quinta-feira, 20 de agosto de 2009

estudando a conexão entre ignorância, modelos mentais e consciência

Definir ignorância me parece um grande desafio. Como definir algo que por si só já é uma forma de restrição?

Lembrei de alguns conceitos sobre ignorância que ouvi nos últimos anos:
1. ignorância é falta de luz;
2. ignorância é visão restrita;
3. ignorância é trevas;
4. ignorância é falta de conhecimento.

Tem algumas versões que derivam essencialmente destas.
Creio que haja um equívoco importante nessa forma de definir ignorância e que talvez ajude a propagar mais ignorância. Os conceitos todos têm por trás um elemento que falta, como se algo pudesse chegar e clarear aquele ponto, trazendo uma sensação de verdade e clareza que desse um sentido novo para um determinado ponto de vista.
Vejo que seguir dessa forma é substituir uma representação por outra. É trocar um modelo por outro, fazer o upgrade do software e achar que aquele último será a versão definitiva. Voltomos a um ciclo de conceitos e revisões que me parece que não vai terminar nunca.

Vejo ignorância de forma diferente. Pensei em como poderia olhar para esse conceito de uma forma que não o definisse, mas que desse um cortono de percepção. Vejo assim:

Ignorância é uma tentativa de dar solidez a uma estrutura cognitiva de entendimento do mundo, a um contorno que cria uma interface ilusória entre uma infinidade de agregados que levam a percepção do todo.

Comentando:
Dar solidez significa gerar uma relação com uma forma de ver algo que considera aquela forma como a melhor, a mais alta, a mais profunda, a mais verdadeira. Qualquer conceito que parta dessa premissa, gera ignorância. A razão é que acaba por existir dualismo, uma comparação sutil entre duas ou mais criações mentais que são tão válidas quanto qualquer outra no contexto de quem a criou. Ou seja, o observador não reconhece a criação, mas sim a relação que ele cria com a criação e a chama de verdade.

Ok. Mas, e daí?
Daí que isso segue numa sequência interessante.
Um conjunto de ignorâncias operando forma uma espécie de agregado. Esse agregado, para a mente, vai adquirindo uma espécie de maneira de agir, maneira de atuar, que é o que podemos chamar de modelo mental. Isso está bastante mapeado em estruturas de conhecimento como Pensamento sistêmico, cognição e por aí vai. O modelo mental é uma forma de dar pronta resposta as situações que vivenciamos, uma classificação automática e sutil ao que consideramos como sendo o real, o verdadeiro, a forma de vermos o mundo.

ok, Mas, e daí?
Daí que isso segue numa nova sequência interessante.
Um conjunto de modelos mentais operando vai formando um tipo de consciência, uma maneira arquetípica de ver e conhecer o mundo a partir das relações que estabelecemos com nosso próprio olhar. Esse tipo de consciência tem relação com o que chamamos de persona, arquétipo, número no eneagrama, mito, signo astrológico e por aí vai. A consciência se forma a partir de um agregado de modelos de respostas básicos as situações cotidianas que vivemos. Uma espécie de Google psíquico com filtro conceitual de busca!
É claro que falo aqui de um nível consciência básico, cada pessoa realiza e integra isso de formas muito singulares, oscilando em torno dos padrões que formamos coletivamente em nosso convívio social.

É?

3 comentários:

Mari Oliveira disse...

OK, mas e daí? rsrsrsrs
parece que vc apresenta a ignorancia como uma ilusão de estrutura, como uma busca transcendente pela "verdade", no sentido platonico!
ignorancia como posição fixa, um desejo de parar a vida, de achar o santo graal!
Sabe o que me surpreendeu em atribuir a ignorancia uma espécie de modelo mental?
Vinha vindo numa linha que pensa a ignorancia como ponto de ruptura com a estrutura...como ponto de incerteza que permite a mudança de rumo, justamente como ponto de força desestruturante!
ok, mas e daí....!!!!

Dalton Martins disse...

hummmm...
sentido platônico?
não sei se vai na busca de uma essência, talvez fosse mais no sentido de desconstruir a possibilidade de verdade a partir de algo dualista.

e segue o trem....

Dani Matielo disse...

Acho bem interessante essa idéia da construção do estado de ignorância como uma contra-partida necessária para a delimitação de um estado de verdade absoluta. E daí que a ignorância só existe porque existem coisas que "não são sabidas", mas é verdade que nesse sentido a ignorância é infinita e esse contorno é ilusório. E nesse sentido, o uso do conceito não contribui para uma construção permeável entre os diferentes conceitos, experiências, visões... e os modelos que são gerados a partir dessa dicotonomia acabam sendo estátidos, porque se constroem em cima dela oposição entre a ignorância e a não ignorância.