Logo, refletir, pesquisar e documentar questões que sinto estarem relacionadas a princípios de ativação de redes tem sido uma constante nas caminhadas-ideantes por aí afora.
Uma das coisas que o projeto Telecentros.BR tem me trazido como campo experimental com muita intensidade nos últimos meses é a relação entre o quero chamar aqui de modos de formar e modos de gerir. Essa distinção tenho adotado a partir de um maravilhoso texto que li sobre processo de formação da turma da humanização da saúde.
Lá pelas tantas, eles citam algo a atenção e me fez colocar em perspectiva algumas tantas experiências dos últimos anos:
"O princípio que pretendemos discutir aqui se pauta na compreensão de que os processos de formação, os modos de cuidar e os modos de gerir são indissociáveis, ainda que sejam distintos."
A primeira reflexão que me surge é:
- O quanto o modo como fazemos a gestão de nossos processos de trabalho e relacionamento está pautando o tipo de formação (de qualquer tipo de processo educativo, seja uma oficina, palestras, cursos, etc.) que estamos ofertando ao outro?
- O quanto consideramos essa questão como espaço de conversa e reflexão em nossa produção cotidiana?
No entanto, esse fazer tem consequências, apresenta desafios de grande complexidade pois desloca a questão do produto que um grupo está se propondo a executar para o modo de gerir desse próprio grupo. Questão extremamente delicada pois atua diretamente nas relações de poder, de saberes e de papéis pelos quais este grupo se propõe a atuar.
E aí, chegamos num ponto fundamental que tem uma relação direta com a ideia de ativação de redes: o quão flexível é a proposta de atuação que temos para que de fato contemple a produção e construção coletiva de um modo de gerir ainda não previamente pensado, ou mesmo acordado?
Sinto que é nesse ponto que reside uma zona complexa de atuar, difícil mesmo de chegar, mas, que quando tratada como tema dos próprios processos formativos em que nos propomos atuar, o efeito é visceral. Abre dimensões fundamentais das relações humanas, ativa discussões de fundo que se relacionam com modos de ver o mundo, maneiras de compreender a própria vida e são disparadores de base de processos colaborativos, pois, sobretudo, quando novas propostas de modos gerir podem ser experimentadas, testadas e refletidas por um coletivo.
Há muito para se pesquisar nesse ponto, sem dúvida. Muitos problemas novos surgem, muitas questões ainda não colocadas vêm a tona e poucas respostas prontas são úteis nesse tipo de relação. Mas a aposta e, eu até ousaria dizer isso do que tenho vivido, é que essa é uma questão que facilita a produção de autonomia, a construção de redes e coletivos mais empoderados, com mais possibilidades e recursos para se auto-organizar, utilizando a rede como meio e modo de gerir. Aí, produzimos processos formativos que refletem suas questões de base e não apenas objetivos a serem atingidos estabelecidos por grupos que muito pouco têm a ver com a realidade daquele que idealizam em suas ações.
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