Há várias formas de se pensar no desenvolvimento de um projeto e na forma que pretendemos desenvolver um processo produtivo, seja lá do que for.
Há escolhas que buscam preservar o rigor do conhecimento técnico, a padronização e, para isso, criam instâncias de especialistas que determinam procedimentos, normas, padrões e formas de como um projeto deve ser desenvolvido.
Há outras escolhas que buscam potencializar a produção coletiva, criando e garantindo que espaços de diálogo possam estar sempre abertos para discutir as normas, os procedimentos e as soluções que terão impacto direto na vida do conjunto de pessoas que se relacionam no âmbito de um projeto.
Não acredito que sejam necessariamente dois processos que se oponham. Acredito que o bom desenvolvimento técnico de um projeto se dê quando conseguimos garantir estabilidade, escalabilidade e um processo de apropriação coletiva dos meios e modos de construir a produção.
Sem dúvida, há riscos. Mas, os riscos são bem menos técnicos e muito mais de acreditar e apostar num meio de relação onde a conversa se faz necessária, fundamental e meio pelo qual a técnica se expressa e auxilia a produzir sentido.
Sem dúvida, há riscos. Mas, os ganhos de visão que obtemos quando compartilhamos nossas escolhas, quando escolhemos juntos criam um campo em potencial que impacta muitas outras coisas para além daquilo que podemos visualizar no desenvolvimento de um projeto. Criamos redes ao sentarmos juntos e nos propormos a fazer o mesmo trabalho, a enfrentar as mesmas dificuldades e, juntos, pararmos e refletirmos sobre quais são as nosssa reais possibilidades mediante as nossas reais restrições.
Enxergamos o que enxergamos quando vamos juntos. Esse é o grande ponto a ser pensado em qualquer processo, sobretudo aqueles que lidam diretamente com produção imaterial, com a criatividade e que afetam a forma que as pessoas se expressam, a maneira como entendem e enxergam o mundo.
A experiência que temos tido e fomentado ao longo do projeto Telecentros.BR é exatamente essa. Mais do que focar numa excelência técnica da formação, estamos buscando empoderar e criar meios de relação para a emergência da Rede de Formação do programa.
A rede só surge quando se apropria de seus processos, quando sente que seu poder de voz é real, não intermediado, que suas decisões têm efeitos práticos, imediatos. A rede só surge quando as pessoas se dão conta que sua voz muda os rumos, define processos e que ela reverbera em pessoas que de fato têm interesse, tempo e vontade de escutar. A rede é inteligente para perceber quando esse processo não é real. Os links se organizam, se recriam e se rearticulam em torno daquilo que os motiva: exercer sua própria autonomia.
Para isso, criar encontros, eventos, seminários e reuniões presenciais são fundamentais. Não só para apresentar resultados, mas para definir a política de nosso meio. Nesses espaços, temos a oportunidade de nos colocarmos numa posição semelhante, descentralizando identidades anteriores e percebendo que nossas opiniões podem afetar a de outros e construir o novo.
Mais do que construindo uma formação, estamos nos construindo como grupo, como relação e como príncipio de produção coletiva. É outro efeito que se obtém, é outro campo que se abre e é outro projeto que se desdobra.
3 comentários:
Tinha acabado de ler um post de um colega americano sobre influência quando li seu post. Fiquei pensando sobre a diferença de ênfase. Eles se perguntando como ter influência na rede e a gente se perguntando como a rede pode ser um meio de influência. Quando isso acontece, pensar em quem foi o influenciador é quase irrelevante. Um beijo para todos aí!
Luciana,
é exatamente esse o ponto.
enquanto pensarmos em rede com um foco extrativista, estaremos, de formas mais bonitas ou não, pensando em maneiras de explorar melhor as pessoas. Acontece que as pessoas não são bobas e acabam se dando e a tão esperada emergência não ocorre.
A rede se potencializa numa relação mais verdadeira, mais sincera, aí algo ocorre que pode de fato mudar o rumo das coisas!
Valeu pelo teu comentário! bem bom!
sim sr...rs :)
Postar um comentário