo que me ultrapassa.

Essa tem sido a motivação dos contornos de um novo modo e, posso garantir, estou ainda bem no começo, mas já começando a esboçar formas um pouco mais interessantes....