segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da reciclagem e a construção de conhecimento

Pensar num processo de reciclagem nos leva, de início, a refletir a respeito do material que será reciclado e o material nos leva a elementaridade, ou seja, a desconstrução física de peças, equipamentos, objetos produzidos em geral. Esse processo iniciado na desconstrução material traz, como caráter pedagógico, o domínio da conexão das partes e sua relação com a junção lógica dos elementos constituintes de um todo tecnologicamente estabelecido. Iniciamos aqui um processo de construção de conhecimento e conseqüente domínio de uma determinada tecnologia que, no limite, desmistifica e abre um novo campo, uma nova interface, uma nova gestualidade e novas possibilidades de criação, enfim, uma nova linguagem e sua simbologia.
Projetando esse processo de reciclagem especificamente para o domínio das tecnologias digitais, dos computadores pessoais e da eletrônica embarcada em equipamentos de uso cotidiano, passamos a falar numa transformação do computador de uma mera ferramenta de trabalho para um instrumento de comunicação e de uma nova linguagem de criação e expressão para refletir as necessidades locais de cada comunidade, de cada coletivo, de cada grupo organizado em torno de um fim próprio e de cada articulador do processo de reciclagem e desenvolvimento local. Abrem-se, portanto, novas possibilidades. Juntando a esse processo de construção de conhecimento a partir da desconstrução material dos equipamentos a customização, o uso interativo, o desenvolvimento e as mais variadas aplicações do software livre temos o círculo de independência tecnológica estabelecido, sendo as comunidades livres para abrirem e adaptarem suas máquinas com base na linguagem técnica adquirida e customizarem e adaptarem às suas próprias necessidades as funções operacionais dos computadores.
No entanto, a relação entre a técnica e a linguagem não estabelece fronteiras e permite uma nova construção estética que se reflete, de início, na reorganização material dessa tecnologia reciclada e reelaborada abrindo o campo para o desdobramento de uma expressão artística que pensa e reflete a tecnologia como humanizada e desprovida de suas características massificantes e organizadoras de um cartesianismo provinciano. Aqui, sim, estabelece-se a relação material, humana, artística e tecnológica que culmina no que pode ser chamado da MetaReciclagem.
É, portanto a formação de um processo dinâmico, descentralizado e aberto, uma MetaReciclagem cultural e técnica que constrói seu impacto social com o enfrentamento da criação de redes livres de comunicação entre comunidades geograficamente distribuídas e a potencialização de ações locais interconectadas.
Logo, a doação de parte das máquinas recicladas para as comunidades organizadas de forma a poder receber esses equipamentos é parte fundamental dos desdobramentos práticos dos processos de MetaReciclagem.
É a concretização da reciclagem tecnológica como um efetivo processo de construção coletiva do conhecimento.

2 comentários:

Tati disse...

Eu gostei da parte que trata a doação como "desdobramento" e não como origem, fim ou essência.
Curto e insisto um pouco na ideia-prática das sutilezas que fazem pensar...
Acho que esse caso é um bom exemplo...

bjs
Tati

Dalton Martins disse...

pois é, tati.
as sutilezas que fazem pensar, creio que esse é o desafio.

bjs,
dalton