sexta-feira, 23 de julho de 2010

11º FISL - dia 22-07 - Conversando sobre Telecentros.BR, Metareciclagem, Dados Livres e Acervos Digitais

Fiz uma boa viagem na noite anterior. Sair tarde de São Paulo e viajar as 22:30 foi uma boa escolha: aeroporto vazio, pouca gente no saguão, vôo mais tranquilo. Bastante chuva em Porto Alegre, aeroporto quase fecha na hora do pouso, mas tudo ok. Cá cheguei. Direto pro hotel, a programação do dia seguinte parecia boa e acabou sendo bem melhor do que eu esperava.

Chego no FISL e montei uma apresentação baseada no manual da Rede de Formação, para falar um pouco sobre as linhas gerais, os principais desafios e como imaginamos que a rede pode criar propostas interessantes para a formação dos monitores do programa Telecentros.BR. Feito isso, fui dar uma rodada no espaço, visitar os estandes, encontrar uma boa moçada da antiga. Boas conversas de corredor e o ritmo aquecendo.

Entre na primeira palestra do dia "Educação e software livre: opções nas nuvens e nas máquinas". Um grupo de professores apresentando alguns recursos que utilizavam em salas de aula e em projetos piloto com professores. Gostei de ver uma apresentação mais detalhada sobre o software GCompris. Usei ele a alguns anos atrás, quando a gente ainda brincava com as possibilidades de softwares que uma distribuição Linux para o MetaReciclagem poderiam compor. O software avançou bastante, inclusive propondo uma espécie de linguagem de programação muito simples, na linha do Logo, que me pareceu interessante para o desenvolvimento de oficinas e projetos em ações de Telecentros. Vale a pena olhar com mais calma.

Depois, na mesma sala, veio a fala do Markun e da Daniela, sobre "Dados abertos e cultura livre". Bacana conhecer melhor o trabalho deles. Contaram o processo de criação do clone do Blog do Planalto, do Transparência hackday e alguns outros exemplos de projetos interessantes: SACSP, tr3e, georeferenciamento EJA, datagovsp.drupalgardens.com, data.gov, Open Data Catalogue (Vancouver), Apps for Democracy, Big Apps (NYC). Apresentaram algumas referências em que se basearam para pensar sobre dados abertos: blog.sunlightfoundation.org/10measurementsfortransparency e resource.org/8principles. Comentaram um pouco sobre a iniciativa do Governo de São Paulo, que depois da fase beta saiu do ar: governoaberto.sp.gov.br. Os próximos passos que estão pensando para o seu trabalho é criar uma plataforma que agregue iniciativas de dados abertos no Brasil, montar um sistema de crowdsourcing para fiscalizar obras para a Copa de 2014 e propor um programa de micro-bolsas de pesquisa na área. Conversam pela lista, que pode ser acessada em: thacker.com.br





Dando uma nova rodada no estandes, encontrei o pessoal dos Maristas, que fazem o trabalho muito legal de Robótica Livre e MetaReciclagem. Peguei um depoimento muito bacana de um oficineiro contando sobre sua influência de MetaArte no trabalho dos metarecicleiros aqui de Sampa. Biscoito fino!




Saindo da conversa, encontrei a Wanny do Ministério do Planejamento e o Global, que hoje tá trabalhando na Cobra Tecnologia. Além deles, tava a Rossana do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e fizemos uma rodada de conversa sobre a mesa que faríamos do Telecentros.BR, logo mais. Conversa boa, gostei muito da fala da Rossana sobre as questões relacionadas as áreas rurais que vão receber os telecentros. Peguei alguns depoimentos importantes dela para compor o vídeo que estamos planejamento fazer para aquecer algumas conversas no Seminário da Rede de Formação em agosto.

As 14:00, fomos para o prédio 09 e rolou a mesa Inclusão Digital e Software Livre. Pouco tempo, 1 hora, para 5 pessoas falarem e espaço para debate. Enfim, tempo muito curto, tivemos menos de 10 minutos para cada fala. Deu para destacar os principais desafios da Rede de Formação dos Telecentros: diversidade de políticas de inclusão digital, de estruturas e modelos de telecentro. Não deu tempo para abrir para debate e poder ouvir um pouco mais de outras visões para além dos representantes do programa. De qualquer forma, Rossa (MDA), eu e a Wanny (MPOG). Saímos dali e fomos almoçar. Boas conversas sobre as principais preocupações do programa. O Global me contou de algumas experiências que têm feito de forma voluntária com o Moodle, propondo uma formação orientada ao desenvolvimento de software livre. Gostei de algumas idéias dele, principalmente sobre suas preocupações com o perfil dos tutores que vão compor o projeto. Realmente, é um ponto delicado e que vale a pena muito carinho no seminário de formação.




Saindo do almoço, peguei alguns depoimentos em vídeo da Rossana, que são ouro para ampliar nossa visão do programa. Vale ver e refletir um pouco, principalmente no impacto que a chegada de bolsas têm em espaços que se regulam por uma outra lógica: podem gerar competição e desagregar movimentos. As saídas que ela propõe são interessantes.

Dali, parti dei mais uma rodada na área de estandes e encontrei o Metal, que tá trabalhando em Minas novamente e tá envolvido no projeto Cervo, do Minc. Conversamos quase uma hora e ele começou a me mostrar algumas especificações técnicas do projeto. Gostei muito do que vi e enxergo muitas possibilidades interessantes de construção de serviços de uso desses dados, principalmente nos estudo de suas relações e nas possibilidades de navegação entre elas. O Cervo tem uma arquitetura flexível para compartilhamento de acervos digitais de maneira descentralizada baseada em metadados. Tem bastante semelhança, em alguns pontos, com a estrutura de harvester das federações de bibliotecas digitais, mas são mais flexíveis e podem escalar de maneira mais livre. Vale a pena acompanhar isso e dar alguns pitacos na comunidade.

No próprio estande, encontrei o Eloir e o Alexandre, os dois dos Maristas e que são do Polo Sul, da Rede de Formação. Sentamos para conversar um pouco sobre como eles estão, as principais idéias que gostariam de ver contempladas no seminário e suas principais questões em relação ao programa. A conversa foi ótima e rendeu algumas boas e importantes ideias para o projeto. Vamos lá:
    1. precisamos nos preocupar sobre como a formação vai tratar questões operacionais e de suporte técnico ao funcionamento do telecentro. Muitos pontos podem ser resolvidos pelo próprio monitor, o que pode agilizar manter o telecentro operacional e mais máquinas a disposição dos usuários;
    2. como tornar o telecentro útil para a comunidade. Como o telecentro vai entrar nos corações e mentes das pessoas? Mapeamento da realidade local;
     3. é importante a formação ter uma parte feijão com arroz, mais conteudista. Muitos monitores vão querer isso;
    4. como vamos lidar com possíveis parceiros na produção de conteúdo para a formação? Por exemplo, se uma empresa quiser disponibilizar um conteúdo, como isso pode ser operacionalizado?
    5. conversamos muito sobre como se dará a contratação dos Tutores. A questão da remuneração dos tutores, seu modelo de contratação e  podemos fazer a formação desse tutor. O Polo Sul vai contratar 44 tutores em regime CLT. Estão pensando em encontrar alguns parceiros que possam oferecer cursos de formação extra para os tutores, como uma forma de ampliar sua motivação no projeto. Conversei com eles de propormos alguns encontros presenciais entre os tutores, quando nossa equipe vier para as formações presenciais. Gostaram bastante da idéia e sugeriram que podíamos fazer isso a cada 3 ou 4 meses, fazendo ciclos de conversas e revezamento para ir consolidando e compartilhando visões. Estão bastante preocupados em como manter o tutor motivado e como evitar o rodízio de tutores. Acham que o valor que será pago aos tutores é pouco, o que é preocupante pelo fato do tutor poder tratar o trabalho como algo secundário em suas ocupações. Acham fundamental problematizar isso no Seminário com os outros Polos. Por contratarem CLT, pensam em chamar pessoas que já passaram por seus cursos de formação, que estão envolvidos com os CRCs (Centros de Recondicionamento de Computadores) e que já têm envolvimento com inclusão digital. Acham preocupante a contratação de estagiários que não possuem nenhuma relação com projetos de telecentros.
    6. conversamos um pouco sobre o repositório de conteúdos de iniciativas de formação em inclusão digital. Na conversa, surgiu uma idéia muito interessante para criarmos um processo de moderação coletiva da sugestão de novos conteúdos. Os passos disso seriam os seguintes:
        - no site do projeto, haveria um espaço para qualquer pessoa na Internet cadastrar um material ou conteúdo qualquer que queira disponibilizar para a formação do programa Telecentros.BR;
        - esse conteúdo entraria numa fila de moderação, que seria acessível apenas por representantes dos Polos Regionais, Nacional e coordenação da Rede de Formação do MPOG;
        - essa fila de moderação funcionaria num modelo de votação, onde os Polos votariam se consideram o conteúdo adequado para ser parte da Rede de Formação. Se o conteúdo recebesse acima de X votos, ele seria disponibilizado como uma oferta "homologada" pelo programa e ficaria disponível para acesso aos monitores. Além disso, conversamos de ranquear as ofertas aprovadas pelo número de downloads dos monitores, claramente construindo um sistema de reputação e qualificação pelo uso dos monitores do programa. Adoram a idéia e acharam que isso deixaria o projeto muito mais interessante e inteligentge. Acredito realmente que construir essa fila de moderação e esse sistema de reputação de conteúdo pode funcionar como um bom fluxo para a construção de um repositório de objetos de formação extremamente interessante e potente.

Terminamos nosso ótimo papo e senti que ali aquecemos uma boa discussão para encaminhar no Seminário. Enfim, sinto que estamos começando certo. Depois, fui para uma boa conversa que estava sendo provocada pela turma da Cultura Digital do MinC - "programa de apoio ao desenvolvimento de software livre". Uma boa galera conhecida por ali e uma interessante discussão de como o MinC poderia fomentar editais que apoiassem a produção de software livre. Ali, fiquei sabendo de uma iniciativa interessante de formação que a Escola Superior de Redes estava construindo para apoiar o Suporte Técnico em salas de informatica do Proinfo. Fui atrás disso e gostei bastante do material. Uma boa referência de apoio aos monitores. Sobre a conversa do modelo de desenvolvimento, acho bem acertada a iniciativa do MinC. Sugeri que pudessem contemplar nesse edital não apenas a descentralização do modelo de desenvolvimento, mas também do modelo de testes e aprovação dos códigos entregues, além de incentivar processos de formação que ajudassem a produtores de mídias livres a transformarem suas demandas em propostas que pudessem ser mais facilmenter convertidas em demandas de desenvolvimento de software livre.

E para finalizar o dia, sentei num papo com o TC, da Casa de Cultura Tainã, que representam 80 telecentros no Telecentros.BR. Fazem parte da rede Mocambos (mocambos.net) e possuem algumas demandas muito específica de conteúdos. Um ponto que me saltou na conversa com o TC foi o fato de que vão haver iniciativas que não serão apenas regionais, ou seja, algumas iniciativas que vão ter de articular com diferentes polos regionais. Seria interessante termos isso mapeado e pensar em como articular com essas iniciativas que têm fortes influências culturais regionais, de gênero, de movimentos tradicionais da cultura popular. Seria importante conhecermos isso e conduzir uma discussão no Seminário de como contemplar essa diversidade na oferta de conteúdos do programa de formação.

Bem, para o primeiro dia rendeu um bocado de ideias e conversas. Fiquei bastante animado e empolgado com os papos por aqui e ampliei a crença de que precisamos articular cada vez mais com essas diferentes visões de inclusão digital, criando instâncias de conversa e representatividade, que amplie e dê significado a uma assinatura coletiva dessa proposta do programa de formação.

E segue o trem...

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