Muitas vezes eu mesmo me pergunto qual razão e o desejo de atuar dessa forma. Por quê pesquisar, investir e se dedicar a pesquisa sobre tendências, processos, meios, recursos e possibilidades de ativação de redes? Sem dúvida, há muitas possibilidades aqui, mas, a que me mobiliza é a possibilidade de que a criação de vínculos entre as pessoas que participam de projetos ditos "sociais" criem um campo de conversa, de troca que possa ampliar/deslocar o sentido que produzimos sobre o que fazemos, levando a pensarmos em outras possibilidades ainda não pensadas. Tem a ver com uma certa vontade de ampliar a brincadeira de inventar o cotidiano, de inventar novas maneiras de se relacionar e apostar que algumas delas possam me levar a lugares em que ainda não estive, abrindo portas de aprendizados e formas de ver o mundo. Isso já é muito, diria até bastante pretensioso. Mas mobiliza, leva a experimentar diversas maneiras de atuar nos projetos em que participo, buscando ver como isso se desdobra nas ações práticas em que acabo me envolvendo.
Uma das coisas que mobiliza é descobrir formas de descrever aquilo que visualizo de uma maneira bastante abstrata quando reflito/vejo os fluxos de comunicação produzindo um espaço informacional de conversas. É nesse espaço em que o imaginário se constrói, atua e interatua, tornando-se força replicante, agente-vetor que tensiona e impulsiona forças, criando danças interessantes. Os movimentos acontecem quando acontecem, não podem ser replicados. Mas, muitos deles deixam rastros, permitindo até um certo ponto que possamos estudar como se produziram, que tipo de relação de causalidade possa ter influenciado nisso criando espaço para refletir em práticas de ação que possam ser mais interessantes e outras nem tanto. Mais uma vez, desafio dos bons.
Juntando os processos de relação, as maneiras e modos de se relacionar (que tenho mapeado em alguns posts por aqui) com a busca por reconstituir esses traços tá aí dado um projeto de pesquisa/vida/sonho/prazer/desejo/ativismo desenhado nas curvas dos passos imaginários por aqui. É nessa rota que tenho seguido, inventando maneiras, vocabulários, pareando com bons parceiros, seguindo bons caminhos e brincando até onde os limites das possibilidades visualizadas têm permitido.
O campo de ação/experimentação da vez tem sido o Telecentros.BR, onde muitas dessas hipóteses de trabalho têm sido experimentadas, ajudando a encontrar mais algumas pistas de por onde aprofundar reflexões e criar novos espaços de ação.
O projeto tem se desdobrado, até então, majoritariamente pelo uso de uma ferramenta de EAD, o tal do Moodle. Ferramenta amada por muitos, odiada por outros tantos. Mas, o ponto da conversa aqui não é o aspecto tecnológico, as escolhas de construção e desenvolvimento do Moodle. O ponto aqui é que ele tem sido utilizado como um ambiente para iniciarmos conversas, estabelecermos um campo de negociação entre todos os participantes desse projeto envolvendo as formas que escolhemos de produzir e desenvolver esse ambiente. Ele se torna apenas um meio de passagem, um campo para atuarmos juntos, um local onde conseguimos dar uma base material para nossas ideias e conseguirmos viabilizar acordos, conteúdos, visões sobre inclusão digital, cultura digital, política, redes, e um tanto de outras coisas que se entrelaçam por aqui.
O ponto é que tomamos algumas decisões importantes nessa Rede de Formação que tem permitido algumas possibilidades de apropriação desse espaço que têm me surpreendido:
- escolhemos trabalhar com grupos de um tutor para 30 monitores;
- escolhemos trabalhar em áreas onde os grupos ficam mais separados e áreas onde os grupos podem ficar mais juntos dentro da plataforma;
- escolhemos disponibilizar algumas ferramentas de convesação instântanea logo de cara, na primeira página do site, onde todos os monitores logados podem visualizar outros monitores logados que não sejam necessariamente do seu grupo, cidade, estado.
Semana passada consegui extrair a base de dados SQL do Moodle e comecei a dar uma olhada nas tabelas que não podem ser extraídas automaticamente da ferramenta de relatórios gerais. Encontrei algumas surpresas interessantes: mais de 32.000 trocas de mensagens entre monitores utilizando o sistema de mensagens instantâneas do Moodle. 32.000... em menos de 3 meses de formação. Confesso que nunca tinha visto isso antes num sistema em projetos que atuei. Não contente com números brutos, fui investigar alguns passos de como essa rede estava sendo formada. De onde vinham essas conversas? Quem estava conversando? Que tipo de estratégia de articulação poderíamos perceber nesses primeiros traços?
Brincando um pouco com as planilhas do Moodle, com o SQL e mais alguns cruzamentos deu para começar a visualizar essa rede. Segue alguns comentários sobre essas primeiras imagens de ativação da Rede de Formação envolvendo os monitores do programa.
A imagem acima mostra a rede geral de conversa entre monitores (verdes) e tutores/equipe dos polos (amarelos). Já foi possível identificar as principais sub-redes sendo articuladas nessa imagem, determinando espaços de ação dos polos regionais em suas estratégias de facilitação e promoção da formação com os monitores. As sub-redes refletem a quantidade de monitores participando na formação, sendo que temos um grupo bem maior vindo do Nordeste do que de São paulo, por exemplo. O que me chama atenção nessa imagem é o papel articulador dos tutores na sua região e o papel de conexão que os monitores fazem entre essas regiões, onde podemos visualizar vários pontos verdes entre as areas dos polos, ou seja, monitores conversando com monitores de outros polos.
Para facilita ver isso, retirei da rede apenas as interações entre tutores e surgiu a imagem abaixo.
Dá para perceber com mais facilidades que os tutores se agrupam bastante focados em sua área de atuação, tendo alguns pontos de contato entre eles, criando campos de conversa entre polos. Uma boa písta por aqui de como podemos trabalhar a ativação da rede entre esses tutores, visualizando pontos de contato que podem ser trabalhados e analisados com mais cuidado.
Vendo a rede de tutores, fui olhar a rede de monitores e tirei as duas imagens logo abaixo.
Nessa primeira imagem, dá para perceber claramente o papel de articulação que os tutores desempenhavam na estrutura geral da Rede. Mas, há um grupo central nessa rede começando um movimento de inter-atuação, criando um campo inicial de conexão entre os diferentes polos da Rede de formação. Campo inicial, tímido, ainda começando, mas dando algumas boas pistas de investimento para os próximos passos dessa rede.
Na imagem abaixo, fiz uma separação dos monitores que estavam isolados quando os tutores saíram da rede e a parte dos monitores que estavam mais articulados entre si. A imagem fala por si, mas fica bastante claro a quantidade de monitores que estão apenas vinculados diretamente aos seus tutores. A ideia por aqui não é avaliar se isso é bom ou ruim, longe disso. A ideia é mostrar e abrir espaço para conversarmos e refletirmos juntos sobre os múltiplos significados que essas imagens podem despertar em nós.
E seguimos na conversa, que estamos apenas começando a coletar e analisar os primeiros resultados dessa rede, mas já dando um caldo interessante para aquecermos próximos movimentos. Enfim, estratégias de uma rede de redes sendo construída e vivenciada em ato pelas escolhas e caminhos que seguimos. Vqv! ;-)
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